Um protesto de estudantes e trabalhadores da Universidade de São Paulo (USP) contra um pacote com medidas de reestruturação proposto pelo reitor Marco Antonio Zago terminou em confronto com a tropa de choque da Polícia Militar, que usou bombas dentro do campus, no Butantã, zona norte de São Paulo.
A manifestação, convocada pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE Livre) e pelo Sindicato de Trabalhadores da USP (Sintusp), ocorreu pouco antes da reunião do Conselho Universitário (CO), órgão máximo da instituição, que votaria os Parâmetros de Sustentabilidade Econômica-Financeira – nome do pacote que projeta um reequilíbrio financeiro da instituição, batizado ironicamente pelos alunos e trabalhadores de “PEC do Fim da USP”.
O apelido do pacote é uma brincadeira com a PEC 241, que ficou conhecida como PEC do Fim do Mundo, que limita os gastos da União, aprovado pelo Senado no dia 1º de dezembro de 2016. “Esse pacote é o ponto final de uma gestão marcada pela antidemocracia e pela destruição da USP: ataque e perda dos espaços estudantis e do sindicato, demissão de funcionários e perda de salário, fim da eleição democrática para representação discente, cortes em permanência e pesquisa, fechamento da creche, acobertamento de violência machista no campus e, agora, um pacote de premissas para conter gastos às custas da precarização do ensino, da pesquisa e da extensão”, escreveu o Sintusp na convocação do ato.
De acordo com a USP, “a universidade atende a uma exigência de seu estatuto, que prevê que parâmetros de sustentabilidade [econômico-financeira] devem ser propostos pela Comissão de Orçamento e Patrimônio (COP), aprovados pelo Conselho Universitário e ter sua observância acompanhada pela Controladoria-Geral”. Em 2016, de acordo com a universidade, “ao deliberar sobre as diretrizes orçamentárias, o CO determinou que, em 2017, esses parâmetros fossem efetivamente adotados”.
O reitor da USP é acusado pelo Sintusp de não dialogar com os estudantes e funcionários. A USP respondeu em seu site dez perguntas frequentes dos alunos sobre o tema – leia neste link.
Em vídeo publicado na IPTV USP, o reitor disse que, de alguma forma, todos sentiram a crise na USP. “Tomamos medidas muito amargas nos últimos três anos: suspensão de contratações, dispensas de mais de 3.500 de nossos servidores, cortes de investimentos, diminuição do custeio para as unidades e revisões de contratos. Fizemos isso sem perder qualidade”, afirmou.
Protesto e greve
De dentro do Conselho Universitário, Daniel Torres Guinezi, representante dos alunos do CO, relatou ao site de VEJA que, quando chegou para a votação, às 14h, havia uma grande mobilização no local. “Nesse momento, a maioria dos conselheiros se dispersou e, naquela hora, não deixaram claro se teria ou não a sessão. A Polícia Militar foi chamada para dispersar a mobilização, o que aconteceu de forma violenta. Só assim os conselheiros puderam entrar. Pouco depois das 16h, deu-se início às conversas. Até o momento (início da noite), a votação não começou.” Guinezi acredita que a medida deve ser aprovada. “Se isso acontecer, é possível que o Sintusp engrosse a luta contra a medida, devendo convocar greves.”
O DCE Livre, entidade que representa estudantes da USP, publicou em sua página no Facebook o momento em que a Tropa de Choque usou bombas de efeito moral para dispersar os manifestantes.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que equipes da PM acompanhavam o ato, que havia sido previamente notificado, “quando foram arremessadas pedras e paus nos soldados que realizavam o policiamento”. De acordo com a pasta, foi necessária a intervenção e quatro pessoas foram detidas e encaminhadas ao 93º Distrito Policial, no Jaguaré (zona oeste). Quatro policiais ficaram feridos. A secretaria diz que foram apreendidos rojões.