Depois de declarar que o acordo firmado essa semana entre o WhatsApp e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é “inaceitável” e “não será cumprido”, o presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou neste sábado, 16, que irá procurar os representantes do aplicativo no Brasil para reverter a situação. O presidente não aceita a decisão de que a nova ferramenta do aplicativo, que amplia o alcance de mensagens permitindo grupos com milhares de pessoas, só vá ser disponibilizada no país após o segundo turno das eleições deste ano. O recurso, na opinião de muitos especialistas, poderia amplificar o risco de disseminação de fake news e ataques virtuais durante o pleito.
“Se eles (do WhatsApp) podem fazer um acordo desses com o TSE, podem fazer comigo também, por que não? Pode fazer com você, pode fazer com qualquer um”, declarou Bolsonaro à CNN Brasil, em meio a um passeio de moto em Guarujá, no litoral paulista, onde passa o feriado de Páscoa em uma unidade militar. Ele afirmou ainda que já conversou com o ministro das Comuninações, Fábio Faria, sobre a questão com o intuito de organizar uma reunião com o comando do WhatsApp no Brasil.
A nova funcionalidade do aplicativo, chamada Comunidades, foi anunciada na última quinta-feira, mas que ela só seria disponibilizada em 2022. Com este recurso, ainda em estágio experimental, os administradores vão poder reunir diferentes grupos sob um mesmo guarda-chuva, concentrando milhares de pessoas e multiplicando exponencialmente o alcance das mensagens. Como já acontece hoje, toda a comunicação é criptografada. Atualmente, o WhatsApp só permite ter grupos de até 256 integrantes.
Na sua ofensiva contra o acordo firmado entre o aplicativo e o TSE, o presidente ainda disparou: “Essa última informação agora que o WhatsApp pode ter uma política mundial, ninguém vai reclamar. Agora, apenas para o Brasil o disparo em grupo poderá ser realizado depois das eleições? Ah, depois das eleições não vai ter mais fake news?”.
Na sexta-feira, ao participar de um passeio de moto com apoiadores em São Paulo, que foi da capital até a cidade de Americana, Bolsonaro já havia criticado o bloqueio da nova funcionalidade até o fim das eleições. O presidente havia dito que “não será cumprido” o acordo entre o aplicativo e o TSE. “E já adianto. Isso que o WhatsApp está fazendo no mundo todo, sem problema. Agora, abrir uma excepcionalidade para o Brasil, isso é inadmissível, inaceitável, e não vai ser cumprido este acordo que porventura eles realmente tenham feito com o Brasil, com informações que eu tenho até o presente momento”, enfatizou.
O acerto entre o TSE e o WhatsApp foi firmado em fevereiro no intuito de impedir a proliferação de notícias falsas e mensagens de ódio durante a eleição. A possibilidade de aumentar consideravelmente a capacidade de envio de mensagens pelo aplicativo interessa visivelmente ao presidente e seus apoiadores, que se valeram desta estratégia no pleito de 2018.