Operação Aletheia: mate a cobra e mostre a cobra, não o pau!
Não subestimem Lula. Outros já fizeram isso. E se deram mal. Ele é o mestre e o doutor do jeito petista e fazer política. E isso, claro!, não é bom. Síntese moral: mate a cobra e mostre a cobra, não o pau
Vamos lá… Ainda que a Lava Jato não esteja ou estivesse em guerra com ninguém, Lula e o PT estão. Já escrevi isso aqui ontem: se o que está na delação de Delcídio do Amaral for ainda que parcialmente verdadeiro, o chefão petista e Dilma têm de ir para a cadeia. O fato de eu achar isso não me obriga a elogiar a operação desta sexta. Eu a considerei açodada e desastrada.
E o próprio Lula, ninguém menos, percebeu o gancho e a chance que lhe estavam dando, ainda que involuntariamente, o Ministério Público e o juiz Sergio Moro. Vamos raciocinar um pouco.
Nem havia ainda assentado a poeira das escabrosas revelações de Delcídio, e lá estava na rua a 24ª fase da Lava Jato, agora batizada de Aletheia. Além dos mandados de busca e apreensão — e talvez isso bastasse por ora, embora eu não optasse nem por isso agora —, também havia a autorização para a condução coercitiva de Lula.
A operação foi deflagrada no pior momento para o petismo. Os companheiros estavam zonzos com as revelações de Delcídio. O governo, em pânico. Dilma, perplexa. Esse notável desarranjo tinha seu tempo próprio para gerar desentendimentos, desarranjos, “deseconomias”…
O PT estava em busca de um discurso. O foi que lhe deram o MP e Sergio Moro com a tal fase Aletheia. Na quinta, o PT não tinha o que dizer. Na sexta, tem uma causa pela qual lutar. Na quinta, o PT só tinha algozes; na sexta, ganhou uma vítima.
“Ah, mas assim seria a qualquer momento que chegasse a Lula”, me disse um amigo. Até pode ser. Por isso mesmo, não se oferece a alguém como Lula um palco se não for para o ato final. Bom ator, convenham, ele é, ou não estaria enganando tantos há tanto tempo.
O próprio ex-presidente fornece uma pista para quem sabe ler direito. “Se você quer matar uma jararaca, esmaga a cabeça, não bate no rabo.” Cada um entenda como quiser. Eu o faço assim: “Olhem aqui, até existe uma cabeça a ser esmagada, mas não é isso que encontraram”.
“Ah, você não queria que investigasse Lula?” Isso é uma bobagem! Eu estou aqui há meses perguntando por que ele não é um dos implicados no episódio do empréstimo do grupo Schahin ao PT. A coisa é infinitamente mais grave do que apartamento e sítio.
Mais: se há uma condução coercitiva de São Bernardo a Curitiba, a coisa tem de parar em Curitiba, não em Congonhas, sem que pareça que houve um recuo para responder ao exagero.
Lula deixou claro: precisava de algo forte assim para reacender a militância. E reacendeu, não duvidem. Isso não quer dizer “povo”. Ele inflamou os profissionais da baderna que servem de esbirros ao PT. Sem a condução coercitiva, sem o lado espetaculoso da operação, estaria evidenciado que ninguém está acima da lei, e não se teria oferecido palanque a maluco.
Não há uma miserável verdade do que disse Lula. Nada! Ele não respondeu a uma só das suspeitas que há contra ele. Limitou-se a se dizer perseguido e ensaiou uma vez mais o discurso vigarista do arranca-rabo de classes, posando de vítima triunfante. A crispação aumentou. Mas não creio que se tenha ganhado grande coisa.
Eu preferiria que MP e Moro tivesse avançado sobre Lula quando tivesse a pedra para esmagar a cabeça. Ferir-lhe apenas o rabo é expor-se ao contra-ataque, ainda que sua situação seja bastante difícil.
Foi uma demonstração de força desnecessária que, se teve algum efeito sobre o PT, foi o de lhe injetar algum ânimo. E ninguém precisa disso.
Para arrematar: tanto a coisa saiu atrapalhada que membros do Ministério Púbico concederam uma entrevista para se defender. Ou por outra: a turma deflagrou a tal fase Aletheia e foi obrigada a se defender.
Não subestimem Lula. Outros já fizeram isso. E se deram mal. Ele é o mestre e o doutor do jeito petista e fazer política. E isso, claro!, não é bom. Síntese moral: mate a cobra e mostre a cobra, não o pau.