Relâmpago: Assine Digital Completo por 1,99
Imagem Blog

Nova Temporada

Por Fernanda Furquim Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Este é um espaço dedicado às séries e minisséries produzidas para a televisão. Traz informações, comentários e curiosidades sobre produções de todas as épocas.

Vale a pena rever ‘Combate’

Um dos grandes temores de quem é fã de séries é o de descobrir que uma produção que considerou muito boa quando viu pela primeira vez não sobreviveu à passagem dos anos. As mudanças narrativas, estéticas e de abordagem de temas que ocorrem década por década fazem com que as produções mais antigas se tornem, muitas vezes, ultrapassadas […]

Por Fernanda Furquim Atualizado em 1 dez 2016, 18h48 - Publicado em 12 out 2016, 16h45
(E-D) Vic Morrow, Rick Jason, Pierre Jalbert e Dick Peabody (Fotos: ABC/Arquivo)

(E-D) Vic Morrow, Rick Jason, Pierre Jalbert e Dick Peabody (Fotos: ABC/Arquivo)

Um dos grandes temores de quem é fã de séries é o de descobrir que uma produção que considerou muito boa quando viu pela primeira vez não sobreviveu à passagem dos anos.

As mudanças narrativas, estéticas e de abordagem de temas que ocorrem década por década fazem com que as produções mais antigas se tornem, muitas vezes, ultrapassadas a ponto de ser difícil de assisti-las, mesmo quando se é fã delas. Desta forma, existem aqueles que resistem em rever (ou mesmo em conhecer) uma série de um passado mais distante.

Mas existem várias produções antigas que conseguiram passar pelo teste do tempo e precisam ser relembradas, ou conhecidas, por aqueles que se consideram fãs de séries. Combate é uma delas.

Continua após a publicidade

Combate DVD1Sua última exibição, que se tem notícias, foi em 2009, pelo canal TCM. A série voltou agora, no último mês de junho, quando a Cultline Vídeo lançou o volume 1 da primeira temporada. Ao todo, foram lançados dezesseis episódios de um total de 32. Ainda não há informações sobre quando o volume 2 será lançado, nem tampouco se a distribuidora pretende disponibilizar a série completa, que tem cinco temporadas produzidas, com 152 episódios.

Considerada a primeira série de guerra com uma abordagem realista da TV americana, Combate sobreviveu à passagem dos anos graças à forma como tratou do tema e trabalhou a relação dos personagens com o ambiente na qual é situada.

Combate foi criada por Robert Pirosh (1910–1989), roteirista do filme O Preço da Glória (1949), que lhe rendeu um Oscar. Ele serviu na 2ª Guerra Mundial, tendo passado por diversas situações que depois foram retratadas na série. No início da década de 1960, Pirosh escreveu o roteiro de O Inferno é Para Todos, filme estrelado por Steve McQueen, com quem se desentendeu durante as filmagens, o que o levou a se afastar da produção.

Em 1962, ano em que O Inferno é Para Todos foi lançado nos cinemas, Pirosh procurou a Selmur Productions e lhe ofereceu o projeto de Combate, que foi criada com o objetivo de homenagear os soldados comuns que combateram na 2ª Guerra Mundial. Este é o motivo pelo qual a série não traz uma abordagem que enaltece o conflito ou a atuação dos aliados. Ao contrário, apresenta uma visão mais realista da situação vivida por eles, dando também voz aos soldados alemães e aos civis franceses, que falam em seus respectivos idiomas (sem legendas, o que deixa o telespectador na mesma situação que os aliados).

A Selmur Productions era uma empresa criada por Selig J. Seligman (1918-1969) e sua esposa Muriel Bienstock Seligman (1922-2015), daí o nome da produtora Sel-Mur. Selig era um ex-advogado (dizem que ele fez parte da equipe de advogados no julgamento de Nuremberg) que também tinha sido Vice Presidente da ABC, rede que na época estava sob o comando de Leonard Goldenson. Para ele, foi fácil convencer Goldenson a encomendar a produção de um piloto de Combate para avaliação.

Continua após a publicidade

Mas, ao aprovar a produção da primeira temporada, a ABC exigiu o afastamento de Pirosh. Assim, contrataram Robert Blees como produtor e Robert Altman (antes da fama no cinema) como diretor e responsável por criar uma identidade estética para a série. Ainda na primeira temporada, Blees deixou a produção em função de conflitos artísticos que surgiram entre ele e Altman. Este também deixaria a produção no final da temporada por causa do eterno conflito artístico x orçamento. Os dois foram substituídos por Gene Levitt, que posteriormente foi substituído por Georg Fenady.

