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86% dos pais querem que ano letivo atual continue em 2021, revela pesquisa

Levantamento realizado pela Fundação Lemann sobre aulas durante pandemia revela preocupação com aprovação sem aprendizado

Por Ricardo Ferraz Atualizado em 17 ago 2020, 15h04 - Publicado em 17 ago 2020, 06h00

Não é apenas o risco de contágio por coronavírus que aflige pais e mães de alunos prestes a retornarem às salas de aula em todo país. A medida em que o ano letivo avança, uma dúvida relacionada ao ensino também se alastra: “o quanto meu filho aprendeu durante a pandemia?” A resposta é complexa e depende de uma série de fatores – do acesso ao conteúdo ao grau de comprometimento com os estudos – mas é praticamente consenso que as aulas à distância diminuíram o rendimento escolar. Uma pesquisa, encomendada pela Fundação Lemann, Itaú Social e Imaginable Futures ao Instituto DataFolha, obtida com exclusividade por VEJA, joga luz sobre esse e outros questionamentos e mostra que os responsáveis pelas crianças e adolescentes querem garantir que nenhum conteúdo fique para trás. Nada menos que 86% dos entrevistados defendem a continuidade do aprendizado previsto para 2020 durante o ano que vem.

“Seriam anos híbridos. O aluno progride mas faz o quarto ano junto com quinto, por exemplo”, explica Denis Mizne, presidente da Fundação Lemann. “A reprovação de todo mundo não faz sentido. Tem um custo altíssimo para o sistema, aumenta a evasão escolar brutalmente e vai ser muito frustrante diante do esforço de professores, alunos e famílias para oferecer alternativas de ensino durante a pandemia.” Outras sugestões apontadas como alternativas para o aluno não perder totalmente o ano escolar tiveram adesão dos pais acima de 70%. São elas: continuidade das atividades virtuais em casa, em conjunto com as aulas presenciais (92%);  aulas aos sábados (76%); aulas em dias alternados, enquanto as restrições da quarentena ainda prosseguem (74%) e ter mais aulas por dia (73%).

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O levantamento, realizado pelo Datafolha, entre os dias 7 e 15 de julho, ouviu 1.056 pais em todo o país por telefone, o que corresponde a 1.556 alunos, entre seis e 18 anos de idade, das redes estaduais e municipais de ensino de todas as regiões brasileiras. A margem de erro observada foi de três pontos percentuais. A pesquisa é a terceira do gênero realizada pela organização e permite comparar os dados com resultados anteriores.

Os números mostram, por exemplo, que a tarefa de repor o conteúdo no ano que vem enfrentará grande obstáculos. Para 48% dos pais, os filhos estão menos envolvidos na escola do que no período anterior à pandemia e 18% consideram que eles perderam o interesse pelo estudo. A falta de motivação passou de 46% em maio para 51% em junho. Já a percepção de que não há evolução no aprendizado saltou de 46% para 50%. “Não vai dar tempo de cobrir tudo, porque a gente perdeu muitas horas aula”, diz Mizne. “É preciso escolher o que ensinar. Identificar dentro da base nacional comum curricular quais são os pontos inegociáveis e priorizá-los”, completa.

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A boa notícia é que as novas tecnologias se mostraram aliadas dos alunos e professores nas salas de aula. Ferramentas como formulários de exercícios on-line, controle de presença informatizado e encontros virtuais vieram para ficar. A pesquisa revela que o desafio inicial de oferecer acesso aos conteúdos escolares foi cumprido com relativo sucesso: 82% dos alunos receberam atividades pedagógicas, sendo que 44% combinam material impresso com algum tipo de equipamento eletrônico (celular, computador, TV com acesso à internet ou rádio). Em maio, o número era de 74%.

A ideia de que as pessoas matriculadas nas redes públicas de ensino não teriam como acessar o material pedagógico não se mostrou tão verdadeira assim: 95% disseram ter ao menos um aparelho conectado à internet e 52% relataram ter quatro ou mais. O meio mais utilizado, de longe, é o celular – 72% realizaram as atividades pelo aparelho. Mais da metade dos alunos, 51%, tem celular próprio, enquanto 38% dividem com alguém da família.

Em contrapartida, 36% das famílias de todo Brasil disseram ainda não contar com conexão de banda larga em seus domicílios. Na região Norte, o número chega a 52%; no Nordeste é de 47% e no Centro-Oeste, 43%. Fatores como esse fazem com que o uso da tecnologia nas regiões mais afastadas ainda seja um empecilho para educação, enquanto 96% dos alunos realizaram algum tipo de atividade no sul do país, apenas 62% dos estudantes do norte obtiveram o mesmo desempenho.

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Para os coordenadores da pesquisa, num primeiro momento, a pandemia vai impactar negativamente na educação brasileira, mas, ao longo prazo, haverá lições positivas que poderão ser extraídas do complicado ano letivo de 2020: ” Provavelmente, a gente vai pegar o Ideb de 2021 e todo mundo vai dizer que o ano foi perdido. Mas eu espero que, em cinco anos, a gente perceba o legado de ter abraçado a tecnologia definitivamente após esse período”, diz Mizne.

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