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De volta à velha normalidade

Mais popular, o presidente retornou em grande estilo

Por Ricardo Rangel Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 28 ago 2020, 10h46 - Publicado em 28 ago 2020, 06h00

Entre a prisão de Queiroz e a pergunta do jornalista sobre os depósitos para Michelle, foram 63 dias de calmaria. Nesse período, o Ministério da Justiça criou um dossiê contra antifascistas; a CGU emitiu norma proibindo falar mal do governo; Aras combateu a Lava-Jato e perseguiu procuradores; o governo recorreu à Lei de Segurança Nacional contra adversários; o Ministério da Saúde negou recursos a governadores oposicionistas; o desmatamento e as queimadas bateram recorde; descobrimos que Bolsonaro chegou a tomar a decisão de dar um golpe de Estado. E muito mais.

O período de “normalização” só foi normal pela pouca gritaria, no resto, foi repleto de anormalidades antidemocráticas. Mesmo assim, o STF ficou menos aguerrido, o Congresso se calou, a popularidade do presidente decolou. Desde que não haja confusão, parece que o Brasil aceita tudo.

A lufada de popularidade trouxe o velho Bolsonaro de volta em grande estilo. Ameaçou “encher a boca” de um jornalista de “porrada”. Chamou os jornalistas de “bundões” por serem, supostamente, mais suscetíveis à Covid-19 (pelo jeito, os 120 000 que morreram eram bundões). Defendeu o trabalho infantil.

Mas a saudade de chamar atenção, amordaçada por dois meses, ainda não estava saciada, e Bolsonaro teve a ideia genial de passar um pito em Paulo Guedes, e criticou, em público, a proposta para o Renda Brasil — Brasília tremeu, o dólar disparou, a bolsa despencou. Vingou-se por Guedes, duas semanas antes, ter afirmado, também publicamente, que dar ouvido aos ministros “fura-te­to” poria o presidente na “zona do impeachment”.

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“Bolsonaro é como criança que não aceita ser contrariada, mas com o poder de fritar e demitir quem o contraria”

Em que pese o método escolhido ter sido desastroso, a crítica de Bolsonaro procede: a proposta de Guedes pressupõe aumentar o dinheiro destinado aos muito pobres com dinheiro tirado dos pobres. Até Bolsonaro, cujo sentido de lógica nunca foi lá essas coisas, percebeu que a ideia é descerebrada. Guedes, que já propôs criar um projeto de combate ao desemprego financiado com dinheiro tirado dos desempregados, é candidato forte ao troféu Washington Luís de insensibilidade social.

Diga-se em favor do ministro que o problema que o presidente quer que ele resolva não tem solução. A discordância de Bolsonaro, que quer recursos para seu projeto eleitoreiro, não é com Guedes, mas com a realidade, já que o dinheiro não existe. Bolsonaro é como uma criança que não aceita ser contrariada, mas com o poder de fritar e demitir quem o contraria. Foi assim com Moro, Mandetta, Teich. E, agora, Guedes.

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Mas o problema permanece. Ou Bolsonaro respeita o teto e faz as reformas — e põe a reeleição em risco —, ou fura o teto e cria o projeto eleitoreiro — e põe o governo em risco e pode cair. Catch-22.

Considerando-se o que pode vir por aí — a polícia pedindo explicações a Michelle; a evolução das investigações sobre Queiroz e Flávio e Carlos; as trapalhadas de Wassef; mais atritos na economia —, uma coisa parece certa: a “normalização” acabou.

Publicado em VEJA de 2 de setembro de 2020, edição nº 2702

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