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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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Doze perguntas-chave para 2021, um ano sem ‘anabolizantes’

Além da vacinação contra a Covid-19, outras questões são essenciais para entender como será o ano que chega

Por Thomas Traumann
Atualizado em 28 dez 2020, 13h07 - Publicado em 28 dez 2020, 13h01

2021 será 2020 sem anabolizantes. O fim da flexibilidade do orçamento de guerra devolve a responsabilidade do tesouro aos limites de um déficit de R$247 bilhões ante um rombo de quase R$ 800 bilhões neste ano. Acaba a distribuição do Auxílio Emergencial e a anistia temporária das dívidas federais dos Estados, enquanto os dados sanitários mostram um repique nos números de contaminados e mortos por Covid-19 sem que o governo tenha um plano efetivo de vacinação em massa.

A seguir algumas das variáveis que podem dar o tom do próximo ano:

Haverá uma segunda onda de Covid-19?

O Brasil chegará a 200 mil mortos pelo coronavírus nos primeiros dias de 2021.

O gráfico por data de morte por Covid no Brasil revela que o pico da letalidade foi em maio, com 1.172 vítimas em um único dia. Esse número caiu e voltou a subir na terceira semana de julho, quando chegou a 1.044 mortes por dia. A partir daí, de acordo com levantamento do Poder360 com base nos dados informados pelas secretarias estaduais de saúde, houve uma queda contínua até novembro. Em dezembro, o número de casos registrados voltou a cresceu no formato do “V da Nike”, que Paulo Guedes imaginava para a economia. Hospitais de São Paulo, Rio, Porto Alegre, Curitiba, Florianópolis estão lotados e perto do esgotamento.

Nas ruas, no entanto, o vírus da ignorância é mais poderoso. Os bares, shoppings e rodoviárias das principais cidades estão lotados. A paciência do cidadão comum se foi e com ela os cuidados que minimizaram a propagação do vírus. Uma segunda onda de coronavírus, como ocorre hoje na Europa e nos EUA, pegará o Brasil com hospitais lotados, uma sociedade arredia à quarentena e um Ministério da Saúde catatônico.

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Bolsonaro vai prejudicar a vacinação?

As duas farmacêuticas com contratos para distribuir vacinas no Brasil, a AstraZeneca e a Sinovac, adiaram para meados de janeiro a apresentação dos resultados da terceira fase de testes com cobaias. A britânica AstraZeneca teve falhas nos ensaios e agora tenta um acordo com os russos da Gamaleya para desenvolver um novo antivírus. A chinesa Sinovac, que deveria apresentar seus dados nesta quarta-feira (23/12), adiou a divulgação pela segunda vez. A Pfizer não respondeu ao pedido de encomenda do Ministério da Saúde por não ter estoques para entregar.

O Ministério da Saúde tem um cronograma frouxo de vacinação. O documento do Ministério prevê que brasileiros com mais de 70 anos comecem a ser vacinados em março e que até setembro 50 milhões estejam imunizados. É pouco. O Brasil tem 162 milhões de pessoas com mais de 18 anos e sem uma vacinação em massa não há como apostar em uma retomada da economia.

Porta-voz do negacionismo e do boicote à vacinação, o presidente Jair Bolsonaro disse na quarta-feira que a melhor vacina “é o próprio vírus”. Desde que o presidente iniciou sua campanha de descrédito da vacina, dobrou a quantidade de brasileiros que não pretende se imunizar.

Qual será a reação popular ao fim Auxílio Emergencial?

Ao longo de dez meses, o Auxílio Emergencial impediu o Brasil de explodir. Mais de 66 milhões de trabalhadores informais e desempregados receberam inicialmente R$ 600 e depois R$ 300 que impediram o aumento da miséria, movimentaram o comércio e, em alguns pontos do Nordeste, reduziram as desigualdades. Isso acaba em janeiro. Mais da metade dessas pessoas não está em nenhum programa social e voltará ao mercado de trabalho num momento de economia parada. Na quarta-feira (23/12), o IBGE constatou que o número de desempregados ultrapassou 14 milhões. Sabe-se que esse dado está subnotificado em função dos que até dezembro viviam com o auxílio.

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Como será a relação de Biden com Bolsonaro?

Por vias transversas, o Brasil é um ponto relevante do início do governo Biden. O secretario especial de Ambiente, John Kerry, deve tentar logo nos primeiros meses do novo governo colocar de pé um acordo no qual os EUA banquem um fundo internacional de proteção à Amazônia e o Brasil concorde com metas de redução de desmatamento. Bolsonaro já repetiu que uma proposta dessas configuraria um atentado à soberania nacional. A condução desse impasse será decisiva para a relação dos dois governos.

Quem irá presidir Câmara e Senado?