(E-D) Pierre Jalbert, Vic Morrow e Shecky Greene.

(E-D) Pierre Jalbert, Vic Morrow e Shecky Greene.

A série foi produzida entre 1962 e 1967, com quatro temporadas filmadas em preto e branco e a quinta e última em cores. Considerando que o objetivo de Combate era o de acompanhar a vida de soldados comuns, a série não trabalhou com eventos históricos importantes.

Continua após a publicidade

A primeira temporada inicia com a chegada dos americanos na Normandia (vista rapidamente) e se estende até a tomada de Paris (que não é apresentada, apenas mencionada). A partir da segunda temporada, as histórias são situadas após a libertação da capital francesa, sendo que a linha histórica dos eventos não é retratada fielmente.

Combate apresenta roteiros com uma abordagem à frente de seu tempo, retratando as consequências da guerra para os três lados envolvidos (aliados, alemães e franceses), levantando questionamentos morais sobre o conflito, bem como a postura positiva ou negativa de superiores e subordinados. Recheada de cenas de ação, a série também fez uso de movimentos de câmera, iluminação e enquadramentos ousados para a época (ao menos, na TV). Tudo isso faz com que a série possa ser facilmente acompanhada por qualquer telespectador acostumado às narrativas atuais.

Os episódios apresentam as aventuras do segundo pelotão da Companhia King (King Two), comandado pelo Tenente Gil Hanley (Rick Jason, 1923-2000). Seu grupo era formado pelo Sargento Chip Saunders (Vic Morrow, 1929-1982), que liderava as patrulhas; e os soldados Kirby (Jack Hogan), Caje (o franco-canadense Pierre Jalbert, 1925-2014), único do grupo que falava francês, Littlejohn (Dick Peabody, 1925-1999), Doc (Steven Rogers, na 1ª temporada, e Conlan Carter, nas demais), Billy (Tom Lowell, nas duas primeiras temporadas) e Braddock (Shecky Greene, na 1ª temporada).

Jason e Morrow dividiam os créditos da série. Assim sendo, os episódios eram ora estrelados por um, ora por outro. Por vezes, a produção oferecia um episódio que apresentava os dois atuando juntos em uma missão.

O piloto produzido para avaliação serviu para introduzir alguns personagens. A história mostra o grupo ainda na Inglaterra, pouco antes de ser enviado à Normandia. Neste momento, vemos os personagens mais leves e brincalhões em relação ao que é apresentado na série, que tem início meses depois do desembarque.

Continua após a publicidade
(E-D) Pierre Jalbert e Jack Hogan.

(E-D) Pierre Jalbert e Jack Hogan.

Outra diferença entre o piloto e a série é a patente de Hanley. No piloto, ele é um sargento como Saunders, de quem é amigo, mas rival no que se refere às mulheres. Para exibir o piloto na TV, a produção filmou uma cena no tempo presente, na qual Saunders relembra o desembarque, dizendo que ocorreu antes de Hanley ser promovido a 2º Tenente. A partir da promoção, Hanley e Saunders passaram a ter uma relação mais profissional, de superior e subordinado, embora mantivessem a amizade.

Continua após a publicidade

A série não mostra ou explica como o inexperiente Hanley subiu de posto. O desembarque na Normandia foi seu primeiro contato com a guerra. Oficial dedicado, Hanley se preocupa em realizar suas missões, sem se esquecer dos homens que estão sob seu comando, embora ele deixe para Saunders a responsabilidade de lidar com os problemas de cada um no dia a dia. Razão pela qual o pelotão demonstre ter mais confiança e respeito por Saunders que por Hanley.

Embora Jason estrele vários episódios, é Morrow quem mais se destaca na série. Mesmo não sendo um militar de carreira, Saunders é um veterano de guerra, tendo participado de missões na África e na Itália. Em algum momento, por algum motivo não explicado, ele perdeu a patente de Sargento (algo que é mencionado no primeiro episódio), recuperando-a pouco antes do desembarque na Normandia.

