A vitória acachapante de Arthur Lira e Rodrigo Pacheco nas eleições para presidente da Câmara e Senado, respectivamente, rendeu uma espécie de consolo para os antibolsonaristas. Como Lira e Pacheco fazem parte do Centrão – a geleia de partidos que apoia qualquer governo em troca de emendas e cargos -, seria na ótica desses oposicionistas uma questão de tempo para que eles enquadrassem Bolsonaro com sua insaciabilidade. De uma hora para outra, políticos razoáveis passaram a ter saudades de quando Eduardo Cunha chantageava o governo Dilma Rousseff enquanto ajudava a empurrar o país para a pior recessão do século.
O problema deste raciocínio é achar que Bolsonaro e o Centrão são diferentes. São farinha do mesmo saco. Bolsonaro nasceu para a política como um sindicalista de quarteis dentro de uma miríade de legendas do que hoje se chama Centrão: PDC, PPR, PPB, PTB, PFL, PP, PSC e PSL. Ganha uma caixa de cloroquina quem enumerar uma diferença ideológica entre esses partidos.
Nesta quarta-feira, Bolsonaro recebeu Arthur Lira e Rodrigo Pacheco para uma foto oficial e depois divulgou a lista dos projetos que o Executivo considera prioritários para serem votados na Câmara e no Senado. A lista é uma árvore de Natal para agradar os bolsonaristas do agro, dos policiais, evangélicos, caminhoneiros e mercado financeiro, ou as bancadas dos 5Bs: Boi, Bala, Bíblia, Boleia e Bovespa.
Para a bancada do Boi:
· Flexibilização do licenciamento ambiental
· Concessões de florestas públicas para a iniciativa privada
· Regularização de terras invadidas por fazendas
· Autorização para mineração em terras indígenas
Para a bancada da Bala
· Atenuantes para policiais e soldados que matarem em serviço
· Liberação venda, posse e porte de armas
· Aumento de pena para abuso de menores
· Transformação da pedofilia em crime hediondo
Para a bancada da Bíblia
· Regularização da escola em casa
· Endurecimento da Lei de drogas
· Alterações no estatuto do indígena para punir infanticídio
Para a bancada da Boleia
· Cobrança eletrônica de pedágios
· Documento único de Transportes
Para a Bancada da Bovespa:
· Privatização da Eletrobras
· Reformas constitucionais Emergencial, Fundos Públicos e Pacto Federativo, Administrativa, Tributária
· Marcos regulatórios para petróleo, gás, ferrovias, câmbio e startups
· Teto remuneratório para servidores
· Autonomia no Banco Central
Parte desses projetos ficará pelo caminho (privatização da Eletrobras e a reforma tributária), mas é fundamental registrar que se Arthur Lira e Rodrigo Pacheco tivessem feito a lista ela incluiria quase os mesmos itens. Porque o Centrão é a confluência das bancadas da Bala, Boi e Bíblia e isso explica a sua identificação natural com o bolsonarismo.
É fato que Bolsonaro não pretende repartir seu poder com ninguém e, por isso, é factível supor que haverá conflitos na sua relação com Lira e Pacheco. Faz parte do jogo político. Os congressistas querem lotear os ministérios e Bolsonaro vai resistir não porque tenha algum impedimento moral, mas porque assim ele perde o controle de parte do governo. Imaginar, no entanto, que Bolsonaro e o Centrão são espécies diferentes é o autoengano da oposição. São iguais e devem seguir juntos até 2022.