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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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O Centrão avisa: o país saiu da vertigem e os ‘boca abertas’ perderam

Entrevista do senador Ciro Nogueira impõe as condições para apoiar a reeleição

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 23 nov 2020, 15h20 - Publicado em 23 nov 2020, 14h06

O senador Ciro Nogueira, presidente do Partido Progressista e um dos líderes do bloco parlamentar conhecido como Centrão, tem uma característica invejada entre os políticos: ele sabe a hora de sair de um barco e pular em outro. Para alguns pode parecer oportunismo. Na política, é instinto de sobrevivência. Foi Nogueira um dos responsáveis para que o PP, sigla herdeira da Arena do Regime Militar, apoiasse o governo Lula. Depois votou pelo impeachment de Dilma Rousseff, embarcou no governo Temer e, em julho deste ano, quando os militares precisaram montar o esqueleto de uma base sólida no Congresso para impedir o impeachment de Jair Bolsonaro, lá estava ele. Nesses poucos meses de apoio a Bolsonaro, Nogueira foi um dos padrinhos da mais importante indicação do governo, a do desembargador Kassio Nunes Marques para o Supremo Tribunal Federal.

No domingo, a Folha publicou uma boa entrevista do senador à repórter Julia Chaib. 

“Nessa eleição ficou bem claro que as pessoas apostaram em políticas que possam melhorar a sua vida, não em candidatos que só são de espetacularizar as coisas, como na última eleição presidencial. Os ‘boca abertas’ da vida, aquelas coisas que não trazem nenhum tipo de benefício. Não tem aquele documentário, Democracia em Vertigem [da diretora Petra Costa, que relata o processo de impeachment de Dilma Rousseff]… Eu acho que o país saiu dessa vertigem”, analisou Nogueira. 

O fim da vertigem significa que a fórmula que transformou Bolsonaro em um fenômeno em 2018 não funciona mais. Os “boca aberta”, como definiu o senador, não conseguem mais iludir os eleitores, como mostra a decadência dos candidatos youtubers em São Paulo. Como a gestão de Bolsonaro é muita gritaria e pouca gestão (a não ser que você considere como realizações os recordes de mortes por Covid-19, desmatamento da Amazônia, desvalorização do real e dias sem luz no Amapá), o que o líder do principal bloco de apoio está colocando as condições. E daí vem o pulo do gato do senador:

“O presidente Bolsonaro para perder a eleição (de 2022) vai ter de mudar o maior dos paradigmas quanto a isso. Nunca um presidente perdeu a reeleição. Teria de ser uma tragédia muito grande. Mas as pessoas votaram nele sem conhecer a gestão Bolsonaro. Agora as pessoas vão conhecer. Então, é fundamental que ele traga estabilidade à gestão dele, que tenha resultados na gestão. E eu acho que esses partidos de centro dão essa estabilidade”. 

Há muito otimismo em supor que a partir de Bolsonaro vai ser menos “boca aberta” e mais um fator de estabilidade, mas o aviso está dado. Para ter o apoio do bloco que uns 150 deputados e que que foi único que ganhou prefeituras e vereadores nas eleições municipais, Bolsonaro vai ter de adaptar.

O que isso implica? Nas palavras do líder do Centrão, “aprovar as propostas que ele vem defendendo. Esses partidos de centro são os responsáveis por tudo o que foi aprovado no país nos últimos 30 anos, seja à direita ou à esquerda. Temos essa capacidade de dar o apoio para que o presidente possa realizar e botar em prática as propostas que ele faz durante a campanha”. Ou seja, parar de ser um ‘boca aberta’ e governar. E o Centrão estará ali para ajudá-lo.

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