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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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Moro dá um passo errado

Depois do fracasso do Posto Ipiranga de Bolsonaro, candidatos não podem mais usar assessores para se esconder de temas econômicos

Por Thomas Traumann
Atualizado em 24 nov 2021, 17h26 - Publicado em 20 nov 2021, 12h19

A candidatura Sergio Moro deu o primeiro passo errado com o anúncio do professor Affonso Celso Pastore como conselheiro econômico, numa repetição farsesca de quando Jair Bolsonaro anunciou Paulo Guedes como o seu “posto Ipiranga”. Com a manobra, Bolsonaro e Guedes venderam a ideia de que o então deputado de larga carreira corporativista deixaria a economia nas mãos do liberal Guedes, garantia que deu passe livre para o establishment econômico embarcar na candidatura direitista. Mas como expliquei no livro “O Pior Emprego do Mundo”, superministros e boitatás não existem.

No regime presidencialista brasileiro, o poder de um ministro não é um direito, mas uma concessão de quem recebeu os votos. O presidente concede parte do seu poder a um ministro, mas pode tirar com uma assinatura. Em três anos de governo, Guedes virou um ministro qualquer, que só mantem o cargo por se submeter aos caprichos do chefe e cumprir a agenda econômica da reeleição. Foi ingenuidade de Guedes e da turma do mercado financeiro supor que um presidente eleito com 57,8 milhões de votos se submeteria a um assessor sem nenhum voto.

Note bem: Pastore está longe de ser Guedes. Presidente do Banco Central na crise da moratória de 1983-85, um dos mais conceituados estudiosos sobre os efeitos do câmbio e inflação na economia, dos poucos economistas que sabe fazer contas E escrever em português, Pastore é o que se convencionou chamar de ortodoxo. No seu último livro (que Moro diz estar lendo) “Erros do Passado: Soluções para o Futuro”, Pastore projeta um longo período de desvalorização do real como uma oportunidade para abrir a economia para importações de bens de capital e dar um choque de produtividade na indústria. Ele também escreve sobre a urgências das reformas administrativa e tributária, de um novo regime fiscal e de privatizações _ temas que Moro passou a recitar nas conversas como candidato.

Inteligente, Pastore se apresou em descartar a hipótese de ser um novo “Posto Ipiranga” e, pela idade, de virar ministro em um eventual governo Moro. “O que me anima é que ele (Moro) está disposto a me ouvir. Eu vou dizer o seguinte: ele tem uma noção muito clara dos problemas econômicos e é capaz de colocar perguntas inteligentes que encaminhem a discussão para respostas que façam sentido. É uma coisa muito diferente de uma relação de economista com alguém que não entende nada e não quer entrar na discussão”, disse ao Estadão, aludindo em como ele imaginar ser a relação de Guedes com Bolsonaro.

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É difícil, por enquanto, comprovar a afirmação de que Moro faz “perguntas inteligentes” porque o ex-juiz tem evitado entrevistas. Ele deu entrevistas amigas na TV Globo, a um ex-apresentador do Big Brother Brasil, e a um site que o apoia ostensivamente. Numa visita de cortesia à agência de notícias Bloomberg, Moro respondeu rapidamente algumas perguntas, defendendo um “capitalismo cristão”, seja lá o que isso for. Na entrevista à TV Globo, Moro reproduziu generalidades como “temos que controlar esses aumentos de combustíveis com as políticas econômicas certas” (o que faria sentido se ele identificasse as política erradas).

Por breves períodos, o Brasil teve ministros da Fazenda que realmente exerciam o poder no limite. Delfim Netto no governo Medici (1969-74) aproveitou o AI-5 para mudar os impostos cobrado pelos Estados, Dílson Funaro decidiu manter o congelamento de preços em 1986 para cimentar suas ambições políticas e em 1993 FHC autorizou a compra da dívida externa brasileira no mercado secundário com a ordem de que Itamar Franco não fosse informado. Mas são exceções e todas com presidentes que não foram eleitos. Todos os demais ocupantes do 5.o andar do Ministério da Fazenda tiveram de negociar suas decisões com os outros ministros, o Congresso, o STF, a opinião pública e, por último, mas não em último lugar, o presidente.

Quem assumir o Brasil em 2023 terá como herança uma recessão, um regime fiscal destrambelhado e um câmbio desequilibrado _ isso na hipótese mais otimista. Depois da experiência catastrófica de Guedes como superministro, tudo que o País não precisa é de um candidato use um fiador como escudo para não responder questões essenciais sobre inflação, desemprego e desigualdade. Não dá mais para ter candidato se escondendo atrás de Postos Ipirangas.

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