Watson, a inteligência artificial a serviço da PF gaúcha
Nome do sistema da IBM, usado nas investigações da 'Lava Jato gaúcha', é referência ao Dr. Watson, personagem que auxilia Sherlock Holmes nas investigações
“Elementar, meu caro Watson”. O bordão do detetive de ficção Sherlock Holmes dito ao seu amigo e também assistente Dr. Watson é mundialmente conhecido quando se fala de investigações criminais. Watson é também o nome do sistema de inteligência artificial desenvolvido pela multinacional IBM e usado pela Polícia Federal (PF) gaúcha em investigações complexas no Rio Grande do Sul desde 2016. Watson também é o sobrenome de Thomas John, um dos fundadores e primeiro presidente da IBM.
O software auxilia a polícia especialmente nos processos de análise de um grande volume de dados. A tecnologia faz parte de um laboratório da PF, acionado para algumas operações. Watson está sendo usado nas investigações da Operação Étimo, a “Lava Jato gaúcha”. “Com o avanço da tecnologia, as investigações recebem um grande volume de e-mails, dados de computadores, celulares e tablets. Em uma busca e apreensão, os dados registrados em um computador são potencialmente infinitamente maiores do que o que consta em papel. O Watson cruza esses dados”, explicou a VEJA o delegado Alexandre Isbarrola, da Delegacia de Repressão a Corrupção e Crimes Financeiros (Delecor).
Watson colaborou também na operação PHD, que indicou professores universitários por desvio de 5,2 milhões de reais em bolsas de pesquisa na Universidade Federal do Rio Grane do Sul (UFRGS). A entrada no laboratório onde o Watson está instalado é permitida apenas para quem tem uma senha exclusiva. Na sala também há um grande scanner com capacidade de reproduzir centenas de documentos simultaneamente.
“É humanamente impossível realizar esse cruzamento [de milhares de documentos] em um curto prazo. Para isso, é preciso uma equipe muito grande. O software potencializa o trabalho: diminui a quantidade de mão de obra, que pode atuar em outros casos, e reduz o tempo”, elogia Isbarrola.
Inteligência artificial
Watson é um sistema que aprende o que lhe é ensinado e expande sua capacidade de “pensar”. O programa é utilizado em diversos hospitais do mundo para tratamento de câncer, por exemplo. Em Porto Alegre, o Hospital Mãe de Deus, é o primeiro da América Latina a contar com a tecnologia, que avalia individualmente cada paciente a partir do seu histórico. Watson indica os melhores tratamentos para os sintomas apresentados. Quanto mais os médicos utilizam, mais Watson aprende e se aprimora. O sistema também serve para o funcionamento de robôs que respondem dúvidas humanas.
A IBM chegou a promover uma experiência na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, com crimes de “brincadeirinha” onde cada Sherlock Holmes utilizava o Watson para desvendar os mistérios com as informações digitalizadas em forma de “big data”.
No caso da PF, os policiais gaúchos apresentam para Watson o que precisam descobrir a partir dos dados que são inseridos no seu sistema sem análise prévia. “Às vezes, em uma investigação, um assunto é tratado em um e-mail e depois em uma ligação telefônica. Watson consegue contar essa história ligando uma coisa a outra”, explica Isbarrola.
A interface é como um buscador de internet, e a busca é por palavras. O delegado cita um exemplo de funcionamento do Watson: “ensino a ele que ‘pó’ em determinado contexto é ‘cocaína’ e um traficante tem o apelido ‘Cabo’. Se Watson encontrar Cabo falando de pó em algum documento, ele consegue entender que é um traficante falando de cocaína.”
Gestão e agilidade
Watson foi implantado pela PF gaúcha em 2016, mas é usado há mais tempo pelas unidades do Laboratório de Tecnologia contra Lavagem de Dinheiro (LAB-LD), do Ministério da Justiça. Segundo Isbarrola, o sistema também pode ser utilizado em investigações de pedofilia, por exemplo.
Além do Watson, a PF gaúcha está agregando outros softwares para investigações, como um de gestão de projetos, uma ferramenta administrativa que mostra a visão geral de uma operação, as metas a serem cumpridas e as atribuições de tarefas. “Me permite cobrar agilidade”, disse o delegado. É possível acompanhar a porcentagem de cada tarefa realizada, de levantamento de dados, montagem de pastas e assim por diante.