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Armadilha na rede: cresce na internet o golpe da falsa vaga de emprego

Em tempos de alta ansiedade no mercado de trabalho, empresas fajutas atraem cada vez mais gente à base de falsas promessas

Por Duda Monteiro de Barros, Ricardo Ferraz Atualizado em 4 jun 2024, 13h38 - Publicado em 2 out 2021, 08h00
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  • Em um país com quase 15 milhões de desempregados, a promessa de colocação garantida no mercado de trabalho, por mais irrealista que soe, se torna quase irresistível. É justamente se valendo do desespero, da ansiedade e da boa-fé de quem precisa encontrar uma vaga que agências inescrupulosas, a maioria sem registro formal, praticam um golpe tão antigo quanto eficiente: oferecem uma posição desde que, antes, o candidato pague por cursos e apostilas — sendo que a vaga não existe e o material adqui­rido não tem valor algum.

    O golpe costuma ganhar força renovada nos tempos de desocupação em alta, e agora não é diferente, com um fator que amplia consideravelmente o número de vítimas: o terreno fértil das redes sociais. A reportagem de VEJA navegou durante semanas por dezenas de páginas da internet, passando-se por candidato em busca de emprego, e pôde constatar a intensa atuação dessas quadrilhas para arrancar dinheiro principalmente de jovens à procura de uma primeira oportunidade.

    SÓ NO PREJUÍZO - Na caça por trabalho, a estudante de biblioteconomia Ana Clara Florêncio, 22 anos, chegou a fazer curso e aulas pagas atraída pela garantia — nunca concretizada — de uma boa colocação. “Eles te pegam aflita e desprevenida”, desabafa. -
    SÓ NO PREJUÍZO – Na caça por trabalho, a estudante de biblioteconomia Ana Clara Florêncio, 22 anos, chegou a fazer curso e aulas pagas atraída pela garantia — nunca concretizada — de uma boa colocação. “Eles te pegam aflita e desprevenida”, desabafa. – (Alex Ferro/.)

    A maior parte das ofertas-fantasma localizadas por VEJA encontra-­se em fóruns virtuais do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Fortaleza, Rio Grande do Sul e Distrito Federal. O trambique é simples. A pessoa se candidata a uma vaga oferecida na internet. Faz um cadastro — que sempre inclui seu número de celular — ou entra em contato via aplicativo de mensagem. Em questão de minutos recebe resposta envolta em esperança, dizendo que seu perfil se encaixa perfeitamente e a aprovação é certa, mas resta um detalhe: ela precisará de um certificado, obtido após a conclusão de um curso rápido de capacitação. Mensagens em áudio de um “supervisor” da falsa agência reforçam as chances do candidato, incentivando que siga adiante: “É impossível a pessoa ficar desempregada”, garante o larápio, obviamente sem nome nem rosto. No caso, o curso fajuto, on-line, de apenas um dia e sem registro no Ministério da Educação, rende uma certificação sem nenhuma credibilidade — e zero vaga. “Gastei 70 reais e recebi uma apostila de 67 páginas. Fiz uma prova pelo WhatsApp, recebi um certificado de 55 horas de estudo e não consegui colocação nenhuma, só promessas de empregos falsos”, relata uma vítima, a gaúcha Stefani Eduarda, 20 anos.

    Entre os sites mais ativos nas redes sociais estão o Formação Inicial, o Educação Nacional e o Movic Treinamentos. Em comum, todos os três cobram 250 reais pelas “aulas”, exibem desenho parecido e a chave do Pix para pagamento utilizada em suas vendas é o e-mail de um tal Landoaldo Pereira Dias, dono da plataforma Start Vip, central de cursos de formação que também oferece franquias do negócio a partir de 10 000 reais. Dias, com quem VEJA não conseguiu contato, esteve envolvido em um processo por estelionato no Tribunal de Justiça de São Paulo, mas acabou absolvido por falta de provas. A estudante de enfermagem Hevilly Thairiny, 25 anos, foi fisgada em um anúncio desses no Facebook. Achou o áudio que lhe mandaram forçado, o site, estranho, e isso lhe acendeu o sinal vermelho. Ela recuou. “Estou desesperada atrás de emprego, mas, por sorte, percebi a tempo que se tratava de um golpe”, diz a mineira que, só nas primeiras semanas de setembro, recebeu dez propostas similares via rede social. Em nota, o Facebook informou que “vagas de emprego falsas ou enganosas não são permitidas e pedimos que nossa comunidade denuncie esses conteúdos imediatamente”.

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    ELA SE SAFOU - A estudante de enfermagem Hevilly Thairiny, 25 anos, percebeu a tempo que estava prestes a se enredar em um anúncio falso de emprego. “Depois dele, me mandaram mais dez muito parecidos, todos via rede social”, conta -
    ELA SE SAFOU – A estudante de enfermagem Hevilly Thairiny, 25 anos, percebeu a tempo que estava prestes a se enredar em um anúncio falso de emprego. “Depois dele, me mandaram mais dez muito parecidos, todos via rede social”, conta – (Marcus Desimoni/NITRO/.)

    As quadrilhas também atuam em endereços físicos. A carioca Ana Carla Florencio, 22 anos, conta que em 2018 compareceu a um escritório bem estruturado no centro do Rio de Janeiro para uma entrevista de emprego. Estranhou o pedido de que fosse acompanhada de um responsável, já que é maior de idade. “Eles queriam que minha mãe pagasse os 150 reais, imaginando que eu não tivesse o dinheiro”, explica. A estudante de biblioteconomia ainda passou por outras quatro entrevistas e foi convencida a contratar mais uma série de “aulas” antes de cair fora, acumulando prejuízo. “A gente só ficava ouvindo palestras. Oportunidade que é bom, nada”, lamenta. A falcatrua respinga, inclusive, em empresas sérias do ramo, usadas como chamariz para a obtenção da colocação inexistente. “Todo mês recebemos em nossa sede pessoas que buscam vagas prometidas por esses bandos de estelionatários”, confirma o presidente de uma das maiores empresas especializadas em colocação de jovens no mercado de trabalho, que prefere não se identificar por ter sido alvo de ameaças de morte depois que denunciou uma quadrilha. “Chegaram a clonar nosso site, oferecendo empregos falsos”, relata.

    arte Emprego

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    As grandes empregadoras também servem de isca no conto da vaga garantida. A multinacional farmacêutica Merck já esteve na mira dos charlatões, que enviaram e-mails chamando candidatos para uma seleção presencial na empresa, mas avisando que antes era necessário comprar uma apostila com conteúdos-chave do processo seletivo. Em nota, a Merck informou que esse tipo de golpe é frequente e que faz alertas nas redes sociais para que os interessados em suas vagas não sejam iludidos. Os golpistas do mercado de trabalho podem ser enquadrados nos crimes de estelionato e formação de quadrilha, com penas que começam em quatro anos de prisão, mas a impunidade é a regra, até porque poucos casos são levados à polícia. No início de setembro, a 4ª Delegacia de Belo Horizonte desmantelou uma falsa agência de empregos e prendeu 21 pessoas por cobrar entre 450 e 1 500 reais por cursos fictícios e vagas inexistentes. “De tempos em tempos, eles trocavam de endereço e mudavam a razão social”, diz a delegada Ana Paula Kish, responsável pela operação. Para os jovens empenhados na difícil busca da primeira colocação, aquela que exige a experiência que ainda não adquiriram na vida, fica o alerta: se parece bom demais para ser verdade, talvez não seja.

    Publicado em VEJA de 6 de outubro de 2021, edição nº 2758

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