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SANTO TOMÁS

Publico mais um texto inédito para os leitores do blog, que integra O País dos Petralhas. Parece-me que tem tudo a ver com estes dias. Avaliem. * A editora Sétimo Selo acaba de prestar um segundo bom serviço ao pensamento com a publicação de “Sobre o mal”, de Santo Tomás de Aquino, em edição bilíngüe […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 18h57 - Publicado em 17 set 2008, 07h30

Publico mais um texto inédito para os leitores do blog, que integra O País dos Petralhas. Parece-me que tem tudo a ver com estes dias. Avaliem.

*
A editora Sétimo Selo acaba de prestar um segundo bom serviço ao pensamento com a publicação de “Sobre o mal”, de Santo Tomás de Aquino, em edição bilíngüe (português e latim), com tradução de Carlos Nougué. É o primeiro de prometidos quatro tomos. A editora já publicou em agosto “Da natureza do bem”, de Santo Agostinho. É um conforto saber que a Igreja nem sempre foi pautada pela teologia zoológica de Leonardo Boff (“A águia e a galinha”) ou pelo cristianismo marxista de Frei Betto. Quem, podendo liquidar seus algozes, morre na cruz, ou o faz para nos salvar (a todos, não só aos pobres) ou é um idiota.

Tomás de Aquino (1225-1274), o mais importante pensador da Igreja, foi quem abriu a porta do enigma: há matérias que estão sujeitas à investigação da ciência e do pensamento, e há aquelas que estão no domínio da fé. Basta que não se ponham umas em lugar de outras: os cristãos fundamentalistas americanos não tentarão ministrar “Desenho inteligente” na aula de biologia, e os cientistas declinam de provar o erro da Bíblia à luz de “A origem das espécies”. O que não impede um médico de rezar uma Ave-Maria, em pensamento, enquanto está com as nossas vísceras na mão. Ou uma universidade católica de estudar o genoma do macaco, notre semblable, notre frère! , mas, ainda assim, impedido de ter fé — se é que vocês me entendem. E não tem porque não pode, não porque não quer.

As referências do pensamento contemporâneo foram se acanalhando, e estamos todos nos acostumando com a burrice militante. Com o PT, ela chegou ao poder e tentou ganhar o estatuto de uma categoria filosófica. De súbito, hábitos, costumes, valores, tudo foi sendo transformado numa doxa a ser submetida à especulação. Culpa ou inocência caíram no inferno do relativismo. Entrará para a História a frase de José Dirceu, tornada um emblema: “Estou cada vez mais convencido de minha inocência.”

Então eu me volto a Santo Tomás, pág. 53: “Pois se diz em Mateus, VII,18: ‘Não pode uma árvore boa dar maus frutos.’ O fruto se diz efeito da causa. Logo, o bem não pode ser causa do mal.” E o Tomás avança: “Além do mais, o efeito tem semelhança com sua causa; pois todo e qualquer agente atua semelhante a ele. Ora, a semelhança do mal não preexiste no bem. Logo, o bem não é causa do mal.” E ainda com mais pertinência: “Além do mais, aquilo que pertence às coisas causadas preexiste substancialmente nas causas. Logo, se o mal é causado pelo bem, o mal preexiste substancialmente no bem, o que é impossível.”

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Eis trechos do Artigo 3: “Se o bem é causa do mal”, que vai se tornando mais complexo no percurso, com situações que complicam um pouco o que acima é tão claro, mas sem jamais mudar a sua essência. Volto à política. Um teste, para mim, de tolice do interlocutor é o grau de sua surpresa com as lambanças do PT, como se o cleptostalinismo fosse um desvio do que, em essência, era o bem. Não é assim, é claro. Se o PT julgou ser necessário fazer o que fez é porque a sua essência autorizava que o fizesse. A roubalheira organizada, entronizada no Estado, está na ordem das “coisas causadas”. Assim sendo, está na própria causa. É um mal essencial.

É por isso que um Santo Tomás de Aquino é liminarmente descartado pelos que se querem cultores de uma tal “dialética”, ou, mais especialmente, de um certo “materialismo dialético”, que abole as fronteiras entre o bem e o mal e instaura o reino do relativismo moral, em que o “bem” só é “bem” sob certas circunstâncias — à escolha dos que se querem condutores da História — e o “mal”, idem. Foi assim que o socialismo se transformou numa indústria da morte. O “mal” (o morticínio) era o preço do “bem” (o reino da justiça e da igualdade). Quebrando omeletes e fazendo ovos, para ficar numa metáfora à altura desse padrão moral e da compreensão que Lula tem da História.

E se todos eles fizerem um ato de contrição? Santo Tomás, pág. 211: “Além do mais, aquilo que não permanece, mas muda em seguida, não pode mudar a espécie que teve antes.” Leiam Santo Tomás de Aquino.

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