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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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O mercado se afasta do governo Bolsonaro

O anel que Guedes deu à Faria Lima era vidro se quebrou

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 5 jul 2021, 11h52

Quebrou o anel de vidro de Paulo Guedes com o mercado financeiro. A proposta da reforma tributária cria um imposto de 20% sobre a distribuição de dividendos, taxando fundos imobiliários e impedindo a compensação de impostos entre fundos de propósito específico, para compensar o aumento da isenção de impostos de renda sobre aqueles que recebem até R$ 2.500 (o projeto foi a capa de VEJA desta semana).

Na quinta-feira (01/07), um dos porta-vozes mais influentes do mercado financeiro, o gestor da Verde Asset Management, Luis Stuhlberger, desabou contra o ministro:

“Me admira muito o Paulo Guedes ter mandado um negócio desse. Botar 20% de imposto sobre os dividendos e diminuir em duas vezes de 2,5% o imposto de renda, é você botar um bode na sala e depois te dar uma gorjeta para ficar com esse bode. Não tem cabimento uma coisa dessa. Tem que ser revisto”.

Stuhlberger também bateu na bitributação das carteiras (“vai deixar as coisas inadministráveis para os gestores: pagar quando tem o dividendo e depois o investidor tem que se compensar”) e os fundos imobiliários (“um profundo equívoco”).

Na Faria Lima, o trecho paulistano onde estão as principais casas bancárias, Paulo Guedes virou sinônimo de palavrão. É uma reversão extraordinária. A Faria Lima embarcou no navio bolsonarista em 2018 justamente porque Guedes se apresentava como o capitão da embarcação, acreditou em todas as “reformas para semana que vem” prometidas pelo ministro, minimizou as intervenções militares na Petrobras e pula as páginas de política para não ler as pesquisas mostrando a impopularidade crescente de Bolsonaro. Até que o governo mirou no seu bolso. É irônico que um governo de extrema-direita seja o primeiro a taxar os mais ricos para ajudar os pobres.

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A taxação dos dividendos vai obrigar a uma mudança nas regras no pagamento de ganhos com ações, desestimular a entrada de novos investidores e fazer com que milhares de executivos que ganham como Pessoa Jurídica reformulem seus contratos. Se o projeto for aprovado, é provável que as companhias façam gigantescas distribuição de dividendos em dezembro para fugir do imposto em 2022, possivelmente em direção ao mercado de câmbio.

A pressão da Faria Lima para destruir a proposta é poderosa. Na primeira semana de ataques, o presidente da Câmara, Arthur Lira, já cedeu em reduzir a alíquota de imposto de 20% para 15% e o próprio Guedes antecipou a redução de 5% na taxação sobre a distribuição de lucros. Mas não é o suficiente. O mercado vai trabalhar pesadamente para derrubar a proposta inteira.

O esforço do mercado contra Guedes se soma ao da indústria, furiosa com o ministro por tentar reduzir as alíquotas de importação sem nenhuma compensação tarifaria. Na avaliação do Ministério da Economia, a redução unilateral dos impostos de importação industriais dará um choque de competitividade no setor e redução de preços ao consumidor. As entidades industriais afirmam que a medida vai causar falências e demissões.

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Atacado pelos banqueiros da Faria Lima e pelos industriais da Avenida Paulista, Guedes perde a sua principal função no governo, a de ser um canal entre o presidente e o empresariado. Nos últimos meses, é visível a baixa influência do ministro junto ao presidente. O ritmo da política econômica é dado por Arthur Lira, as estatais estão sob domínio militar o ministro da Integração Regional, Jair Marinho, ganhou a queda-de-braço sobre orçamento.

Mais importante, a intenção de Guedes para taxar os ricos abre duas oportunidades para o time do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Primeiro porque permite reabrir os contatos com a Faria Lima, estancados desde o governo Dilma Rousseff. Segundo porque quebra o monopólio de que somente a esquerda quer aumentar a taxação dos ricos para aumentar a isenção dos mais pobres. O PT que não teve coragem de tomar a medida quando estava no poder, agora está liberado para defender o imposto que até o governo de extrema-direita quer aprovar.

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