O favorito na disputa na Câmara é o líder do Centrão, Arthur Lira, que tem o apoio de Bolsonaro e toda a geleia de partidos que adere a todo governo. Finalmente na quarta-feira (23/12), o grupo de Rodrigo Maia anunciou que o deputado Baleia Rossi será o candidato à presidência da Câmara. Ligado ao ex-presidente Michel Temer, Baleia é um candidato com trânsito ruim na esquerda, essencial para tentar equilibrar o jogo.

A obrigação de vencer é de Bolsonaro. Se o candidato de Bolsonaro perder, o presidente fica sem o controle da agenda da Câmara nos dois anos finais do governo. Se ganhar, poderá colocar em votação temas populares entre seus militantes, com mais liberdade para garimpeiros e grileiros na Amazônia, menos direitos para mulheres em caso de aborto, a liberação de armas e o voto impresso nas eleições.

Se perder o controle da Câmara, a oposição vai passar dois anos vivendo de notas de repúdio e editoriais de jornais que ninguém lê.

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No Senado, todos os candidatos são simpáticos a Bolsonaro.

Mesmo com a pandemia, o Congresso votou o orçamento de guerra, o auxílio emergencial, o Fundeb, a Lei do Gás e a nova Lei de Falências. Para 2020 ficaram as propostas das reformas tributária e administrativa, as renegociações das dívidas dos Estados, privatizações e BC independente.

É a última chance dessas pautas. Em 2022, é improvável que algo de relevante seja votado.

As Forças Armadas seguirão 100% com o governo?

Arquiteto da adesão total do Exército ao governo Bolsonaro, o general Luiz Ramos está desgastado. Os filhos do presidente o odeiam, os políticos do Centrão querem seu cargo e muitos generais o culpam pelo desgaste com a nomeação de um general despreparado para o Ministério da Saúde.

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A forma como Bolsonaro o substituir ou o deslocar para outro cargo deve definir a sua relação com as Forças Armadas.

Qual será o partido de Bolsonaro?

Sem partido desde que largou o PSL em novembro de 2019, Bolsonaro indicou que deve escolher uma legenda em 2021, a tempo de seus correligionários se organizarem. As opções são tentar um novo partido nanico ou, se Arthur Lira vencer a presidência da Câmara, alguma legenda do Centrão. Qualquer movimento vai precipitar o deslocamento das forças políticas para 2022.

Luciano Huck vai assumir a candidatura?

O apresentador Luciano Huck flerta com a possibilidade de ser candidato desde 2018, mas 2021 deve ser o seu deadline. Os partidos que hoje o apoiariam – Democratas, PSD e Cidadania – precisam de tempo para se organizar. Se a aliança em torno de Rodrigo Maia vencer a Câmara, a pressão sobre Huck será enorme, assim com a ansiedade sobre a Globo e os anunciantes de seu programa. Caso Bolsonaro vença na Câmara, Huck terá um dilema.

O STF vai cancelar a condenação de Lula?

A segunda turma do STF deve recomeçar o julgamento do pedido de suspeição do ex-juiz Sergio Moro na primeira condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Há dois contra Lula e dois indicados a favor. A decisão deve ficar com o novato do STF, Kássio Nunes Marques, indicado por Bolsonaro.

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Mesmo se o STF considerar que Moro foi parcial no julgamento, Lula não estará em condições de ser candidato de 2022, já que tem outra condenação. O efeito político a favor do PT, no entanto, permitiria ao partido sair das cordas depois da derrocada das eleições municipais.

Se não quiser chegar a 2022 como coadjuvante, o PT precisa definir seu candidato ao longo do ano.

O BC vai resistir à pressão da inflação?

As altas nos preços dos alimentos e da energia no final deste ano devem fazer com que a inflação medida pelo IPCA em doze meses ultrapasse a meta entre abril e agosto. Por mais que a tendência vista de hoje seja de uma redução da inflação, os índices acima de 5,5% ao ano vão pressionar o Banco Central a subir a taxa Selic.

O Brasil terá problemas para pagar seus títulos?

Entre janeiro e abril, o Tesouro Nacional terá de quitar ou rolar R$ 643 bilhões em títulos – o equivalente a 15,4% da dívida interna brasileira, num momento em que cresce a desconfiança com a sustentabilidade das contas públicas. Em dezembro, depois da eleição de Biden, o mercado entrou num ritmo otimista que facilitou a rolagem das dívidas, mas nada assegura que esse humor prossiga até a Páscoa.

Paulo Guedes vai aguentar?

O ministro da Economia terminou o ano menor que entrou. Sua personalidade abrasiva gerou desgastes dentro do governo, com ministros como Jair Marinho e Braga Neto, no Congresso e com os bancos. Sua capacidade de mobilizar o mercado foi perdida a tal ponto que na semana passada uma entrevista sua falando sobre uma tentativa de impeachment do presidente teve repercussão nula.

Ministros da Economia fracos são sintoma de um governo disfuncional.

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