Desde então, se tornou um soldado preocupado em realizar suas missões, muito embora questione diversas vezes as decisões dos superiores, especialmente aqueles que estão acima de Hanley. Para Saunders, completar a missão é muito mais que uma questão de honra, é a garantia de que poderá contribuir com algo para salvar a vida de um número maior de pessoas, além daquelas que estão sob seu comando. Ele deseja o fim rápido da guerra e se tiver que mover céus e terra para alcançar este objetivo, ele fará. O que pode fazer parecer em vários momentos que ele não se importa com sua própria vida ou com as dos demais. Ao contrário disso, Saunders dá mais valor à vida que muitos que estão sob seu comando, ou acima dele. Em um episódio, vemos Saunders em licença em Londres, onde se envolve com uma mulher que cuida de órfãos de guerra. Neste momento, podemos perceber o quanto Saunders se adaptou aos campos de batalha, onde sabe o que fazer e como. Na cidade, em meio à civilização, Saunders parece ser uma pessoa sem rumo.

No pelotão também está Kirby, um soldado que, no início, se apresenta como um sujeito de pavio curto, sempre reclamando da situação em que se envolve, ou criticando os outros, bem como se metendo em brigas. Mas é um dos melhores atiradores do pelotão e um homem com quem se pode contar em uma missão. Ao longo das temporadas, conforme vai ganhando mais experiência na guerra, Kirby atenua seu temperamento. Quando a série termina, ele já se apresenta como uma pessoa mais paciente e consciente.

No piloto, Caje (que era chamado de Caddy) se apresenta como um jovem alegre que parece não perceber a realidade da guerra. Esta se escancara diante de seus olhos no desembarque na Normandia, quando seu melhor amigo é morto. Após passar por um momento de incredulidade e terror, Caje se estabelece como um soldado de confiança de Saunders, que em algumas ocasiões o coloca no comando da patrulha quando precisa se afastar do grupo. Um hábil atirador, Caje geralmente é enviado como batedor nas missões que Saunders recebe.

Entre os demais, Littlejohn (que na dublagem em português era chamado de Baixinho) é um homem que sempre busca ver o lado bom das pessoas e das coisas; meio desajeitado, o que às vezes coloca o pelotão em uma situação de perigo, ele consegue manter sua integridade moral em meio a uma guerra sangrenta; Billy, o melhor amigo de Littlejohn, não é um dos melhores soldados do pelotão; meio desligado, o que o leva a confundir as coisas, Billy se torna o mascote do grupo, que pode contar com ele para proteger a retaguarda. Já Braddock é o espertinho do pelotão, sempre buscando uma forma de ganhar dinheiro fácil, ou uma posição privilegiada, com sua lábia. Seu maior desejo é o de voltar para casa, mas morre de medo de ser ferido (ou coisa pior) em alguma missão. Mesmo assim, consegue manter a calma nas situações mais difíceis ou perigosas.

O primeiro Doc do pelotão é um sujeito jovem e sensível que tem dificuldades em aceitar as mortes que ocorrem ao seu redor. Já o segundo Doc, que permaneceu ao longo de quatro temporadas, é um sujeito mais experiente, que compreende e aceita sua situação, agindo rapidamente sempre que é chamado. Ele não era um médico quando foi convocado. Este treinamento ele recebeu durante o período de preparação antes de embarcar para a Europa. Assim sendo, seu conhecimento é limitado aos ferimentos que encontra nos campos de batalha. Em alguns momentos, Doc se vê em situações que o levam a questionar sua posição de não combatente, por outros, mantém sua obrigação de salvar vidas (sejam elas quais forem).

Os melhores episódios da série se concentram entre a segunda e quarta temporada, sendo que os melhores dos melhores são Glory Among Man (2ªT), no qual Saunders e seu grupo precisam resgatar um soldado ferido que está sob a mira dos alemães; O Grito nas Ruínas/Cry in the Ruins (3ªT), no qual Hanley e seus homens são obrigados a se unirem aos alemães para ajudar a resgatar o bebê de uma mulher francesa preso nas ruínas de uma casa; Odyssey (3ªT), no qual Saunders acorda em um acampamento alemão, sendo tratado como um soldado nazista ferido; Mais que um Soldado/More Than a Soldier (3ªT), no qual Saunders e um de seus comandados ficam presos em uma caverna com um soldado alemão; Não Tema o Mal/Hear no Evil (4ªT), no qual, após uma batalha, Saunders descobre que perdeu a audição e precisa voltar sozinho para junto dos aliados; e Hills are for Heroes (4ªT), em duas partes, no qual Hanley e seus homens têm a missão de tomar os bunkers de uma colina ocupada por alemães muito bem armados. Todos, com exceção de Hear no Evil , More Than a Soldier e Odyssey, foram dirigidos por Morrow, sendo que Hills are for Heroes é considerado por muitos críticos como um dos melhores ‘filmes’ sobre guerra já produzidos em Hollywood.

