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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)

O que levou Bolsonaro a demitir Pazuello

Com medo de Lula, presidente vai substituir general por outro ministro que diga 'sim, senhor'

Por Thomas Traumann
Atualizado em 19 mar 2021, 01h22 - Publicado em 15 mar 2021, 15h20

O general de divisão do Exército Eduardo Pazuello será demitido sem honras do cargo de ministro da Saúde entre o horário que esta coluna está sendo escrita (14h da segunda-feira, 15/03) até o final da semana. Quando assumiu o ministério interinamente em 15 de maio, Pazuello enfrentava um drama de 14.8117 mortos e 218.223 casos registrados de Covid-19. Irá deixar o cargo com 278.229 óbitos e 11.483.370 casos, os dois piores indicadores do mundo, atrás apenas dos EUA. Na última semana, em nenhum lugar do mundo houve tanto registro de mortes por Covid-19 quanto no Brasil.

A vacinação está atrasada e, sob Pazuello, o Ministério da Saúde deixou de assinar encomendas com os laboratórios Pfizer, Johnson&Johnson e Sinovac, além de ter minimizado os pedidos à Covax, da Organização Mundial de Saúde. Sob Pazuello, o Ministério da Saúde apresentou 10 (repito, 10!) planos diferentes para distribuição de vacinas nos Estados e descumpriu todos.

A falta de coordenação obrigou os governos estaduais a tentarem comprar eles mesmos as vacinas, apenas para que só então o Ministério interviesse para impedir a encomenda. Por falha na logística do Ministério, os hospitais de Manaus ficaram sem oxigênio e dezenas de pacientes morreram sufocadas.

Pazuello foi cúmplice do negacionismo do presidente Jair Bolsonaro, que incentivou e ainda incentiva o boicote ao distanciamento social, defendeu charlatanices como cloroquina e outras drogas para um nefasto tratamento precoce, mentiu sobre os efeitos colaterais de máscaras e vacinas, desrespeitou as vítimas da Covid e seus familiares, assediou governadores com a Polícia Federal para impedir lockdowns e transformou a Covid numa disputa política mesquinha, sem se preocupar com os 2 mil mortos por dia que marcarão a história do país.

Por tudo isso, Pazuello se vai do Ministério não apenas como o pior de todos os ministros, mas como um oficial que manchou a imagem de sua corporação. O Exército pagará um preço alto por ter permitido que um general assumisse um cargo para o qual não tinha nenhuma qualificação.

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Porém, Pazuello não está sendo demitido por nenhum desses motivos. Ele está caindo porque, pela primeira vez em dois anos, Bolsonaro está temendo perder as eleições de 2022. O retorno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à arena eleitoral tirou o chão do bolsonarismo. Por um grave erro de cálculo, o presidente supunha que podia fazer o que quisesse porque a rejeição a Lula e ao PT seria sempre maior que a desaprovação a seus atos. Não entendeu o luto das mortes por Covid e a raiva com a desorganização na vacinação, um dos poucos orgulhos nacionais que vinham desde o Regime Militar.

Ao descobrir que o antibolsonarismo é tão forte quanto o antipetismo, Bolsonaro piscou. Políticos e empresários que ele tomava como aliados eternos, deram sinais que poderiam pular para o navio lulista caso Bolsonaro não mudasse a gestão no combate à Covid. Este foi o erro, aliás, que tirou a reeleição do ídolo de Bolsonaro, Donald Trump.

É ilusão, no entanto, imaginar que Bolsonaro irá colocar no Ministério da Saúde alguém que vá tomar suas decisões com base de ciência. No domingo, ele se reuniu com a médica Ludhmila Hajjar, indicada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira. Na conversa, Bolsonaro descobriu que a médica defende vacinação em massa, descarta a cloroquina e defende interdições em cidades. Ou seja, está do lado da ciência e não pode ser ministra de Bolsonaro.

Ao descartar Hajjar, Bolsonaro indica que não quer deixar a ciência evitar o morticínio, apenas dar uma resposta política à ameaça da candidatura Lula. É uma jogada de marketing, para comprar tempo até os carregamentos de vacinas chegarem em maio. O presidente quer um ministro que diga “sim, senhor” às suas vontades e ajude a asfixiar os governadores rebeldes. Bolsonaro vai demitir Pazuello, mas quer outro Pazuello para o seu lugar.

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