Atos contra Bolsonaro tomam as ruas de várias capitais do país
O descaso frente à pandemia e o atraso na vacinação estão entre as principais críticas dos manifestantes que pedem o impeachment do presidente
Com a crítica ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em relação ao enfrentamento à pandemia como pauta principal e em resposta aos atos a favor do governo realizados nos últimos fins de semana, protestos estão acontecendo neste sábado, 29, em todo o país. Até o meio da tarde, manifestantes de mais de 80 cidades em 24 estados já tinham tomado às ruas com faixas e cartazes com palavras de ordem como “Vacina Já”, “Fora Bolsonaro” e “Impeachment Já”. Vários dizeres também faziam questão de lembrar que o Brasil já contabiliza quase meio milhão de mortos em decorrência da Covid-19.
Em Brasília, a manifestação se concentrou pela manhã, às 9h, próximo ao Museu Nacional da República e desceu pela Esplanada dos Ministérios, ocupando todas as seis faixas da via. Um grande boneco inflável de Bolsonaro, caracterizado com o bigode ao estilo de Adolf Hitler e com as mãos sujas de sangue, chamava a atenção. Durante o protesto, os participantes, além de criticarem o governo federal e pedirem pela aceleração do ritmo de vacinação no país, ampliaram as reivindicações: saíram em defesa do auxílio emergencial, da valorização da educação e do Sistema Único de Saúde (SUS), além de repudiarem à violência contra os povos indígenas.
No Distrito Federal, os protestos tiveram o apoio de representantes da União Nacional dos Estudantes (UNE), do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), do Andes (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior), entre outros. Embora tenha reunido milhares de pessoas, a Polícia Militar informou que não calculou um número oficial de participantes. “O ato de foi feito por pura necessidade, porque nós temos um governo que está promovendo o genocídio no nosso país. Está matando de Covid, ao ter recusado mais de 10 ofertas de vacina. Está matando de fome, porque instituiu um auxílio emergencial totalmente insuficiente”, argumenta Bruno Zaidan, coordenador do DCE (Diretório Central dos Estudantes) da UNB (Universidade de Brasília) e um dos organizadores do ato em Brasília.
Além de Brasília, os protestos atingiram cidades em todas as regiões do país. Os maiores atos de repúdio à Bolsonaro aconteceram em capitais como Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Florianópolis (SC), Belém (PA), João Pessoa (PB), Brasília (DF), Salvador (BA), Aracaju (SE), Maceió (AL), Teresina (PI), Recife (PE), Palmas (TO), Porto Velho (RO) e São Luís (MA). Assim como no Distrito Federal, que teve o presidente como alvo central, as manifestações espalhadas pelo país abarcaram várias reivindicações sociais. Em vários locais havia faixas contra as privatizações da Eletrobras e dos Correios e cartazes pedindo solução para crimes como o do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), ocorrido em março de 2018 no Rio de Janeiro e até hoje sem um desfecho.
Na capital fluminense, o desgaste do presidente reforçado na CPI da Covid no Senado e a resposta às mobilizações bolsonaristas recentes ficaram evidentes. Os manifestantes se concentraram, às 10h, no Monumento a Zumbi dos Palmares, na Avenida Presidente Vargas, no Centro da Cidade, e seguiram em passeata até o Largo da Carioca. Entre as muitas palavras de ordem, os participantes entoaram gritos como “Bolsonaro Genocida”. Em várias camisetas e cartazes, uma frase personificava as críticas às políticas do governo federal: “Cemitério cheio, geladeira vazia”.
Em Belo Horizonte, o protesto começou ainda cedo, por volta das 9h, quando bandeiras de movimentos populares começaram a ser erguidos e o público começou a se movimentar na Praça da Liberdade. Manifestantes também gritavam expressões contra o presidente e contra o prefeito Alexandre Kalil (PSD), que disse que poderia cortar o salário dos professores que entrassem em greve. Estavam presentes partidários do PT, PSOL, PCdoB, entre outros. Em São Paulo, a manifestação está marcada para acontecer, às 16h, na Avenida Paulista.
Em Recife, o protesto terminou com tiros de balas de borracha, bombas de gás lacrimogênio e muita correria. Segundo informações dos organizadores, tudo corria de forma pacífica e com um certo distanciamento entre as pessoas, quando os manifestantes foram surpreendidos por policiais da tropa de choque da PM bloqueando a rua, no final do percurso. Os participantes teriam parado a 200 metros da guarnição e, ainda assim, os policiais teriam começado os ataques e gerado correria e pânico. Entre as vítimas está a vereadora Liana Cirne (PT), atacada com gás de pimenta enquanto tentava negociar com a PM. Ela precisou ser socorrida.
À tarde, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), anunciou que o comandante e os policiais militares que participaram da agressão à vereadora foram afastados de suas funções e serão investigados. A agressão ocorreu no Centro de Recife, na ponte Santa Isabel, que fica no bairro de Santo Antônio.
A convocação e a organização dos atos de hoje ficaram a cargo de entidades como Frentes Povo Sem Medo, Frente Brasil Popular, o Povo na Rua, acompanhadas do Fórum pelos Direitos & Liberdades Democráticas. Em vários pontos, estão sendo empunhadas bandeiras de partidos de esquerda (PT, PSOL, PCdoB e PSTU), e de vários movimentos estudantis e sindicalistas ligados às universidades públicas. Organizações trabalhistas como a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) estão encorpando os atos. Foi feito um apelo para que os manifestantes usassem máscaras – o que vem sendo seguido pela maioria. Em alguns locais chegaram até a ser distribuídos protetores faciais e álcool em gel, mas as regras de distanciamento social foram descumpridas em vários pontos também.