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Sucesso ‘Missa da Meia-Noite’ usa horror para refletir sobre fé e religião

Nova minissérie de Mike Flanagan, mesmo de diretor de 'A Maldição da Residência Hill', é instigante — e pavoroso — estudo sobre fanatismo e ateísmo

Por Marcelo Canquerino Atualizado em 29 set 2021, 14h12 - Publicado em 29 set 2021, 11h36

A fé de uma pessoa pode se esvair diante de situações extremas, como no caso de ela tirar a vida de outro ser humano acidentalmente? Eis o dilema que se abate sobre o revoltado Riley Flynn (Zach Gilford) após ter causado a morte de uma jovem garota enquanto dirigia alcoolizado. “Por que Deus me deixou viver e não a ela?”, questiona-se ele. Descrente e tomado por uma culpa que passa a assombrá-lo sem trégua, ele aceita sua penitência e, depois de passar alguns anos na cadeia, decide voltar a viver na casa dos pais na longínqua ilha de Crockett, no litoral do estado de Washington, Estados Unidos. Junto com sua chegada, porém, um novo padre aparece para substituir o antigo monsenhor do povoado, e começa a realizar alguns “milagres” – o que mexerá drasticamente com a estrutura de vida dos moradores da região. Nesse cenário que mescla a monstruosidade real das pessoas com o sobrenatural, o cineasta Mike Flanagan concebeu uma de suas melhores produções até o momento — Missa da Meia-Noite.

Entrelaçando discussões sobre religiosidade e fé, a nova minissérie de sucesso da Netflix tece uma narrativa que instiga pela estranheza e pela sensação constante de que há algo errado com os habitantes daquela ilha. Envoltos por esta atmosfera, os diálogos brincam com a dualidade entre os que acreditam em Deus (ou seja, praticamente todos de Crockett) e aquele que é ateu, caso único de Riley. Entre conversas com o padre Paul, vivido  com brilho por Hamish Linklater, o protagonista traz à tona críticas à corrupção na Igreja Católica e questiona aqueles que consideram as tragédias como “dádivas divinas”. 

A série possui muitos diálogos que levantam debates sobre fé e religiosidade.
A série possui muitos diálogos que levantam debates sobre fé e religiosidade. (Netflix/Divulgação)

Como quem não quer nada, o horror sobrenatural vai ganhando espaço aos poucos e, quando menos se espera, se funde à trama principal. Assim como em A Maldição da Residência Hill, Flanagan faz um ótimo balanço entre os dois elementos da história, relembrando sempre que, muitas vezes, pessoas supostamente do bem podem se revelar piores do que monstros. A tese toma forma na personagem de Bev Keane (Samantha Sloyan), uma fundamentalista religiosa que coloca seus princípios sagrados — e totalmente deturpados — acima de tudo. O padre Paul também cai nas armadilhas de sua própria fé ao pensar que traria a salvação para o povo de Crockett – quando, na verdade, traz morte e caos. 

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Antes de sua estreia, Missa da Meia-Noite recebeu elogios fervorosos de ninguém menos do que Stephen King, mestre da literatura de horror e fantasia. “Mike Flanagan criou um denso e lindamente fotografado conto que ascende a um alto tom de horror em seu sétimo e último episódio”, postou King em suas redes sociais. Flanagan, vale lembrar, já foi responsável pela adaptação de obras do escritor como Doutor Sono e Jogo Perigoso. Galgando um espaço importante dentre os diretores do cinema de gênero, ele apresenta em Missa da Meia-Noite mais um trabalho bem conduzido, no qual o sobrenatural é um arrepiante pretexto para se discutir questões caras à natureza humana.

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