A Polícia Civil de Minas Gerais disse que o ataque do vigia Damião Soares dos Santos, de 50 anos, ao Centro Municipal de Educação Infantil Gente Inocente, em Janaúba, norte do estado, que deixou quatro crianças mortas e ao menos 19 feridos graves – todos queimados -, foi planejado, com a preparação de material inflamável e até a escolha da data.
Buscas feitas pela polícia na casa dele encontraram galões com combustível, mesmo material que foi levado por ele em um recipiente escondido dentro de uma mochila que portava ao entrar na creche. O dia escolhido, ainda segundo a polícia, também foi simbólico: três anos da morte do pai dele, um trauma que nunca teria sido superado.
Segundo a prefeitura, Santos, que também morreu queimado (após atear fogo às crianças, fez o mesmo com si próprio), estava de férias em julho e agosto. Quando deveria voltar ao trabalho, em setembro, apresentou um atestado dizendo que estava com problemas de saúde. Nesta quinta-feira, ele foi à creche alegando, segundo funcionários, que iria entregar um novo atestado médico para ficar afastado por mais tempo.
Ele estava no emprego desde 2008, de acordo com a prefeitura. Ao Jornal Nacional, o delegado responsável pelo caso, Bruno Fernandes, disse que a hipótese de que o autor do ataque sofria de algum transtorno mental está sendo investigada, mas que ainda não é possível afirmar isso. De manhã, o Corpo de Bombeiros local havia informado que ele tinha problemas mentais.
O ataque
Ao entrar na creche, o autor do ataque, segundo a polícia, tirou a garrafa com o material combustível da mochila e jogou sobre algumas crianças que estavam em uma sala de recreação. Em seguida se banhou com o material também e atirou fogo.
Segundo o Instituto Médico Legal (IML), todas as crianças mortas tinham quatro anos de idade. São elas: Juan Pablo Cruz dos Santos, Luiz Davi Carlos Rodrigues, Ruan Miguel Soares Silva e Ana Clara Ferreira Silva. Ao lado da sala em que estavam, havia um berçário, com crianças com idades menores e que tiveram que ser retiradas às pressas pelos funcionários.
Os feridos estão sendo levados para hospitais de Monte Claros, a maior cidade da região (a 136 km) e, os mais graves, para Belo Horizonte (560 km de Janaúba). Dos 19 feridos, há ao menos oito em estado muito delicado, com queimaduras que chegam a 80% do corpo – um desses casos é o da professora Heley de Abreu Silva, que chegou a ser dada como morta durante o dia.
Mobilização
Moradores de Janaúba estão se mobilizando para ajudar tanto os hospitais – principalmente com doação de sangue e produtos médicos – quanto com apoio humanitário (abrigo, alimentação, banho etc) às famílias das crianças que estavam na creche, principalmente as que ainda correm algum risco de vida. Os hospitais estão pedindo, além de sangue, a doação de materiais como seringas, agulhas, kits venosos, soro fisiológico e medicamentos.
“A psicóloga da prefeitura me ligou e avisou que pelo menos uma mãe de uma das crianças já vai vir aqui para casa”, disse a cozinheira Edisa Rosa de Andrade, de 40 anos, uma das voluntárias. “As pessoas estão começando a chegar aqui. Minha casa fica a 10 minutos de distância da Santa Casa. Quando soubemos da tragédia, a gente se ofereceu para dar alguma ajuda para quem vier acompanhar os filhos”, disse a cozinheira ao jornal O Estado de S. Paulo.
Repercussão internacional
A imprensa internacional repercutiu o ataque à creche. A rede inglesa BBC destacou as mortes e vídeos que mostram as cenas de caos na área do entorno da creche, além do atendimento aos feridos. Lembra ainda que o caso mobilizou até o presidente Michel Temer (PMDB), que fez uma publicação em seu Twitter lamentando o ocorrido. “Eu, que sou pai, imagino que esta deve ser uma perda muitíssimo dolorosa”, disse.
O jornal norte-americano The New York Times relata brevemente a situação, dando destaque para o fato de o homem ser funcionário do local há nove anos e que os motivos do ataque não foram esclarecidos. O jornal argentino La Crónica destaca que as crianças morreram após um homem ter “enlouquecido” e colocado fogo em uma creche. Também destaca que os motivos não estão claros.
O Unicef, fundo da Organização das Nações Unidas (ONU) para questões ligadas à infância e à adolescência, também lamentou a tragédia por meio de seu escritório no Brasil.
(Com Reuters, Agência Brasil e Estadão Conteúdo)