A caça às bruxas lulopetista
O petismo parece mais interessado em encontrar culpados em 2018 do que em defender a democracia
A esquerda lulopetista autoritária iniciou uma nova caça às bruxas em busca de “culpados” pela calamidade que vivemos. Para ela, a “culpa” é dos liberais autênticos — liberais em economia e no resto, adversários do bolsonarismo e do lulopetismo —, que, em 2018, teriam anulado ou votado em Bolsonaro.
Além de a busca de “culpados” em nada nos ajudar, a narrativa é fraudulenta. Para vencer, Haddad teria que ter tido pelo menos 5,4 milhões de votos mais, e simplesmente não há tantos liberais autênticos no Brasil.
Mesmo que houvesse, não faria diferença: a maioria dos liberais autênticos no Brasil não votou em Bolsonaro no segundo turno, e a diferença entre nulos e brancos de um turno para o outro não cobre a vantagem de Bolsonaro sobre Haddad: se todos os que se abstiveram tivessem votado no PT, ainda assim Bolsonaro teria vencido.
Além de a aritmética não fechar, a narrativa parte de premissas falsas, supõe que a) o governo Bolsonaro seria inevitavelmente o que é, de modo que b) o voto no PT no segundo turno era uma espécie de imperativo ético. Ocorre que ninguém (nem os petistas) acreditava que o governo Bolsonaro seria tão catastrófico quanto é; e em política não existe imperativo ético: votos resultam de expectativas e conjecturas, e cada um faz as suas. Afirmar que o outro tem a obrigação de votar no nosso candidato só porque é o nosso candidato não é democrático.
Alias, se essa parte da esquerda fosse democrática, em vez de ir buscar “culpados” em 2018, estaria tentando construir pontes com o centro democrático para compor uma chapa única e derrotar Bolsonaro em 2022. Mas não é isso que se vê. Pelo contrário: Lula recusou-se a assinar um manifesto em defesa da democracia; lançou Haddad sem conversar com ninguém; atacou Miriam Leitão em seu discurso (de outra forma sóbrio) após a revogação da condenação. E, agora, aparece essa caça às bruxas.
O que se vê nas redes é um esforço deliberado — com táticas bolsonaristas de desinformação — para intimidar vozes democratas críticas ao PT. Se o esforço der certo, as críticas ao PT desaparecerão, o partido atrairá os votos da centro-esquerda e do centro, e a direita será empurrada para Bolsonaro, hiperpolarizando a eleição (o que interessa ao PT, que, como se sabe, não tem condições de ganhar de ninguém além de Bolsonaro).
A conjuntura política brasileira está se deteriorando.