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Carta ao Leitor: O retrato de um crime

A estatística de avanço das milícias grita: 58,5% da capital fluminense está sob influência da bandidagem, que manda e desmanda em 2,5 milhões de pessoas

Por Da Redação Atualizado em 14 jun 2024, 11h23 - Publicado em 14 jun 2024, 06h00
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  • DOMÍNIO - Bairro na Zona Oeste do Rio de Janeiro: os bandidos usam a grilagem de terras como arma de controle contra a população, que só deseja paz para viver
    DOMÍNIO - Bairro na Zona Oeste do Rio de Janeiro: os bandidos usam a grilagem de terras como arma de controle contra a população, que só deseja paz para viver (Custódio Coimbra/Agência O Globo/.)

    A grilagem de terras é uma contrafação que remonta ao tempo do Brasil Colônia — inicialmente em áreas rurais e, com o passar do tempo, em centros urbanos. A emissão de documentos falsos que atestam a propriedade de um pedaço de chão invadido é, hoje, crime que sustenta a engrenagem das milícias, especialmente no Rio de Janeiro — e não se trata de exclusividade carioca. Dominar ilegalmente vastas áreas é um negócio rentável, atalho para construção e administração de edifícios, além do controle de todo tipo de serviço, como conexões para a fiação elétrica e emissoras de TV a cabo. A estatística de avanço das máfias milicianas grita: 58,5% do território da capital fluminense está sob influência da bandidagem, que manda e desmanda em cerca de 2,5 milhões de pessoas.

    REPORTAGEM - A carioca Sofia Cerqueira, editora de VEJA: parada e cobrada por homens armados
    REPORTAGEM - A carioca Sofia Cerqueira, editora de VEJA: parada e cobrada por homens armados (./Arquivo pessoal)

    Não por acaso, a apuração do assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, em 2018, iluminou o inaceitável descalabro. De acordo com as investigações da Polícia Federal e os depoimentos de Ronnie Lessa, o autor dos disparos, os irmãos Brazão — o deputado federal Chiquinho e o conselheiro do Tribunal de Contas do estado Domingos —, acusados de serem mandantes da emboscada, tinham interesse em um naco da Zona Oeste da cidade. Marielle, corajosa, foi contra. Ela se opôs, na Câmara Municipal, de mãos dadas com lideranças comunitárias, a um projeto de lei que propunha flexibilizar as regras de ocupação do solo e que seria tristemente aprovado. Lessa, aliás, conta ter acertado o serviço de pistoleiro em troca de generosas áreas de grilagem que lhe renderiam, com o tempo, algo em torno de 100 milhões de reais. Há, ainda, muita sombra em torno do cerco fatal a Marielle, mas parece inquestionável o envolvimento com a briga pela apropriação indevida da geografia.

    Para entender em detalhes a origem dessa história, e como o Rio de Janeiro foi ocupado pela delinquência, VEJA designou a editora Sofia Cerqueira — de vasta experiência nos meandros fluminenses. Ela circulou pela cidade, chegou a ser rechaçada de comunidades que tentava visitar, mergulhou em documentos e, a partir do material colhido, escreveu a reportagem que começa na pág. 58. “Fui parada por homens armados nas imediações do terreno que estava prometido para Lessa. Lá, são eles que dão as cartas”, conta Sofia. O trabalho é um levantamento minucioso e necessário — o retrato de uma desgraça, painel de uma decadência alimentada pela leniência das instituições e das autoridades, em inaceitável mistura entre o público e o privado, no avesso do bom senso. É urgente que novas leis e controles severos se imponham. É o único modo de não termos outros destinos trágicos como o de Marielle. É a maneira de oferecer aos cidadãos que pagam impostos aquilo que buscam: paz para viver, tranquilidade para o trabalho e diversão.

    Publicado em VEJA de 14 de junho de 2024, edição nº 2897

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