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Áudios apontam repasses de R$ 1,8 milhão da Odebrecht a Paulinho da Força

As quatro entregas de dinheiro teriam sido destinadas a chefe de gabinete do deputado federal

Por Estadão Conteúdo Atualizado em 2 jun 2019, 18h36 - Publicado em 2 jun 2019, 15h04
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  • Conversas de Skype registradas pela transportadora de valores usada pela Odebrecht para efetuar pagamentos ilícitos em São Paulo indicam quatro entregas de dinheiro no valor total de 1,8 milhão de reais para o chefe de gabinete do deputado federal Paulo Pereira da Silva (SD-SP), o Paulinho da Força. Segundo as mensagens, os repasses foram feitos entre agosto e setembro de 2014 para Marcelo de Lima Cavalcanti na sede da Força Sindical, presidida por Paulinho até 2018.

    Os diálogos obtidos pelo Estado foram entregues à Polícia Federal por um ex-funcionário da Transnacional, empresa contratada pelo doleiro Álvaro José Novis para fazer entregas de dinheiro a serviço da Odebrecht. As mensagens apontam três pagamentos de 500.000 reais com as senhas “ford”, “volkswagen” e “chevrolet” e um de 300.000 reis com a palavra-chave “pandeiro” – todos destinados a Cavalcanti no 11.º andar da Rua Rocha Pombo, 94, prédio da Força Sindical, no bairro da Liberdade, centro da capital paulista.

    A soma dos valores apontados no arquivo é quase o dobro do que a empreiteira afirmou ter pago a Paulinho em 2014 no acordo de colaboração firmado com o Ministério Público Federal (MPF). Em depoimento prestado em dezembro de 2016, Fernando Reis, ex-presidente da Odebrecht Ambiental, disse que durante encontro em um café próximo ao prédio da Força Sindical, o deputado pediu doação em caixa 2 para a campanha dele à reeleição. “Acertamos 1 milhão de reais de contribuição.”

    O ex-executivo relatou que o repasse foi feito em duas parcelas e estava vinculado ao apoio político de Paulinho à empresa em uma greve ocorrida na Embraport, empresa que era do grupo, no Porto de Santos, em novembro de 2013, e da invasão da sede da Odebrecht por integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) em maio de 2014, em protestos contra a Copa do Mundo.

    “Esse pagamento tinha como objetivo que a gente mantivesse com ele uma relação boa e, através dele, quase que uma tutoria para a gente saber lidar melhor com os movimentos sindicais e centrais sindicais”, disse Reis em depoimento prestado no dia 13 de dezembro de 2016 ao MPF. Segundo ele, a Odebrecht já contribuía legalmente com 100.000 reais todo ano para a realização da festa de 1.º de Maio organizada pela Força.

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    Segundo planilha da Odebrecht anexada ao acordo de colaboração, dois pagamentos de 500.000 reais foram feitos nos dias 4 e 11 de setembro de 2014 com as senhas “volkswagen” e “chevrolet”, respectivamente. A delação é parte de um inquérito que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) sob relatoria do ministro Luís Roberto Barroso. Em fevereiro, ele prorrogou a investigação por mais 60 dias.

    As conversas de Skype trocadas entre funcionários da transportadora indicam, no entanto, que outros dois pagamentos teriam sido feitos ao chefe de gabinete de Paulinho na sede da Força Sindical. Um de 500.000 reais no dia 22 de agosto, com a senha “ford”, e outro de 300.000 reais em 16 de setembro, com a senha “pandeiro”. Neste, inclusive, há uma ligação gravada entre um operador do doleiro da Odebrecht chamado Márcio Amaral e o assessor do deputado.

    No áudio, obtido pelo jornal O Estado de São Paulo, Amaral avisa a Marcelo Cavalcanti que “meu pessoal vai entregar uma documentação para você”, e pede para que o assessor de Paulinho aguarde para receber a “encomenda”. “Tô no aguardo”, respondeu o chefe de gabinete.

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    Defesas. Deputado federal pelo quarto mandato, Paulinho é alvo de ao menos outros dois inquéritos no STF. O advogado Eduardo Toledo afirmou que ainda não teve acesso às conversas de Skype nem áudio relacionado ao deputado, mas que ele “tem dito que não recebeu doação ilegal para campanha eleitoral e nenhum outro recurso ilegal da Odebrecht”. Segundo Toledo, a Odebrecht “tem tido sérias dificuldades de comprovar fatos que ela delatou”.

    Procurado, Marcelo Cavalcanti não quis se manifestar. A Odebrecht disse que “tem colaborado de forma eficaz com as autoridades em busca do pleno esclarecimento dos fatos narrados pela empresa e seus ex-executivos”.

    Planilha de transportadora mostra R$ 500 mil da Odebrecht para Kátia Abreu

    Registros da transportadora de valores usada pela Odebrecht indicam dois pagamentos de 250.000 reais cada feitos em hotéis de São Paulo a codinome dado por executivos da empreiteira à senadora Kátia Abreu (PDT-TO). Segundo a planilha, os pagamentos foram feitos nos dias 3 e 9 de outubro de 2014 com as senhas “bigode” e “volante” a uma pessoa chamada Álvaro. As datas, valores e senhas são as mesmas que aparecem nas planilhas do doleiro Álvaro José Novis e da Odebrecht relacionados ao codinome “Machado”, atribuído à senadora.

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    O suposto caixa 2 de 500.000 reais pago a Kátia Abreu foi delatado pelos ex-executivos da Odebrecht Cláudio Melo, Fernando Reis e Mário Amaro, em acordo de colaboração fechado com o Ministério Público Federal. Segundo eles, os repasses foram negociados com o marido de Kátia, Moisés Pinto Gomes, porque a Odebrecht tinha a concessionária de água e esgoto de Tocantins e “era importante manter uma boa relação com a senadora”.

    A planilha da transportadora, obtida pelo Estado, foi entregue em dezembro de 2017 à Polícia Federal por um ex-gerente da Transnacional, contratada por Novis para efetuar os pagamentos ilícitos da Odebrecht. Nos registros, constam ao menos 187 supostos pagamentos da Odebrecht a 57 codinomes de políticos, agentes públicos e marqueteiros, que somam 97,5 milhões de reais.

    O arquivo, que é mantido sob sigilo pelo Supremo Tribunal Federal, revela nomes dos intermediários que teriam recebido o dinheiro e endereços de entrega. No caso vinculado ao codinome atribuído a Kátia Abreu, os pagamentos teriam sido feitos em dois hotéis, no Itaim Bibi e na Vila Olímpia, em São Paulo.

    Em nota, a senadora ressalta que o inquérito sobre o suposto repasse foi arquivado “sem que quaisquer elementos de prova tenham sido apresentados à Justiça” e que “desconhece” o Álvaro citado na planilha da transportadora. O arquivamento foi decidido em setembro passado pela Segunda Turma do STF.

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