Este é o imperativo categórico da sociedade globalizada em vertiginosa transformação. A frase original tem paternidade questionável. Porém, sintetiza o pensamento do alemão Ulrich Beck (1944-2015) a partir do livro “Sociedade de Risco: Rumo a uma Outra Modernidade (São Paulo: Editora 34, 2011).
Nele, a visão da modernidade reflexiva é a busca permanente de compreender e propor a harmonização entre os desafios da globalização com as perspectivas de uma política doméstica global.
Neste sentido, os fortes riscos da sociedade global se mostram assustadores nas catástrofes ambientais, sanitárias, financeiras, terrorismo e guerras preventivas. O contraponto é cooperação no lugar da competição e solidariedade no lugar do conflito
O que a visão sociológica de Beck tem a ver com eleições municipais? Tudo. O que estará em jogo – o poder local – é um espaço estratégico para operar mudanças fundamentais para o futuro, debaixo para cima na política e de dentro para fora na consciência das pessoas.
Abordado numa entrevista por conta de minha experiência pessoal como ex-prefeito e vereador do Recife, o jornalista perguntou que conselhos daria ao próximo Prefeito/a; resisti responder, ponderando que soaria pretensioso e precário, afinal, faz quarenta anos.
Diante de delicada insistência, respondi: tirar a bunda da cadeira; calçar a bota sete léguas; usar ouvidos para escutar milhares de vozes; colocar os olhos além dos horizontes temporais.
Percepção essencial: o poder municipal é o mais humanizado dos poderes da República.
As carências têm cara de gente. Andam, falam, respiram, têm corpo e alma. E batem na porta das autoridades municipais sem a cerimônia dos cargos e a frieza dos números.
No Município, o mundo é nossa casa, a família, a rua, o bairro. Depois vem a Cidade, a Nação, o Estado, o Mundo.
O tempo é agora. Depois, é tarde. O Prefeito/a, como o deus Jano, tem duas faces: a do/a gestor/a visionário/a que enxerga a cidade competitiva, eficiente, cosmopolita; o espaço acolhedor do encontro, da diversidade, do trabalho, do lazer; o espaço público, cívico, cidadão; o abrigo dos ancestrais e o sonho do bem viver.
A outra face, a do/a gestor/a sensível que cuida da cidade como quem cuida da casa, lugar limpo, de convivência fraterna porque o “governo de proximidade” é possível.
E os recursos? Sempre escassos. Mas a gestão pública ensina, sem as unhas dos larápios, não são os recursos que determinam prioridades; mas são decisões políticas que geram o meios para a boa governança.
Gustavo Krause foi ministro