Sarkozy, os navios da corrupção e o Brasil
Por Andrei Netto, no Estadão: Mais um escândalo político bate às portas do Palácio do Eliseu. Após as suspeitas de financiamento ilegal de campanha no caso Woerth-Bettencourt e das denúncias de espionagem de jornalistas, a presidência francesa está agora no centro do caso Karachi – um processo de corrupção dos anos 90. Em depoimento à […]
Por Andrei Netto, no Estadão:
Mais um escândalo político bate às portas do Palácio do Eliseu. Após as suspeitas de financiamento ilegal de campanha no caso Woerth-Bettencourt e das denúncias de espionagem de jornalistas, a presidência francesa está agora no centro do caso Karachi – um processo de corrupção dos anos 90. Em depoimento à Justiça, ex-ministro da Defesa da França, Charles Millon, confirmou que houve pagamento de propina às autoridades paquistanesas e formação de caixa 2 na França durante a venda de submarinos para o Paquistão em 1995. Nessa época, o ministro do Orçamento era Nicolas Sarkozy.
Trata-se de um dos mais nebulosos escândalos de vendas de armas já revelados na Europa. Em 1992, um esquema de distribuição de propina foi montado pelo governo francês para seduzir autoridades do Paquistão, que pretendia adquirir submarinos. À época, os franceses Agosta, fabricados pela Direção de Construções Navais (DCN), disputavam o contrato com embarcações alemãs, mas foram as escolhidas. Em 1995, com a vitória de Jacques Chirac sobre Edouard Balladur nas eleições presidenciais, o novo presidente ordenou uma investigação sobre os contratos de duas empresas: Sofma e Mercor, cujos papéis no negócio eram distribuir as propinas no Paquistão, em troca de fatias de 6,25% e 4% do contrato, respectivamente. Em 1996, Chirac suspendeu as atribuições da Mercor e, em 2001, da Sofma.
Coincidência ou não – a Justiças do Paquistão e da França ainda investigam o caso -, em 2002 um atentado ocorrido em Karachi, no Paquistão, resultou na morte de 14 pessoas, entre as quais 11 funcionários do estaleiro DCN. A suspeita é que o atentado tenha sido vingança pelo fim do pagamento das propinas.
Depois de 15 anos de mistérios e segredos de Estado, o caso voltou à tona na última semana quando o ex-ministro da Defesa de Chirac, Charles Millon, confirmou, em depoimento à Justiça, que houve pagamento de “comissão” a autoridades paquistanesas, assim como de “retrocomissões” – pagamentos que retornariam à França de forma ilegal para alimentar as contas de campanha de Balladur de 1995, da qual Sarkozy era porta-voz.
À época, o pagamento de propinas no exterior não era ilegal na França, mas o caixa 2 era. A dúvida hoje é se Sarkozy participou do esquema de pagamento de propina e de recebimento de “retrocomissões”. Uma investigação realizada em Luxemburgo e revelada pelo site francês Mediapart indicou que o atual presidente teria autorizado a criação de uma outra empresa, a Heine, que intermediou as comissões entre o Paquistão e a França. Aqui
A mesma
A DCNS, novo nome da Direção de Construções Navais (DCN), estaleiro envolvido na venda de armas ao Paquistão, é o mesmo que constrói submarinos no Rio de Janeiro e fornecerá a tecnologia para futuras embarcações nucleares da Marinha brasileira ao custo de 6,7 bilhões de euros. A empresa mudou ao longo do tempo, mas alguns dos personagens são os mesmos da venda ao Brasil. Como no caso paquistanês, o governo brasileiro também enfrentou a dúvida entre os submarinos alemães e franceses. Graças a promessas de transferência de tecno ogia, Paris e a DCNS venceram a disputa, apesar do preço mais elevado do contrato. Pesou na decisáo o fato de a Alemanha não deter o conhecimento de navios nucleares.
Quando fecharam o acordo, causou surpresa a seleção da construtora Odebrecht como parceira da DCNS . O Ministério da Defesa do Brasil disse que a escolha era uma prerrogativa da DCNS, não dos governos. Pelo menos duas personalidades francesas envolvidas no caso Karachi estão no primeiro plano político agora: o presidente Nicolas Sarkozy e Alain Juppé, ex-premiê de Jacques Chirac e atual ministro da Defesa. Aqui