Há décadas, desde que o mundo começou a se preocupar com os destinos ambientais da Terra — em movimento iniciado nos anos 1960 —, a Amazônia brasileira tem sido alvo de apreensão. As queimadas e o desflorestamento irresponsáveis viraram termômetro ora de zelo, ora de desrespeito com a natureza, em moto contínuo. Não há símbolo global mais conhecido na lida com a sustentabilidade do que a floresta ao norte do país. Uma outra região do Brasil tida como paraíso na Terra, o Pantanal, no Centro-Oeste, contudo, apesar de sucessivos e terríveis estragos, parecia relegada a segundo plano, um tanto apartada do olhar de vigilância. Maior planície alagável do planeta, do tamanho de Portugal, Suíça, Bélgica e Holanda juntos, o bioma vinha sendo tratado como ilha de exceção — um canto da beleza ao ritmo de cheias e vazantes, biodiversidade riquíssima e atrações turísticas inigualáveis. Não, não seria tão agredida quanto a Amazônia.
Não é assim, convém lamentar. O Pantanal também virou régua de leviandade. O assoreamento dos rios, os garimpos ilegais, a caça desmedida e projetos equivocados de hidrovias mudaram a paisagem. Somem-se a esse cenário as sucessivas secas — que despontam cada vez mais cedo, antes mesmo do meio do ano — e a inépcia no controle das chamas. Eis a tempestade perfeita. Nos primeiros seis meses de 2024 houve um recorde de incêndios na série histórica, o que levou o governo de Mato Grosso do Sul a decretar situação de emergência no estado — contavam-se, até quarta-feira 26, mais de 3 260 focos de combustão. É mais do que no primeiro semestre de 2020, ano em que um terço do vasto terreno foi devastado pelo calor, com 2 446 pontos destruídos. Disse a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente: “Não sabemos o tamanho dos desdobramentos do fenômeno que temos pela frente, é a maior seca dos últimos setenta anos. O fenômeno é incomparavelmente maior do que a capacidade humana de conter esses processos”. É louvável reconhecer as dificuldades, mas fundamental movimentar os mecanismos do Estado e da iniciativa privada para estancar o desastre e sobretudo evitar dramas futuros.
Para explicar o que ocorre no Pantanal agora, de mãos dadas com a história, e o que pode ser feito por lá amanhã, VEJA destacou dois profissionais de amplo conhecimento da dinâmica daquele pedaço de chão, de sua engrenagem econômica e de seus habitantes. O repórter Ernesto Neves é o responsável pelo blog Agenda Verde, do site de VEJA. Entre 2021 e 2022, ele fez um curso de pós-graduação em gestão ambiental pela Universidade Thompson Rivers, do Canadá. A repórter Valéria França há mais de vinte anos busca especializar-se no tema. “Informar é sempre uma chance de plantar uma semente de mudança em direção a escolhas sustentáveis, o que começa com um consumo mais consciente, passa por hábitos simples, como a separação do lixo de casa, e pode chegar a escolhas políticas”, diz ela. O trabalho da dupla pode ser lido a partir da pág. 58 — é a um só tempo um painel completo, ao separar mitos de verdades, e um grito de alerta, como VEJA tem feito ao longo de sua trajetória de 55 anos de jornalismo.
Publicado em VEJA de 28 de junho de 2024, edição nº 2899