O Ministério da Saúde anunciou a compra de 215 caixões e 90 sacos para cadáver a fim de atender ao Distrito Especial Indígena Yanomami, que abrange uma área de 9 milhões de hectares, com 345 aldeias e 27 mil índios, nos estados de Amazonas e Roraima. O custo da encomenda será de 390 000 reais.
O edital não faz referência à pandemia de coronavírus, que provocou a primeira morte de um Yanomami, um jovem de 15 anos, em abril. Desde então, estudos científicos têm chamado a atenção para o risco de alastramento da doença entre essa etnia. O motivo é a presença em terras Yanomamis de cerca de 20 000 garimpeiros, que poderiam infectar até 6,5% dos índios, conforme estudo elaborado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pelo Instituto Socioambiental (ISA), que classifica os Yanomami como “o povo mais vulnerável à pandemia de toda a Amazônia brasileira”.
Por meio de nota, o Ministério da Saúde informou que, de acordo com o boletim epidemiológico de 4 de junho, há 59 casos confirmados e 18 casos suspeitos de Covid-19, além de três mortes provocadas pelo novo coronavírus, entre a população indígena Yanomami. Esclareceu ainda que há processos abertos de compra para os Yanomamis de cilindros de oxigênio, equipamentos de proteção individual (como máscaras) e outros insumos necessários à contenção da epidemia.
“Todos os sepultamentos de vítimas da Covid-19 seguem as orientações presentes no protocolo do Ministério da Saúde para o manejo de corpos durante a pandemia de Covid-19, que orienta os serviços funerários a cuidados de biossegurança para a prevenção da disseminação”, diz a nota. Foi o que ocorreu com o jovem Yanomami morto abril, enterrado num cemitério em Boa Vista, capital de Roraima.
O Ministério da Saúde e a Funai alegam que restringiram o acesso às aldeias e fizeram um plano de contingenciamento para atendimento aos índios. Além disso, o governo está distribuindo cestas básicas aos índios, para evitar que eles tenham de ir às cidades atrás de alimentos. Os Yanomami não têm como prática enterrar os mortos em caixões. Pela tradição da etnia, o cadáver é protegido por uma mortalha de cestaria (fabricada com folhas de palmeira) e fica exposto na comunidade, durante um período de dois a três meses, para ser pranteado por todos.
Enquanto o cadáver é exposto, os índios destroem os objetos e traços pessoais do morto, incluindo suas ferramentas, arcos e flechas, plantas e roças. Após esse período, a carne é retirada do corpo e os ossos moídos num pilão até virar cinzas, que são consumidas em um mingau de banana ao final de uma festa. Esse ritual tem o objetivo de garantir que o espírito volte a ajudá-los contra as doenças e contra os espíritos maléficos.