Oposição?
Na hora certa, faremos um pouco de história, recuperando os fatos dos escombros da memória, para instruir e iluminar o futuro. Por enquanto, vamos com algumas constatações que têm valor instrumental para o presente. Muitos de vocês viram o debate de ontem. Confirmados os prognósticos, elegeremos um presidente sub judice. Pior: ele terá um governo […]
O país continuará sob o jugo do TCC, o Terceiro Comando da Capital. Nas sombras, a rede de lobbies do petismo, seus homens espalhados pelas estatais, fundos de pensão, sindicatos, continuarão a dar as cartas. Enquanto o Babalorixá vai renovar e ampliar o seu estoque de metáforas-clichê para os mais variados problemas. E, no entanto, é este o modelo que está sendo referendado nas urnas.
Por culpa deles? Claro! São os protagonistas desse desastre, que é, por enquanto, institucional. E que será econômico em breve, vocês verão. É só esperar a inflação voltar: é só esperar Lula tendo de dar reajustes menores para o salário mínimo; é só esperar a conta da Previdência cobrar a sua fatura. Mas as oposições não são menos culpadas. Não me refiro àquele clichê do jornalismo governista, para quem “todo mundo é igual mesmo”. Aqui pra vocês! (é meu jeito de dar uma banana…). Falo da demora para começar a desconstruir o petismo. Os cretinos que, ainda hoje, acham que o caminho não é esse deveriam olhar para os números. Até quando insistiu no seu discurso puramente propositivo, Alckmin não saiu da casa dos 20% — o topo deve ter sido 27%. Atingiu os 40% quando começou a chamar Lula pelo nome. Mas começou tarde.
Ocorre que não bastava apenas isso. Era preciso, também, ter um modelo alternativo. Da economia às questões dos costumes, que dizem respeito ao cotidiano e à moralidade dos brasileiros. A idéia-força da campanha tucana é cortar gastos. Sejamos francos e claros: até agora, não ficou claro como se faria isso, de onde se cortaria. A simples eliminação do desperdício não resolve o problema. Da macroquestão vamos às microquestões: a Folha anda fazendo perguntas às assessorias dos dois candidatos. As respostas de ambos são aborrecidamente iguais sobre cotas, aborto, educação, união civil de homossexuais etc. Tudo está absolutamente pasteurizado. E, pior: pautado pelo discurso militante, esquerdopático, petista. Acho que o segundo mandato de Lula será um desastre. Se a oposição não se cuidar, Lula ainda faz o seu sucessor. E olhem que falo cedo demais, sei disso.
Mas por que me atrevo a tanto? Porque já vejo daqui o que se avizinha. Lula terá uma expressiva maioria na Câmara e, com algum esforço — alguns trocos —, consegue maioria também no Senado. Terá de implementar algumas medidas que não são exatamente populares. É a hora de a oposição montar um alto-comando para obrigar Lula a fazer o que nunca fez: arcar com o custo político do que precisa ser feito “nestepaiz”. O que não dá mais é para o PSDB fazer as necessárias privatizações, Lula satanizá-las em palanque, e, depois, o próprio PT exaltar no horário eleitoral de Lula a explosão do número de celulares no país.
Alckmin começou a ser um candidato de oposição depois que estourou o caso do dossiê. Basta ver o que dizíamos aqui sobre a campanha na televisão. Ao longo de quatro anos, a verdade é que o PSDB nunca conseguiu ser um partido oposicionista, e o PT, vejam a ironia!, nunca conseguiu ser plenamente governista. Tanto era assim que Tasso Jereissati achava que era uma obrigação sua blindar Palocci, lembram-se? Era como se estivesse se oferecendo para proteger o então ministro dos seus próprios amigos.
Se a oposição continuar sem eixo, com cada ducado pensando apenas na própria estratégia, de olho na própria esperteza, o PT a engole de novo. Sou otimista? Não, eu não sou otimista.