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A demagogia ecológica da guerra contra os canudinhos

No país que é um dos campeões mundiais em lixo plástico, objeto virou um dos vilões, mesmo correspondendo a 0,025% dos detritos

Por Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 15h46 - Publicado em 28 jun 2019, 07h00

A impressionante imagem acima, de Raphael Alves, revela como é um lixo a política de tratamento de lixo no Brasil. Ela expõe o que acontece em Manaus sempre que o Rio Negro enche. O flagrante integra a 9ª Mostra SP de Fotografia, que será inaugurada no próximo dia 3, na capital paulista, tendo como tema a intoxicação do planeta pelo plástico. O Brasil é o quarto maior produtor desse tipo de sujeira, mas figura entre os piores do mundo na reciclagem, com taxa de 1,28%, enquanto a média global é de 9%.

E qual seria, em termos de políticas públicas, a solução que nossos governantes têm a oferecer? Banir os canudinhos plásticos foi a resposta da cidade de São Paulo. No último dia 25, o prefeito Bruno Covas resolveu tirar de circulação o produto, proibindo seu fornecimento em estabelecimentos comerciais. A multa pode chegar a 8 000 reais em caso de reincidência.

BRUNO COVAS
NOVA REGRA – Bruno Covas: multa de até 8 000 reais (Leo Martins/VEJASP)

Mesmo que os fiscais demonstrem uma eficiência desconhecida até aqui no controle do lixo, os resultados serão pouco significativos. Os canudinhos correspondem a 0,025% do total de plástico descartado nos oceanos, segundo a ONU. Os defensores da medida da prefeitura paulistana argumentam que ela tem caráter educativo. “A lei quer ser utilizada como um chamamento para que as pessoas prestem atenção no uso indiscriminado do plástico”, defende o vereador Xexéu Tripoli (PV-­SP), autor da ideia.

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Em São Paulo, somente 3% dos materiais recicláveis são recuperados. Parte da culpa é da população, que não separa o lixo corretamente. Ainda que ela fizesse isso, no entanto, faltaria resolver problemas que dependem do poder público, como falhas no sistema de coleta e infraestrutura insuficiente. Na cidade — uma metrópole que produz 20 000 toneladas de lixo a cada 24 horas —, há apenas duas usinas de reciclagem, cada uma com capacidade para 240 toneladas de detritos por dia. Ou seja, seria bom a prefeitura varrer a própria casa antes de preocupar-se com os canudinhos. A favor de Covas — que luta para tornar-se mais conhecido entre a população, mesmo estando há mais de um ano na prefeitura — está o fato de que a demagogia ecológica não é exclusividade paulistana. No último dia 26, entrou em vigor no Rio de Janeiro uma lei que proíbe sacolas plásticas. A capital fluminense reaproveita apenas 1,9% do lixo produzido.

Publicado em VEJA de 3 de julho de 2019, edição nº 2641

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