O discurso sem lugar de Guido Mantega
Há discursos que não encontram o seu lugar, por mais que procurem. Leiam o que informa a France Presse. Volto em seguida: Mantega critica EUA e acusa a China de manipular sua moeda O ministro Guido Mantega (Fazenda) acusou nesta quinta-feira (7), em Paris, a China de manipular sua moeda e também criticou os Estados […]
Há discursos que não encontram o seu lugar, por mais que procurem. Leiam o que informa a France Presse. Volto em seguida:
Mantega critica EUA e acusa a China de manipular sua moeda
O ministro Guido Mantega (Fazenda) acusou nesta quinta-feira (7), em Paris, a China de manipular sua moeda e também criticou os Estados Unidos por adotarem políticas que provocam uma subvalorização do dólar.
“Obviamente, a China manipula sua moeda e seria melhor que a moeda oscilasse, inclusive na China”, afirmou o ministro à imprensa, antes de participar em um fórum na capital francesa. Mantega igualmente criticou a política monetária americana, ao considerar que o dólar está atualmente subvalorizado. Na terça-feira, o ministro afirmou em palestra para investidores em Londres que o Brasil pode tomar novas medidas para conter a valorização do real. “Medidas a gente não antecipa, a gente toma e depois comenta. Estamos de olho nesse problema [valorização do real].”
Mas o ministro afirmou que os próximos alvos podem ser os mercados futuros e de derivativos. Mantega disse que o problema é a desvalorização do dólar, causada pelas políticas monetárias dos EUA. Pare ele, é interesse dos EUA manter o dólar fraco para aumentar as exportações e, assim, ajudar na recuperação econômica do país. O ministro disse ainda que países desenvolvidos, como EUA e os da Europa principalmente, estão com políticas monetárias atípicas, porque precisam recuperar suas economias. Enquanto essas políticas persistirem, diz, haverá pressão sobre as moedas dos países que crescem mais, como o Brasil. Depois, em conversa com jornalistas, Mantega se negou a comentar que medidas podem ser tomadas.
Em resposta a reportagens e artigos publicados na “The Economist” e no “Financial Times”, que afirmaram que o Brasil está hiperaquecido e sob risco de uma bolha de crédito, o ministro disse que “a economia brasileira é quente, não superaquecida”. Disse também que não há nenhuma bolha, nem imobiliária, nem de crédito, e que os bancos do país estão sólidos.
Comento
Bem, vocês certamente hão de supor que a China adota uma política macroeconômica que considera adequada às suas necessidades e que os EUA fazem o mesmo, certo? A única coisa que conferiria uma pouca racionalidade ao choramingo de Guido seria esta constatação: “Pô, vocês parem com essas suas respectivas políticas que acabam sendo ruins para o Brasil.” Ao que poderiam responder chineses e americanos: “Pô, Guido, cuide aí do seu país que nós cuidaremos dos nossos”.
O busílis, no entanto, é outro. Ao longo de oito anos, o dólar teve um desvalorização de mais de 80%. Isso é ruim para o Brasil no longo prazo? É evidente que sim. Mas quem disse que Lula, o PT e Dilma — e, pois, Guido — não se aproveitaram disso e não criaram uma espécie de “modelo” com essa nova realidade?
O Brasil enfrenta pressão inflacionária mesmo com um dólar mais barato do que no auge da famosa sobrevalorização cambial do governo FHC. Até as pedras sabem que isso concorre para pressionar para baixo os preços. Assim, a supervalorização do real também é útil para o governo brasileiro, certo?, ainda que, num prazo mais longo, possa ser ruim para o Brasil.
Não é o unico caso em que o que é bom para o PT é ruim para o país.