Alinhamento cego a Trump não será bom ao Brasil, diz estrategista de Obama
Ex-consultor de guerra dos Estados Unidos avalia que a diplomacia brasileira perdeu, sob Bolsonaro, sua grande arma, o multilateralismo
Consultor de guerra dos Estados Unidos no Afeganistão e no Iraque, o indiano Parag Khanna traça um cenário preocupante para o Brasil em tempos de coronavírus. A associação quase cega do governo de Jair Bolsonaro aos Estados Unidos de Donald Trump e movimentos hostis à China, em função do coronavírus, são erros do bolsonarismo que podem custar caro ao Brasil no período pós-pandemia.
“No curto prazo, de um lado você vê as pessoas culpando a China. Mas, por outro lado, há países que são muito gratos aos recursos oferecidos pela China, como os ventiladores e as máscaras cirúrgicas. Aqui onde moro, na Ásia, há uma grande dose de suspeitas sobre a China, mas também o entendimento de que o crescimento econômico deles e a volta à normalidade é algo bom. Então não devemos transferir o que está acontecendo agora para tirar conclusões sobre o futuro”, diz Khanna ao Radar.
Sobre a relação do clã Bolsonaro com Donald Trump, Khanna lembra que uma das principais virtudes da política externa brasileira era apostar no multilateralismo que permitia ao país tirar proveito de relações diplomáticas em diferentes frentes, o que foi perdido no momento.
“Num dos meus livros, elogio o Brasil porque países inteligentes fazem múltiplos alinhamentos, eles procuram fazer boas relações com os EUA, a Europa e a China ao mesmo tempo. Contei sobre a aliança estratégica que vocês assinaram em 2004 com a China e que, mesmo sem ter costa para o Oceano Pacífico, o Brasil entendeu que poderia ter um papel econômico mundial e ser multidirecional e praticar um alinhamento múltiplo. Então uma mudança nessa visão para um foco único nos Estados Unidos não é saudável para o Brasil”, diz o indiano.
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Clique e AssineKhanna foi estrategista de política externa da campanha de Barack Obama em 2008 e, depois, consultor do exército norte-americano no Iraque e no Afeganistão. Ex-bolsista da Fundação Ford, foi analisar a governança global no Instituto Brookings e as Tendências Mundiais 2030 para o Conselho de Inteligência Nacional dos EUA. No meio do caminho, escreveu seis livros sobre geopolítica mundial.