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As revelações de Antonio Palocci, o homem da grana

Ex-ministro era o virtual candidato à sucessão de Lula. Se tudo o que disse é verdadeiro, imagine o que seria o Brasil hoje se o projeto petista vingasse

Por Robson Bonin Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 16h06 - Publicado em 16 ago 2019, 06h45

Antonio Palocci era considerado a melhor opção do ex-presidente Lula para suceder-lhe no Palácio do Planalto — até um caseiro revelar, em 2006, que o ex-ministro da Fazenda também frequentava animadas festas promovidas por amigos lobistas em Brasília. O poderoso comandante da economia perdeu o emprego. Perto do que se sabe hoje sobre as atividades que ele exercia nos bastidores, frequentar uma mansão repleta de “celebridades” femininas era o menor dos problemas. Palocci era muito mais que um baladeiro descuidado. No poder — e também fora dele —, funcionava como uma máquina de captar propina para si, para o PT e para os companheiros de partido. Preso pela Operação Lava-Jato em 2016, o ex-ministro fez um acordo de delação premiada. Em troca de redução da pena, revelou segredos que guardou nos catorze anos de governo petista. VEJA teve acesso a um documento sigiloso do Supremo Tribunal Federal (STF), assinado pelo ministro Edson Fachin, que resume o conteúdo da colaboração. Em 23 capítulos (os chamados anexos), o material, entre várias revelações, sugere uma simbiose de importantes setores do empresariado nacional com o projeto de poder do PT.

Muitos dos temas de que o ex-ministro tratou em sua delação já haviam sido divulgados. Em 2017, por exemplo, VEJA revelou um dos capítulos mais surpreendentes. Palocci disse que entregava maços de dinheiro nas mãos do ex-presidente Lula. “Eram pacotes de 30 000, 40 000, 50 000 reais”, afirmou o ex-ministro. Em outra reportagem, mais uma história surpreendente envolvendo o ex-presidente. Segundo Palocci, a campanha de Lula, em 2002, contou com uma linha de financiamento secreto do exterior — no caso, o governo da Líbia, na época comandado pelo ditador Muamar Kadafi. No acordo de delação, o ex-ministro se comprometeu a apresentar provas das entregas de propina a Lula e detalhes de como 1 milhão de dólares (aproximadamente 3,5 milhões de reais) líbios chegaram aos cofres do PT. Aliás, só para o PT e seus filiados, Palocci garante ter recolhido nada menos que 270 milhões de reais entre 2002 e 2014. Além de Lula, compartilharam da propina a atual presidente do partido, deputada Gleisi Hoffmann, os ex-governadores Fernando Pimentel (MG) e Tião Viana (AC) e o ex-senador Lindbergh Farias.

O documento sigiloso do STF foi divulgado na quarta-feira passada pela coluna Radar, no site de VEJA:

Somando tudo o que Palocci garante ter arrecadado e repassado aos parceiros, chega-se à impressionante cifra de 330 milhões de reais. O esquema, como um todo, não foge muito àquilo que a Operação Lava-Jato desvendou. Empresas e bancos procuravam o ex­-ministro ou eram procurados por ele. Um lado buscava facilidades no governo — um empréstimo camarada, uma portaria sob medida etc. O outro buscava dinheiro para financiar as campanhas do partido e a boa vida de alguns de seus dirigentes. A fusão de interesses ocorria de várias maneiras. Em um caso contado pelo ex-ministro, por exemplo, uma grande companhia que gerencia planos de saúde deu dinheiro ao PT, ao Instituto Lula e também à Touchdown, consultoria que pertencia a Luis Cláudio da Silva, o filho caçula do ex-presidente. Em contrapartida, o governo editou medidas que beneficiavam a companhia. Ao todo, Palocci citou dezesseis empresas e instituições financeiras como participantes do esquema.

LULA E KADAFI – Em 2017, VEJA revelou parte do conteúdo da delação do ex-ministro, que tem 23 capítulos
LULA E KADAFI – Em 2017, VEJA revelou parte do conteúdo da delação do ex-ministro, que tem 23 capítulos (Arte/VEJA)

Apesar da dimensão das revelações, a colaboração do ex-ministro ficou emperrada por um ano. Os procuradores da força-tarefa da Lava-­Jato em Curitiba eram contrários ao acordo. Argumentavam que os fatos novos apresentados careciam de comprovação. Pela sua inconsistência, o procurador Carlos Fernando dos Santos chegou a chamá-la de delação “do fim da picada”, referência à delação do fim do mundo, feita pela Odebrecht. Essa também era a avaliação do então juiz Sergio Moro. Diálogos entre integrantes da força-tarefa divulgados pelo site The Intercept Brasil mostram o procurador Paulo Roberto Galvão comentando a delação de Palocci com colegas. “Russo (apelido de Moro) comentou que embora seja difícil provar ele (Palocci) é o único que quebrou a omertá petista”, disse Galvão em 25 de setembro de 2018. “Não só é difícil provar como é impossível extrair algo da delação dele”, escreveu a procuradora Laura Tessler.

Rejeitada pela Lava-Jato, a defesa do ex-ministro fechou o acordo com a Polícia Federal, já homologado pela Justiça, que envolve no esquema doze políticos, entre ex-ministros de Estado, parlamentares, ex-parlamentares e dois ex-presidentes da República. Um é Lula. O outro é Dilma. Palocci, que foi coordenador de campanha da presidente e, depois, seu ministro da Casa Civil, conta em um dos capítulos que várias medidas foram editadas no governo Dilma para atender empresários. Os benefícios iam da redução de tributos para determinados setores à facilitação de fusões. Empréstimos do BNDES também entraram no rol de facilidades à disposição de alguns poucos, que recompensavam a quadrilha com volumosas contribuições para as campanhas petistas.

Sem provas concretas, mas com revelações impressionantes, a investigação ainda está longe de terminar. Por determinação de Fachin, 22 dos 23 anexos de Palocci foram enviados a outras jurisdições — São Paulo (onze anexos), Distrito Federal (cinco), Paraná (cinco) e Rio de Janeiro (um). Em seu despacho, o ministro destacou “a necessidade de adoção de diligências” para apurar a “narrativa de fatos criminosos ocorridos em locais e datas distintas”. Trata-­se de uma longa novela, mas daquelas que vale a pena acompanhar.

Publicado em VEJA de 21 de agosto de 2019, edição nº 2648

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