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Por Coluna
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O tempo virou (por André Gustavo Stumpf)

Bolsonaro tratava sua reeleição como algo perfeitamente alcançável. Previsão razoável. Agora, tudo é nebuloso

Por André Gustavo Stumpf
30 nov 2020, 16h00

Há momentos em que a página da vida ou da história muda de maneira irreversível. Nenhuma força a faz retroceder. É o fato político perfeito. Ele se impõe pela força do destino. As eleições municipais deste ano serão relembradas como o momento em que o vento virou.

A esquerda se reorganizou em torno de novos e mais jovens personagens. As discussões são outras. O eleitor caminhou para o centro. E o presidente Bolsonaro foi derrotado.

No início deste ano, Bolsonaro tratava sua reeleição como algo perfeitamente alcançável. Previsão razoável. Agora, tudo é nebuloso. O líder do centrão na Câmara – e seu candidato à presidência da Casa -, Arthur Lira, foi considerado réu pelo Supremo Tribunal Federal em uma ação que o acusa de malfeitos. Dificulta sua eleição para presidência da Câmara dos Deputados.

Do outro lado, o atual presidente, Rodrigo Maia trabalha com governadores e líderes no Congresso para eleger seu substituto. Antigas certezas foram profundamente abaladas.

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O presidente se ressente, agora, de ter deixado seu partido, o PSL. Ele está sozinho na avenida. E sozinho não vai longe. Precisa se amparar no chamado centrão que é um grupo de políticos cuja maior especialidade é aderir ao governo, a qualquer governo.

Vai subir muito o preço do apoio parlamentar ao presidente da República. A lei da oferta e da procura opera, também, na seara política. Um presidente desesperadamente necessitado de apoio dentro do Congresso se alia a um grupo que promete defendê-lo. E, ato contínuo, apresenta a conta em controle de ministérios, grandes verbas públicas e outros agrados.

É tudo aquilo que, durante a campanha, ele disse que não ia fazer. Foi eleito, aliás, em nome do combate à corrupção, voltar aos mais reacionários conceitos da direita radical e desmontar a área de defesa do meio ambiente. Ainda mais: alinhamento absoluto à política externa dos Estados Unidos, na pessoa de seu ídolo, Donald Trump.

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Os desígnios do destino modificaram planos, projetos, rasgaram sonhos e projeções de um futuro esplendoroso. Trump não foi reeleito. Perdeu. Bolsonaro não reconheceu até agora o presidente eleito Joe Biden. Vai ter troco. O país vai pagar pela inexperiência presidencial. Brincou com fogo. Pode se queimar.

A mesma coisa ocorre com os chineses. A China é quem mais compra produtos brasileiros. Muito mais que os norte-americanos. O Brasil é, na América Latina, também, o que mais compra no mercado do país de Xi Jinping.

O filho Eduardo, deputado federal, presidente da Comissão de Relações Exteriores, desafia os chineses, por causa do 5G e da Huawei, que enfrentou pesada oposição no período Trump.

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Não há mais Trump e, dessa vez, o embaixador de Pequim em Brasília reagiu com veemência e ameaçou com sérias consequências. O vento virou e o filho não percebeu. Já corre a lista entre deputados para substituí-lo na presidente da CRE. Ainda há a Argentina. O presidente quebrou a tradição diplomática. Não compareceu à posse do presidente Alberto Fernandez.

Em resumo, o presidente entrou em conflito com os três principais compradores de produtos brasileiros: China, Estados Unidos e Argentina. Inacreditável.

Bolsonaro vive seu labirinto. Os filhos o preocupam. E os generais não estão gostando do que está ocorrendo no país. As Forças Armadas estão expostas à crítica política.

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Se o debate partidário ou ideológico entrar no quartel a hierarquia acaba. E o Brasil não pode ser ridicularizado porque seu presidente ameaça fazer guerra aos Estados Unidos. Para se distanciar dos oficiais, ele viaja pelo país e frequenta solenidades nos quartéis das polícias militares ou da baixa oficialidade das Forças Armadas.

No outro lado do cenário político, Lula reapareceu timidamente na eleição em Pernambuco. Lá ocorre um racha no espólio do governador de Miguel Arraes. Em Porto Alegre, Manuela d´Ávila ressurgiu como estrela da esquerda gaúcha. Tanto os pernambucanos quanto a gaúcha serão importantes referência na eleição presidencial em 2022.

O grupo Bolsonaro vai se reorganizar em algum partido para disputar o pleito. Novidade é que o brasileiro votou no centro. E a esquerda, com novos nomes terá, de novo, seu protagonismo.

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O notório ministro Paulo Guedes abriu um contencioso com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. A dívida brasileira chegou ao patamar de 90% do Produto Interno Bruto. O mercado está tenso. Se as finanças nacionais não forem bem cuidadas, o dólar poderá passar de seis reais, a inflação explodir e os juros subirem. Este eventual cenário derruba qualquer projeto eleitoral. O vento mudou.

 

André Gustavo Stumpf escreve no Capital Político. Formado em Direito pela Universidade de Brasília (UnB), onde lecionou Jornalismo por uma década. Foi repórter e chefe da sucursal de Brasília da Veja, nos anos setenta. Participou do grupo que criou a Isto É, da qual foi chefe da sucursal de Brasília. Trabalhou nos dois jornais de Brasília, foi diretor da TV Brasília e diretor de Jornalismo do Diário de Pernambuco, no Recife. Durante a Constituinte de 88, foi coordenador de política do Jornal do Brasil. Em 1984, em Washington, Estados Unidos, obteve o título de Master em Políticas Públicas (Master of International Public Policy) com especialização política na América Latina, da School of Advanced International Studies (SAIS). Atualmente escreve no Correio Braziliense. ⠀

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