Os dez militares do Exército presos em flagrante por dispararem pelo menos 80 vezes contra um carro com uma família dentro e matar o músico Evaldo dos Santos Rosa, em Guadalupe, Zona Oeste do Rio de Janeiro, serão ouvidos nesta quarta-feira, 10, pela Justiça Militar. Segundo o Comando Militar do Leste, a audiência está marcada para às 14 horas.
Prestarão depoimentos o 2º tenente Ítalo da Silva Nunes Romualdo, o 3º sargento Fábio Henrique Souza Braz da Silva e os soldados Gabriel Christian Honorato, Matheus Santanna Claudino, Leonardo Delfino Costa, Marlos Conseição da Silva, João Lucas da Costa Gonçalo, Leonardo Oliveira de Souza, Gabriel da Silva de Barros Lins e Vitor Borges de Oliveira. O cabo Paulo Henrique Araújo Leite e o soldado Willian Patrick Pinto Nascimento, que não foram presos em flagrante, também serão ouvidos.
A 1ª Circunscrição Judiciária Militar ficará responsável pela audiência, que decidirá se os militares continuarão presos ou poderão responder ao inquérito militar em liberdade. Na tarde do último domingo, 7, uma guarnição do Exército efetuou vários disparos contra o carro.
Além da morte de Evaldo, ficaram feridos seu sogro, Sérgio Araújo, e um pedestre que teria tentado ajudar a família durante o tiroteio. A mulher do músico, Luciana Nogueira, de 41 anos, seu filho de 7 anos e a amiga Michelle da Silva Leite Neves, de 39 anos, que também estavam no carro, não ficaram feridos.
Uma primeira nota de esclarecimento do Comando Militar do Leste informou que os militares haviam reagido à ação de assaltantes. No dia seguinte, depois de tomar o depoimento dos envolvidos, o Exército constatou inconsistências nas versões e decretou a prisão em flagrante de dez deles.
Enterro
O corpo de Edvaldo foi sepultado na manhã desta quarta sob os gritos de “justiça!”. Pelo menos duas centenas de pessoas acompanharam o enterro no cemitério de Ricardo de Albuquerque, na zona norte do Rio. Em coro, os presentes cantaram os versos “quero chorar o seu choro, quero sorrir seu sorriso, valeu por existir”, em homenagem ao músico.
A ONG Rio de Paz distribuiu oitenta pequenas bandeiras do Brasil perfuradas e manchadas de vermelho, representando o total de disparos que a perícia apontou terem sido disparados.
Após o sepultamento, o clima era de revolta. Luciana Nogueira, 41, viúva de Evaldo e que também estava no carro no domingo, transformou o choro em gritos de protesto. “Eu quero justiça! Meu filho de 7 anos não para de pedir ‘eu quero meu pai, eu quero meu pai'”, bradava. Jackson Oliveira, primo de Evaldo, estava desolado. “Eles mataram mais um trabalhador. Ele era como um pai pra mim e para os meus irmãos”, lamentou.
(Com Estadão Conteúdo e Agência Brasil)