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Auditoria aponta ação de políticos e partidos na Caixa

Investigação lista ao menos quatro vice-presidências do banco em que houve influência política; ao todo, onze dos doze executivos foram apadrinhados

Por Estadão Conteúdo Atualizado em 4 jun 2024, 17h35 - Publicado em 16 jan 2018, 10h08

Investigação independente contratada pela Caixa sugere influência política no banco em ao menos quatro vice-presidências. O documento foi produzido pelo escritório de advocacia Pinheiro Neto e será anexado aos processos relacionados ao banco para reforçar as denúncias contra políticos e ex-funcionários que atuariam em favor de grandes empresas.

Nesta segunda-feira (15), a Procuradoria da República do Distrito Federal entregou à 10ª Vara Federal em Brasília as alegações finais no processo sobre desvios na vice-presidência de Fundos de Governo e Loterias, responsável pelo fundo de investimento do FGTS (FI-FGTS). O caso teve origem na operação Sépsis, que prendeu o corretor Lúcio Bolonha Funaro, apontado como operador do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e do PMDB da Câmara.

O documento produzido pelo Pinheiro Neto é o mesmo cujo conteúdo embasou a recomendação do Ministério Público Federal (MPF) para que a Caixa substitua os seus doze vice-presidentes e contrate uma empresa de recrutamento para selecionar os executivos. O banco rejeitou a sugestão.

A solicitação foi encaminhada à Caixa e ao ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha (PMDB), em dezembro. Na negativa, o banco afirmou ter um “sistema de governança adequado à Lei das Estatais, fazendo com que a maior parte das recomendações já estejam implementadas, em implementação ou em processo de estudo pelas suas instâncias decisórias, antes mesmo de qualquer manifestação do MPF”.

A Caixa é alvo das operações Sépsis, que apura desvios no FI-FGTS; Cui Bono?, sobre desvios em liberações de créditos a grandes empresas; e Patmos, que investiga desvios praticados pelo ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) e por Fábio Cleto, ex-vice-presidente de Fundos e Loterias. Personagens políticos, como Cunha e o também ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), estão presos por causa dessas operações.

No documento encaminhado à Caixa, os procuradores apontaram supostas irregularidades que teriam sido mapeadas pela investigação do escritório Pinheiro Neto contra ao menos quatro vice-presidentes do banco: vazamento de informações privilegiadas para políticos sobre andamento de pedidos de empréstimos; negociação de cargo em estatal como moeda de troca para liberação de crédito; e pedidos para atender a “demandas” de políticos como garantia para a manutenção da vaga de vice-presidente.

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Onze dos atuais doze vice-presidentes foram indicados por sete partidos: PMDB, PSDB, DEM, PR, PRB, PP e PSB. Quando ainda era interino, o presidente Michel Temer (PMDB) anunciou que barraria o aparelhamento político nas estatais e fundos de pensão. Ele suspendeu as nomeações com o argumento de que só seria nomeado “pessoal com alta qualificação técnica”.

Vice-presidentes

O vice-presidente Corporativo, Antônio Carlos Ferreira (PRB), afirmou que Eduardo Cunha o procurou para colocar três condições para sua manutenção no cargo: demitir o então diretor Hermínio Basso, prestar contas sobre sua atuação e informar ao peemedebista todas as operações da Caixa acima de 50 milhões de reais.

A atual vice-presidente de Fundos e Loterias, Deusdina dos Reis Pereira (PR), negociou sua nomeação para um cargo no conselho de administração da Cemig, a companhia energética de Minas Gerais, em e-mails “mediante insinuação”, segundo o relatório, de trocas de interesse em operação da companhia no banco.

O vice-presidente de Clientes, Negócios e Transferência Digital, José Henrique Marques da Cruz (PP), mantinha relações próximas com Geddel e Cunha, em operações envolvendo as empresas Marfrig/Seara e J&F. Eles esperavam sinalização de pagamento da J&F em razão de operação do conglomerado.

Já o vice-presidente de Governo, Roberto de Sant’Anna (PMDB), aparece no documento como intermediador de interesses do empresário Henrique Constantino na Caixa, a partir de mensagens trocadas entre os peemedebistas. O empresário Joesley Batista afirmou saber que Sant’Anna está envolvimento em “recebimento de pagamentos indevidos”.

Por meio da assessoria de imprensa, a Caixa informou que “não concorda com as interpretações que vem sendo dadas às conclusões do relatório do escritório Pinheiro Neto, elaborado a pedido da própria Caixa. Tais interpretações vem gerando percepções equivocadas em relação ao banco e alguns dirigentes”. O ministro Moreira Franco (PMDB) e o ex-ministro Marcos Pereira (PRB) negaram que tenham influência na Caixa. As defesas de Eduardo Cunha e Geddel Vieira Lima não se manifestaram.

Diretoria da Caixa

Presidente: Gilberto Occhi – PP

Vice-presidente de Negócios, Clientes e Transferência Digital: José Henrique Marques da Cruz – PP
Vice-presidente de Tecnologia da Informação: José Antônio Eirado Neto – PSB
Vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias: Deusdina dos Reis Pereira – PR
Vice-presidente de Gestão de Pessoas: Marcos Fernando F. dos Santos Jacinto – PMDB
Vice-presidente de Varejo: Fábio Lenza – PMDB
Vice-presidente corporativo: Antônio Carlos Ferreira – PRB
Vice-presidente de Governo: Roberto Derziê de Sant’Anna – PMDB
Vice-presidente de Habitação: Nelson Antônio de Souza – PP
Vice-presidente de Logística: Marcelo C. Prata – PMDB
Vice-presidente de Riscos: Paulo Henrique A. Souza – DEM
Vice-presidente de Finanças e Controladoria: Arno Meyer – PSDB
Vice-presidente de Administração e Gestão de Ativos de Terceiros: Flávio Eduardo Arakaki – nome técnico

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