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Solidariedade na quarentena

Ela nos reaproxima dos outros e faz redescobrir prazeres

Por Walcyr Carrasco Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 27 mar 2020, 09h57 - Publicado em 27 mar 2020, 06h00

Meu primeiro sentimento foi de desolação, medo. Eu me perguntei: “Como será a vida agora?”. Não procuro ser otimista aconteça o que for. Simplificando: não sou um manual de autoajuda ambulante. Mas, já nos primeiros dias, comecei a receber mensagens de amigos, alguns que não vejo há dois ou três anos. Como, aos 68, faço parte do grupo de risco, todos se prontificaram a me ajudar, se eu precisasse. Poderiam fazer compras, ir à farmácia… Enfim, o necessário para que eu não me expusesse. Sinceramente, valorizei essa atitude. Descobri que tinha esquecido de muitos amigos leais. E voltamos a conversar, saber um do outro.

Em muitos prédios, vizinhos mais jovens se põem à disposição dos mais velhos para compras, ajuda em geral. A relação dos disponíveis é colocada na entrada, e assim os idosos conseguem se resguardar. Essa onda de solidariedade, inesperada, está revivendo o espírito de comunidade. Como nos tempos passados em que vizinhos se ajudavam entre si e amigos se amparavam. Empregadores começaram a se interessar pelo bem das funcionárias do lar. Muitos que eu conheço deram folga remunerada às faxineiras. Todo mundo pode passar uma vassoura, não é? Outros dão carona a elas ou até lhes pagam Uber para que não usem transporte coletivo. É só um exemplo de como as relações humanas estão mudando. Até quem usa aplicativo de encontros passa agora o tempo trocando fotos, conversando e se conhecendo. Em vez do pá-pum imediato, constroem relações!

“Sei que é um momento terrível, mas também criativo. Aproveite. É hora de reinventar a vida”

É preciso fugir do tédio. Não pirar. Como escritor, sempre fiz home office, muito antes de ele ter esse nome. Reconheço que, para mim, é fácil. Mas criei uma disciplina. Minha esteira tinha se transformado em cabide de roupas. Sonhava em fazer uma horta, e há uma eterna pilha de livros à espera. Agora, acordo e corro, e me exercito. Depois, cuido da horta. Leio durante algumas horas. Faço meditação — descobri um ótimo aplicativo, é só seguir as instruções, e fico bem relaxado. Sento para trabalhar. Nesse item tive sorte, estou imerso na criação de Verdades Secretas 2, um projeto que amo e me envolve. Há séries e filmes para ver no fim da noite. Nos intervalos, boto posts no Instagram, falo por telefone, troco mensagens, tento pintar, cozinho…

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Enfim, descobri um número incrível de atividades, que vão acontecendo. A quarentena me fez retomar o eixo interior. Não perco mais tempo com supérfluos, com obrigações sociais. E me dedico ao trabalho, a tudo o que realmente importa. Minha família está mais próxima e nossos laços, mais fortes.

Sei que é um momento terrível para a humanidade. Ao fim da quarentena, vamos contabilizar as perdas, será doloroso. Mas muitas de nossas atitudes anteriores terão se transformado. Podemos descobrir, cada um, novos talentos, reacender sonhos, ampliar nossa capacidade de ser solidário e, apesar da distância, aprofundar relações. Repito, é um momento difícil. Mas também criativo. Aproveite. É hora de reinventar a vida.

Publicado em VEJA de 1 de abril de 2020, edição nº 2680

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