Sobre tréguas…
Muito interessante alguns setores da mídia noticiarem hoje o que Israel rompeu a trégua que nunca foi declarada. Ela se limitava aos bombardeios aéreos, não à incursão terrestre no Líbano. Se Israel pára, acontecerá o óbvio: os terroristas do Hezbollah (adoto agora essa grafia, a pedidos) se organizam. E declaram a sua vitória. Sem o […]
Li num editorial da Folha, no sábado creio, que um dos esforços inteligentes que Israel pode fazer é atrair a Síria para a neutralidade. É mesmo? O ditador do país, Bashar al Assad, acaba de determinar que seu Exército fique de prontidão para “desafios regionais”. Um homem neutro… Ainda na linha “negociador inteligente”, Golã seria devolvida aos sírios, eles deixariam de importunar Israel, e se eliminaria o corredor por onde entram as armas iranianas para o Hezbollah no Líbano. Interessante: seria um presente concedido ao sr. Al Assad pelos préstimos até agora oferecidos ao terrorismo.
A hipótese é que a Síria, uma ditadura sunita e leiga, também não quer conversa com teocratas xiitas. Pode não querer o xiismo em seu quintal, e não quer mesmo — embora ele seja de tal sorte irrelevante no país, que a questão nem se coloca. Ocorre que os xiitas não querem destruir Israel nem mais nem menos do que a maioria das correntes sunitas. O fundamentalismo islâmico xiita é minoritário, Santo Deus!, como minoritária é essa corrente dentro do islamismo. Acostumamo-nos a ver o Irã como um país mais perigoso para o Ocidente por causa de suas grandes ambições. De imediato, para Israel, a Síria é um problema maior. Golã não é o preço de sua neutralidade. Cedida agora, seria um presente à sua determinação de financiar o terrorismo.
Ademais, o Satã de plantão nesta guerra não mudou. Os Estados Unidos estão no centro do debate. Bush é pressionado a apoiar um cessar-fogo, o que não fará. As suas condições são as mesmas de Israel: a chegada da força multinacional e a devolução dos soldados seqüestrados. Como o Hezbollah e o próprio governo sírio dizem que isso não pode ser negociado, então só resta ao presidente dos EUA apoiar a posição israelense. Até porque seria um erro supor que bastaria Bush pedir, e as tropas israelenses recuariam. Enquanto isso, a chuva de mísseis sobre cidades israelenses continua. Como um governo democrático não faz de seus cidadãos escudos humanos, morreram, até agora, menos de 60 pessoas.
Felizmente, a capacidade de matar do Hezbollah é muito menor do que a sua vontade. Israel vinha investindo firmemente num plano de paz. Os terroristas quiseram testar a sua disposição para o confronto e apostaram no que seria uma “negociação” de governo para governo, com troca de prisioneiros. O Hezbollah se comportou como se fosse o único poder no governo do Líbano, sob o olhar complacente do próprio. Que agora reclama não ter nada com isso. Se as forças legais do país são fracas para enfrentar os terroristas, eis um problema genuinamente libanês. Israel tem de defender os seus cidadãos.