(E-D) Hanley,

(E-D) Hanley, Caje, Braddock  Saunders

Ao longo de sua produção, a série trabalhou vários temas recorrentes, como a chegada de novatos ao pelotão ou missões nas quais os soldados são cercados por alemães e precisam encontrar uma maneira de escapar ou eliminar o inimigo. Em muitas situações, Saunders agia como um MacGyver, sendo obrigado a elaborar na última hora planos de fuga ou de conquista do território utilizando apenas o que tem em mãos. Mas apesar dos temas recorrentes, a série consegue oferecer situações dramáticas bem desenvolvidas que compensam as repetições. É claro que existem vários episódios dispensáveis ao longo da produção de cinco temporadas, mas eles não chegam a comprometer a qualidade final da série.

No box lançado pela Cultline, temos bons episódios que desenvolvem o ambiente, mas que não necessariamente retratam o melhor que a série tem a oferecer. Para quem não conhece a produção, o box é uma boa apresentação. Para aqueles que já são fãs, esta é uma forma de ter alguns episódios em sua coleção de DVDs (muito embora Combate já tenha sido lançada completa nos EUA há vários anos, estando também disponível no YouTube).

Por ter sido desenvolvida por duas pessoas com visões opostas, Blees e Altman, a primeira temporada não estabelece muito bem o perfil da série. Blees queria episódios que valorizassem a amizade entre os soldados, contando histórias sobre o pelotão; já Altman queria episódios que valorizassem o indivíduo, forçando a produção de episódios estrelados por um único soldado. Assim, temos um pouco dos quais: histórias sobre o pelotão e episódios que giram em torno de um único personagem (não apenas Saunders ou Hanley, mas também episódios estrelados por Braddock e Doc, por exemplo).

Os dezesseis episódios que aparecem no box lançado são A Day in June, Any Second Now, Just For The Record, The Squad, Lost Sheep, Lost Shepherd, Forgotten Front, Missing in Action, Rear Echelon Commandos, Escape to Nowhere, The Celebrity, The Chateau, The Prisoner, Cat and Mouse, Reunion, Far From the BraveThe Quiet Warrior. O volume 1 também oferece como Extra entrevistas com alguns dos atores e produtores, que compartilham suas lembranças das filmagens.

Entre estes episódios, se destacam A Day in June, por ser o piloto que introduz vários personagens que farão parte da série; Any Second Now, em que Hanley fica preso em uma casa bombardeada, na qual uma das bombas ainda não explodiu; Just for the Record, em que Saunders precisa contar com a ajuda da amante de um oficial alemão para fugir; e Cat and Mouse, no qual Saunders e o sargento de outro pelotão ficam escondidos no sótão de uma casa que é ocupada por alemães.

Combate foi uma das séries mais caras produzidas na década de 1960, em função das cenas de ação. Levitt, um dos showrunners, deixou a produção ao final da quarta temporada porque se desentendeu com Morrow, que ultrapassou o orçamento ao levar vinte e um dias para completar as duas partes de Hill Are For Heroes, quando um episódio normal  levava seis dias para ser filmado e editado. Quando a série entrou em sua quinta temporada, passou a ser filmada em cores, o que  elevou ainda mais seu orçamento. Mas muitos críticos acreditam que, ao fazer uso da cor, a série perdeu seu charme e seu visual mais artístico.

Seja como for, ela foi cancelada pela rede ABC, que em seguida encomendou a produção de Os Guerrilheiros/Garrison’s Gorillas, outra série de guerra que tinha um orçamento mais baixo. Inspirada no filme Os Doze Condenados/The Dirty Dozen, esta série girava em torno de um oficial que se vê obrigado a realizar missões com um grupo de soldados que foram condenados à prisão por praticar diversos golpes. Para baratear ainda mais o custo de produção, Os Guerrilheiros reaproveitou os cenários, acessórios e veículos utilizados na produção de Combate. A série não conseguiu se estabelecer, sendo comparada negativamente com Combate, o que levou ao seu cancelamento após a produção de 26 episódios.

Cliquem nas fotos para ampliar.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

ECONOMIZE ATÉ 88% OFF

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 1,99/mês

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai por menos de R$ 9)
A partir de 35,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
Pagamento único anual de R$23,88, equivalente a R$ 1,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.