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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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Biden não irá ‘sacar primeiro’ contra Brasil

Plano do novo governo dos EUA é pressionar Bolsonaro a assinar plano de proteção à Amazônia até novembro

Por Thomas Traumann
Atualizado em 18 mar 2021, 10h24 - Publicado em 23 jan 2021, 08h49

O governo de Joe Biden não irá “sacar primeiro” suas armas contra Jair Bolsonaro, mas terá “pouca paciência” para que o governo brasileiro demonstre resultados efetivos no combate ao desmatamento e queimadas na Amazônia, relataram a VEJA assessores da nova administração americana. As relações do governo Biden com o Brasil, informaram os assessores, serão tocadas preferencialmente pelo secretário especial de Ambiente, John Kerry, com pouca influência do secretário de Estado, Antony Blinken.

Ex-secretário de Estado na gestão Obama e candidato derrotado a presidente em 2004, Kerry, de 77 anos, entrou no governo Biden com a missão de responder aos eleitores da ala ambientalista do partido Democrata. A nova missão no governo Biden é também uma oportunidade para Kerry recuperar seu lugar na política depois do fracasso na ação americana na Síria e na Coreia do Norte. Estar no seu radar não é necessariamente uma boa notícia para Bolsonaro.

Como secretário de Estado, o único sucesso de Kerry foi o Acordo Climático de Paris, do qual os EUA foram retirados por Donald Trump e reincluídos por Biden em seu primeiro dia de governo. Recuperar o protagonismo americano no debate do aquecimento global é a prioridade zero de Kerry e isto pode implicar em uma relação tensa com o Brasil.

O plano de Kerry é chegar em novembro, na Conferência de Mudanças Climáticas da ONU, em Glasgow, com um acordo assinado pelo Brasil e outros países da América do Sul no qual, em troca de um financiamento na casa das dezenas de bilhões de dólares, eles se comprometam a metas mensuráveis de preservação da Floresta Amazônica. Sob pressão, é possível que o governo Bolsonaro assine o acordo, mas os assessores da Casa Branca dizem saber que é ilusão imaginar que o governo Bolsonaro mude sua postura sobre meio ambiente. “As medidas de sucesso no acordo serão controladas pelos EUA e outros países doadores”, explicou um assessor.

Os dois anos do governo Bolsonaro bateram recordes dos últimos dez anos em área desmatada e queimada na Amazônia. Em 2019 e 2020, foi destruída uma área de Floresta Amazônica correspondente ao tamanho do Estado de Israel, e não há qualquer indicação de redução. Para este ano, o governo Bolsonaro reduziu o orçamento do Ministério do Meio Ambiente ao menor valor em quase vinte anos. Os recursos previstos para o Ibama gastar em fiscalização de incêndios será de R$ 14 milhões. Para comparar as prioridades, Bolsonaro gastou no ano passado R$ 89,6 milhões para comprar cloroquina, ivermictina e outros remédios de charlatão contra o coronavírus.

Enquanto na agenda Kerry os encontros da ONU são prioridade para resultados multilaterais, para o time Bolsonaro é um teatro de guerra. Na reunião da ONU sobre mudanças climáticas em Madri, em 2019, o governo Bolsonaro enviou agentes da Abin com credenciais da delegação brasileira para espionar “campanhas internacionais sórdidas e mentirosas, apoiadas por maus brasileiros, com objetivo de prejudicar o Brasil”, nas palavras do ministro general Augusto Heleno.

A diplomacia do governo Bolsonaro é feita com um olho na vibração dos militantes antiglobalistas do Twitter e outro nos votos dos garimpeiros invasores da reserva ianomâmi, dos grileiros de terra em Santarém e dos pecuaristas de área desmatada em Colniza. Supor que Bolsonaro irá abandonar esses eleitores em troca de uma foto sorridente com Joe Biden ou John Kerry é ilusão.

Na Conferência de Paris, Kerry trabalhou em conjunto com a delegação brasileira, liderada pela então ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, escolhida como uma das negociadoras chefe do Acordo com apoio dos EUA. Como secretário de Estado, ele esteve no Brasil duas vezes — em 2013, quando não conseguiu atenuar a irritação da presidente Dilma Rousseff com a descoberta da espionagem da agência NSA sobre o Planalto — e para a abertura das Olimpíadas de 2016, numa espécie de aprovação ao recém-empossado governo de Michel Temer. Com Bolsonaro, as desconfianças de parte a parte serão maiores.

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