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Cogitado como candidato, Haddad desconversa e aposta em Lula

Em Porto Alegre, ex-prefeito de São Paulo disse que PT não tem “plano B”, mas foi apontado pelo ex-governador gaúcho Tarso Genro como alternativa para 2018

Por Paula Sperb
27 set 2017, 18h14

Com agenda intensa típica de presidenciável, com pelo menos seis eventos públicos no Rio Grande do Sul marcados para dois dias, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) desconversou nesta quarta, em Porto Alegre, sobre a possibilidade de ser o candidato petista nas eleições de 2018 caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não possa concorrer em razão dos processos em que é réu na Operação Lava Jato.

O ex-presidente, inclusive, já foi condenado a nove anos e meio de prisão pelo juiz Sergio Moro em uma dessas ações – se for condenado em segunda instância, pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), ele pode ficar inelegível.

“Não estamos trabalhando com plano B. Tem que ter cautela. Existe sempre recurso [judicial]. O juiz de primeira instância não dá a última palavra, as pessoas têm o direito de defesa garantido na Constituição”, disse Haddad a jornalistas antes do evento realizado no bar Ocidente, espaço tradicional de encontro de intelectuais e boêmios na capital gaúcha. Haddad mencionou a absolvição em segunda instância de João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, como exemplo de situação que pode ocorrer com Lula.

Questionado se aceitaria um convite de Lula para ser candidato em seu lugar, Haddad disse que “não tratou desse assunto” com o ex-presidente. “Esperamos que não aconteça [Lula ficar inelegível]. Em política a gente não trabalha com ‘e se’”, comentou.

Mesmo desconversando sobre a possibilidade, Haddad lembrou que tem viajado pelo país para falar sobre sua experiência como ministro da Educação no governo Lula. “Já estive em Campo Grande, Recife, Belo Horizonte e São Luís. Já estive em várias cidades e estarei em outras. Estou aqui em Porto Alegre, vou estar em Florianópolis, João Pessoa. Tenho uma programação ainda intensa, sempre com a pauta da educação. Às vezes, quando pedem, falo um pouco sobre cidades”, contou.

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Embora não tenha confirmado sua disposição em substituir Lula caso seja necessário, lideranças do PT gaúcho o enxergam como opção. É o caso do ex-governador e ex-ministro Tarso Genro. “Ele é uma referência política para o futuro do PT e da esquerda no Brasil. Ele tem que saber se comportar como tal. Com esta postura que ele tem, se eventualmente o presidente Lula não puder ser [candidato], ele pode ser”, disse Genro, arrancando aplausos da plateia que lotou o Ocidente.

“Ele tem que ser o candidato da esquerda e do centro democrático progressista e anti-neoliberal. Não pode ser um candidato que vá se escorar nas alianças que já superamos. Tenho certeza que o Haddad sabe isso muito mais do que eu. Ele tem que estar no centro da disputa política. Eles estão armando para o Lula. Todo mundo está vendo isso. São dez, doze processos para não deixar o Lula ser presidente. Estão usando a máquina do Poder Judiciário, a máquina estatal, para vetar a candidatura do Lula. Se isso acontecer, vamos ter o Haddad na corrida”, defendeu Genro.

Após a manifestação de Genro, Haddad voltou a defender a candidatura de Lula. “Não haverá eleição livre sem a presença do presidente Lula. O povo acompanhou [as denúncias] durante três anos a imprensa, acompanhando tudo. Se não há materialidade [dos crimes], inocenta e deixa o povo julgar o político”, disse o ex-prefeito.

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Carta de Antonio Palocci

Na última terça-feira, o ex-ministro Antonio Palocci entregou sua carta de desfiliação ao PT. No texto, ele questiona se o PT é “uma seita guiada por uma pretensa divindade”, em referência ao ex-presidente Lula. Em Porto Alegre, Haddad garantiu que não leu a carta de Palocci.

“Confesso que nem li (…). Era esperada a desfiliação dele. Essa coisa de delação precisa ter muito cuidado porque tem muita mentira. Precisa avaliar se a pessoa não está desesperadamente em busca de um benefício e depois se comprova que não é bem aquilo que ela falou”, disse.

Para o ex-prefeito, a situação de Palocci é “muito delicada”. “A gente precisa também considerar isso. À pessoa se oferece essa possibilidade de, ao falar, ter benefícios, aí pode falar sob impacto de uma grande emoção. Não deve ser fácil a situação”, completou.

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Haddad no bar Ocidente, tradicional local de encontro de intelectuais na capital gaúcha (Paula Sperb/VEJA)

Críticas a Doria

Haddad avaliou o desempenho do seu sucessor à frente da Prefeitura de São Paulo. Para ele, a gestão de João Doria (PSDB) “ainda não começou propriamente” e “o nível de investimento está muito baixo”.

Tarso Genro também não poupou o tucano: “Ele e uma espécie de fetiche de quinta categoria da burguesia neoliberal. Fico inclusive impressionado como algumas pessoas de bom senso, que não são da esquerda, mas são progressistas, engolem um cidadão como aquele. É um empresário rebaixado, com um passivo complicado do ponto de vista da sua relação com a lisura das relações empresariais e públicas, que aparece como salvação de São Paulo.”

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Presidenciáveis, os tucanos Geraldo Alckmin e Doria e o pedetista Ciro Gomes também visitaram o Rio Grande do Sul recentemente. No mês passado, Alckmin questionou o “novo na política”. Colega de partido, Doria aproveitou a viagem ao Sul para alfinetar o governador paulista em uma polêmica sobre uso do seu avião particular. Por sua vez, Ciro criticou Lula e chamou o PMDB de “quadrilha”.

Além de Tarso Genro, outros petistas gaúchos recepcionaram Haddad, como Olívio Dutra, ex-governador, Raul Pont, ex-prefeito de Porto Alegre, e Miguel Rossetto, ex-ministro do Desenvolvimento Agrário.

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