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Pintura de pichador polêmico é vandalizada em Porto Alegre

Grafite que retratava figura decapitada semelhante a Jesus amanheceu apagado depois de críticas de religiosos

Por Paula Sperb
Atualizado em 4 jun 2024, 17h31 - Publicado em 2 Maio 2018, 20h45

Após uma campanha nas redes sociais promovida por um grupo religioso contra uma pintura no muro do instituto cultural Goethe-Institut, em Porto Alegre, o desenho amanheceu vandalizado na última terça-feira (1). O grafite foi pichado cobrindo totalmente o rosto que lembrava a representação de Jesus Cristo, cuja cabeça estava retratada em uma bandeja. Também foram pichados os dizeres “ele ressuscitou“. Nesta quarta-feira (2), uma nova pichação com tinta azul, por cima da anterior, foi feita no local com os dizeres “ai, meu deuso“. Não se sabe quem é o autor das diferentes pichações que cobriram a figura. O painel faz parte da exposição “Pixo/Grafite: realidades paralelas” com obras dos artistas Amaro Abreu, de Porto Alegre, e Rafael Augustaitiz, de São Paulo.

A imagem apagada é de autoria do paulistano, conhecido por suas polêmicas. Em 2008, ele pichou uma instalação da 28ª Bienal de São Paulo, em São Paulo. No mesmo ano, foi expulso da Faculdade de Belas Letras após pichar o prédio da instituição. Porém, na Bienal seguinte, de 2010, Augustaitiz foi convidado a expor seu trabalho.

Foi depois de um abaixo-assinado de repúdio promovido pelo Centro Dom Bosco, organização privada religiosa criada em 2017 no Rio de Janeiro, que o grafite foi pichado cobrindo o rosto da figura. No ano passado, o Centro Dom Bosco também promoveu ataques à exposição Queermuseu, do Santander, que acabou fechada. Defendendo a criação de um “estado católico”, o grupo já processou os comediantes do Porta dos Fundos.

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Pichação divulgada pelo Centro Dom Bosco, que organizou abaixo-assinado contra o grafite (Reprodução/Facebook)

O grupo não informa número de telefone na sua página na internet. Procurado por e-mail, o diretor do centro, Bruno Mendes, não respondeu até o fechamento desta matéria. No seu perfil pessoal do Facebook, porém, ele comemorou o vandalismo. “O artista de Porto Alegre que apagou o ‘pantocrator demoníaco’ e escreveu ‘Ele ressuscitou’ fez mais pela honra da Santa Igreja que 60 anos de haters com roupagem modernista ou sedevacante.”

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O Dom Bosco alega que o grafite de Augustaitiz é um crime de vilipêndio previsto no artigo 208, do Código Penal, que fala . A lei, porém, fala sobre “vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso”. Não é o caso do grafite que, apesar de remeter à representação de Cristo, não é uma escultura ou quadro mantido no interior de uma igreja, por exemplo.

O artista, por sua vez, já fez outras exposições e pichações em prédios em que retrata o “mal” para “criar uma cidade fantasma, invertida, refletida no espelho do demônio” nas palavras de Laymert Garcia dos Santos, curador da exposição no Goethe. Por esse motivo, o texto do abaixo-assinado do Dom Bosco chama o autor de “satanista”. Augustaitiz, de fato, usa símbolos como um pentagrama invertido e a sequência “666” nos seus trabalhos mais recentes. O prédio que desabou após um incêndio no centro de São Paulo foi um dos pichados com os símbolos, e a fotografia da fachada integra exposições de Augustaitiz.

A VEJA, o artista de 34 anos disse que “as instituições têm oprimido a imaginação e desonrado o intelecto, degradando as artes a fim de estupidificá-la e promover a escravidão espiritual, a propaganda para o estado e o capital, reações puritanas, lucros injustos, mentiras e arruinamentos estéticos”.

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O Goethe-Institut divulgou uma nota na tarde desta quarta-feira dizendo que “está analisando as manifestações recebidas em decorrência da pintura do muro de sua sede”. Dias antes, o instituto emitiu uma nota afirmando que estava recebendo “mensagens de ódio”. “Em nenhum momento foi intenção do projeto ou do Instituto ofender sentimentos religiosos. Respeitamos todas as crenças, manifestações e liberdade de expressão. O Goethe-Institut, como instituição cultural presente em mais de 90 países, dialoga intensamente com as sociedades locais e fomenta a discussão, participação e atuação artística e cultural. Lamentamos manifestações que incitem o ódio e as ameaças à liberdade de expressão”, afirmou a entidade.

Um coletivo em defesa da arte, o Properarte, protestou em frente ao Goethe defendendo a exposição. Por sua vez, a Arquidiocese de Porto Alegre repudiou a obra alegando que “a polêmica e as reações que estão ocorrendo diante da infeliz imagem são resultado da falta de respeito pelo senso religioso, pelos valores cristãos e pela história desta cidade. Se pretendemos evitar polarizações e superar a violência, precisamos garantir um diálogo respeitoso e reverente pelo outro”.

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