A preferência envelhece. Branqueia os cabelos. Põe as rugas à mostra. Aos 70 anos, Luiz se recusa a buscar no Detran de sua cidade o selo que permite usar vagas exclusivas para idosos. Jamais colocará tal informação em seu carro. Pelo mesmo principio, não ocupa lugares destinados por lei aos mais velhos. Fila do banco, embarque no aeroporto, assento do metrô. Jamais.
Nada contra à lei que dá preferência aos que passaram dos 60, 65. A justificativa é fortuita. Aos 90, Tereza se ofende quando alguém insiste em acompanhá-la até o taxi. “Eu ando sozinha, a pé, de ônibus, de metrô, por que me acompanhar até o taxi?”, evidencia, vestida no seu jeans de professora e tênis de caminhada.
O fio de juventude de cada um. Há quem se agarre a ele. Muitos se agarram a ele. Do jeito que podem. Do jeito que dá. Cabelos pintados ou roupas extravagantes, conexão com a garotada, redes sociais, aulas de teatro, de dança, frescor das rodas de bate papo. Descobertas do novo. Há sempre um novo por ai.
O fio da juventude não é rejeição à velhice. Envelhecer faz faz parte do ciclo da vida. Envelhecer sem ficar velho é a chave. Luiz e Tereza, e Maria, e Pedro, seguem com seus prazeres, suas ilusões, até onde der. Vão longe. Já já ninguém ficará abismado ao ver um homem de quase 100 anos num programa absolutamente trivial. Almoçar sozinho, tomando uma taça de vinho. Sua essência, seu fio de juventude.
Envelhecer não tem cura. Às vezes assusta. Percebe-se a finitude. Mas se tem uma coisa que consola a quem já somou algumas décadas de vida é observar os jovens e pensar: o tempo vai passar para eles também. Tão rápido e tão implacável. Não demora nada nada e eles olharão outros jovens com a mesma certeza. A mesma Inveja.
O fio de juventude cabe em qualquer lugar. Tem que vislumbrá-lo. Narrativas não faltam. “Cada vez que alguém diz que sou muito velho para fazer alguma coisa, faço imediatamente”, Picasso. Morreu aos 90, em pleno processo criativo.
Mirian Guaraciaba é jornalista, paulista, brasiliense de coração, apaixonada pelo Rio de Janeiro