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O terror nos Jogos de Munique, nos primórdios de VEJA

Olimpíada de 1972 marcaria a reabertura da Alemanha após décadas no limbo do pós-Guerra, mas ficou marcada por um atentado contra judeus na Vila Olímpica

Por Luiz Felipe Castro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 21 jul 2021, 08h11 - Publicado em 21 jul 2021, 08h07

Os Jogos Olímpicos de Tóquio já começaram, bem como a cobertura especial de VEJA. Daqui até o encerramento do evento em 8 de agosto, para além do noticiário quente com os resultados dos jogos e movimentações do quadro de medalhas, quatro blogs temáticos farão o meio-campo entre esporte, história, cultura, geopolítica, arquitetura e muito mais. O #TBT Olímpico se dedicará a revirar os tesouros dos arquivos de 52 anos de VEJA e estreia nesta quarta-feira, 21, com as trágicas lembranças da primeira capa olímpica da revista: a tragédia de Munique, em 13 de setembro de 1972.

A reportagem escrita pelo secretário de redação Ulysses Alves de Souza, enviado especial à Olimpíada na Alemanha, e Pedro Cavalcanti, correspondente em Paris, deslocado com urgência, narra um dos capítulos mais tristes da história dos Jogos, o atentado cometido por um grupo terrorista palestino contra a delegação de Israel na Vila Olímpica. “A chacina é o espelho fulgurante da situação sociopolítica da humanidade de hoje, dos estranhos humores que percorrem um mundo cada vez mais descrente”, narra a Carta ao Leitor da edição.

Carta ao leitor de 1972
Carta ao leitor de 1972 (VEJA/Reprodução)

Os Jogos de 1972 ficarão para sempre marcados pelo terror provocado pela invasão dos alojamentos da delegação de Israel por terroristas do grupo radical palestino Setembro Negro. O impasse durou dois dias, com longas negociações envolvendo reféns, provocou a interrupção das competições e teve um desfecho catastrófico: o assassinato de onze judeus. O que deveria ser uma festa, a “Olimpíada de abertura” que curaria, enfim, as feridas do povo alemão e mostraria sua nova faceta três décadas depois do fim da Segunda Guerra, se transformou em carnificina e uma nova mancha histórica.

A matéria narra todo o drama em ordem cronológica desde o primeiro aviso de um jornalista israelense que, em uma época pré-celular e internet, havia recebido um telefonema do chefe da delegação do país. “Algo muito grave havia acontecido”, alertou o dirigente ao repórter, que repassou a mensagem aos colegas no centro de imprensa.

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“Às duas horas da manhã da madrugada seguinte, quando o drama se encerrou com a morte de nove atletas israelenses, amarrados de pés e mãos dentro de dois helicópteros, a cidade de Munique pareceu acordar novamente. Desta vez, de verdade: o sonho olímpico estava terminado.”, diz um trecho da reportagem. Confira a matéria na íntegra em nosso acervo digital.

Trecho da matéria sobre a tragédia de Munique, em 1972
Trecho da matéria sobre a tragédia de Munique, em 1972 (VEJA/Reprodução)

Ulysses Alves de Souza relata com brilhantismo a sequência de fatos, que incluiu uma frustrada negociação entre os governos da Alemanha e de Israel, uma enxurrada de fake news, e um sentimento que tomou a Vila Olímpica. “‘Por que nos fizeram isso? Logo a nós?’. A pergunta era martelada sob formas diversas, em todo o país. Se em Munique, para explicar o atentado, um israelense dizia que ‘Israel não é um país como os outros’, não resta dúvida que, ainda à sombra do III Reich, a Alemanha Federal também não é um país como os outros. A chacina de onze israelenses em seu território constitui uma tragédia especial para um povo que conseguiu soterrar algumas lembranças, mas que está longe de tê-las esquecido.”

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As contestações ao aparato de segurança alemão davam o tom do “desgosto de ver malograda, ou submetida até a uma infeliz inversão, a esperança de aumentar seu prestígio e fazer esquecer a Olimpíada de 1936”. “As críticas contra eventuais negligências apenas começaram a se propagar. Em telegrama enviado a Golda Meier, o editor alemão Axel Springer sublinhou: ‘Lamento muito que os dispositivos de segurança tenham sido negligentes e que a ausência de uma estratégia eficaz tenha culminado com essa carnificina'”.

O ataque em Munique mudou para a sempre a história do evento. Desde então, a Olimpíada passou a ser sinônimo de obsessão por segurança, com verdadeiras operações de guerra para proteger os atletas. No Japão, com fronteiras fechadas e público vetado, os riscos de atentado diminuem. O inimigo agora é outro, invisível: a pandemia do novo coronavírus, que segue fazendo vítimas em todo o Japão, o que levou a maior parte da população local a ser contra a realização dos Jogos.

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