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Acidente com bonde em Santa Teresa deixa 5 mortos e mais de 50 feridos

Composição teria perdido o freio em uma das ladeiras do bairro. Sistema é operado pela Secretaria Estadual de Transportes

Por Cecília Ritto, Paula Neiva e Leo Pinheiro
27 ago 2011, 17h42

A capacidade máxima do bonde é de 32 passageiros, mas o número de feridos leva a crer que muito mais gente viajava na composição acidentada

Um acidente com um dos bondes de Santa Teresa – ponto turístico do Rio – deixou cinco mortos na tarde deste sábado. A composição teria ficado fora de controle e perdido o freio na ladeira da Rua Joaquim Murtinho, que dá acesso ao Largo do Curvelo. A Secretaria Municipal de Saúde informou, no início da noite, que ao todo 54 pessoas ficaram feridas e deram entrada nas emergências da rede pública. Esse número, no entanto, pode aumentar ao longo da noite. O chefe do Corpo de Bombeiros do Rio, Sérgio Simões, afirmou que 10 deles estão em estado grave e correm risco de morte.

Um dos mortos chegou a ser socorrido, mas morreu a caminho do Hospital Souza Aguiar, no Centro. O choque com o bonde número 10 ocorreu, segundo moradores do bairro, entre as 15h e as 16h. Além do problema nos freios, há suspeita de superlotação. A capacidade máxima do bonde é de 32 passageiros, mas o número de feridos leva a crer que muito mais gente viajava na composição acidentada. “Com esse quadro, confirma-se a superlotação. Sem dúvida isso contribuiu para o resultado do acidente”, disse Simões.

A violência do choque deixou a composição desfigurada, com a parte de cima arrancada. No local, uma curva em declive à esquerda, o bonde tombou, derrubou um poste da rede elétrica e arrancou parte de uma rampa de concreto. O Corpo de Bombeiros informou que a circulação de bondes em Santa Teresa está suspensa por tempo indeterminado.

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Um dos mortos é o motorneiro do bonde: Nelson Corrêa da Silva. A mulher do condutor entrou em choque ao saber, no Hospital Souza Aguiar, que o marido não sobreviveu ao acidente. Silva trabalhava há mais de 30 anos no sistema de bondes e era conhecido da população. “Ele era cuidadoso, sempre verificava os equipamentos antes de começar a circular”, disse o também motorneiro Gilmar Fernandes Soares, amigo de Silva.

A emergência do Hospital Souza Aguiar, para onde foram levados os feridos no acidente com bonde de Santa Teresa, no Rio
A emergência do Hospital Souza Aguiar, para onde foram levados os feridos no acidente com bonde de Santa Teresa, no Rio (VEJA)

Morador do bairro, o cortador de tecidos Rodrigo Araújo Silva, de 27 anos, ajudou a socorrer dois dos feridos. “Ouvi o estrondo e desci correndo para ver o que tinha acontecido. O bonde parecia ter umas 40 pessoas. Socorri um menino de 10 anos, que não conseguia andar. Depois, ajudei uma mulher também machucada”, disse Silva.

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O policial militar Mario Santos Neto testemunhou o acidente, no qual perdeu um amigo – o condutor Nelson. Ele e o cabo Edenilson ajudaram cerca de 30 pessoas a sair do bonde – entre elas uma menina que estava no local mais crítico do bonde, mas escapou com apenas um ferimento na cabeça. No hospital Souza Aguiar, muito abalado, o PM descreveu o que viu quando se aproximou: “Dentro do bonde, não dava para ver quem estava vivo e quem estava morto. Estava todo mundo empilhado”. Segundo o PM, o bonde estava muito cheio, possivelmente com superlotação. Ao fazer uma curva, tombou e bateu em um poste.

A maior parte dos feridos foi para o Hospital Souza Aguiar, no centro. Outros feridos foram levados para o Miguel Couto, na Gávea, e Hospital do Andaraí, na zona norte.

A falta de tomógrafo prejudicou o atendimento no Souza Aguiar. Acadêmico de medicina, Guilherme Targino, que atendeu algumas das vítimas, afirmou que, sem o aparelho, algumas das vítimas tiveram de ser deslocadas para outras unidades. “Recebemos muitas pessoas com fraturas, algumas com gravidade”, explicou.

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Aos sábados, Santa Teresa recebe milhares de turistas. Há informações sobre uma portuguesa, um francês e um norte-americano entre as vítimas recebidas nos hospitais. O norte-americano, em estado grave, apresenta múltiplas fraturas de membros inferiores e risco de amputação. Ele não fala português, assim como outros turistas que estavam no bonde no momento do acidente, o que dificulta a comunicação com médicos e enfermeiros.

Rodrigo Araújo Silva socorreu dois dos feridos
Rodrigo Araújo Silva socorreu dois dos feridos (VEJA)

A advogada paulista Ronilce Matos, 34 anos, soube no hotel em que está hospedada, no centro, que suas duas irmãs estavam no bonde acidentado. “Viemos passar o fim de semana no Rio. Mas nos dividimos depois da visita ao Pão de Açúcar. Eu e três amigas fomos para o Corcovado, minhas duas irmãs optaram por Santa Teresa”, conta, lembrando que parte do grupo evitou o bairro por considerá-lo perigoso.

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As irmãs de Ronilce que estavam na composição são Regiane Matos, 22 anos, e Isaura Matos, de 19. Isaura não teve ferimentos graves. Já Regiane tinha, no início da noite deste sábado, suspeita de fratura da mandíbula.

Uma fisioterapeuta que acompanhava Ronilce conseguiu entrar na área da emergência onde estão sendo atendidos os feridos no acidente. Segundo ela, são muitos os feridos e boa parte deles com gravidade. “Apesar do volume de atendimentos, todos estão recebendo atenção”, afirmou ao site de VEJA.

O estudante Bruno Marques, 23 anos, estava com um grupo de 10 amigos de Fortaleza, no Ceará, visitando Santa Teresa. Dois dos integrantes da turma precisaram voltar antes e acabaram tomando o bonde que veio a se acidentar. “Quando descíamos, soube que eles estavam entre os feridos. A cena que vimos era assustadora. Muitas pessoas feridas, gente gritando, procurando pelos amigos”, contou Bruno.

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Os colegas do rapaz que se feriram são Daniele Fosquete, 30 anos, e Igor Bonfim, de 22. Igor teve ferimento em uma das pernas. Já Daniele, com escoriações no rosto, estava sendo transferida para o Hospital Miguel Couto para passar por exames mais detalhados, pois havia suspeita de lesões na cabeça.

Histórico de problemas com freios – Os bondes enfrentaram, recentemente, problemas com os sistemas de frenagem. Há dois anos, uma professora de 29 anos foi atropelada por um dos bondes, que desceu a ladeira descontrolado.

O acidente daquele ano levantou dúvidas sobre a eficiência dos sistemas de freio regular e de emergência dos bondes. A colisão também ocorreu em um fim de semana, quando o bairro fica repleto de turistas. Um dos bondes foi abalroado por um táxi, que atingiu o local onde fica uma peça do sistema de freios. A falha fez a composição descer em grande velocidade e atingir um ônibus. A professora Andreia de Jesus Resende, que estava no coletivo, morreu.

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