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De volta às ruas, outra vez em defesa da democracia ameaçada

O conluio entre o capitão e os generais

Por Ricardo Noblat Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 jul 2020, 18h53 - Publicado em 1 jun 2020, 08h00

Quando será mesmo que o general Fernando Azevedo e Silva, ministro da Defesa, emitirá mais uma nota oficial para dizer em nome das Forças Armadas que elas não apoiam o governo do capitão que expulsaram dos seus quadros por indisciplina e conduta antiética, mas que apoiam, sim, a Constituição e a ela continuarão fieis?

Nos últimos 40 dias, ou menos do que isso, foram três notas oficiais com esse mesmo teor, cada uma mais vaga e ambígua do que a outra. O problema é que Azevedo e Silva virou um militante político bolsonarista, de resto como os demais generais ministros do governo, alguns postos originalmente ali para deter os excessos do presidente acidental.

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Diga-se: os excessos e a fome de poder do mau militar, assim classificado pelo ex-presidente Ernesto Geisel, que no passado, planejou atentados à bomba contra quarteis para reivindicar aumento de salários para a soldadesca. Às escondidas dos seus superiores, ele complementava o seu soldo associando-se a garimpeiros no antigo Estado do Mato Grosso.

Agora, às claras, sob o estímulo da farda que um dia avacalhou com seus atos, Bolsonaro subverte a ordem que as Forças Armadas dizem que prezam, semeia o ódio entre os seus devotos e tenta abastardar as demais instituições da República. Nos fins de semana, a Praça dos Três Poderes, em Brasília, transformou-se em palco exclusivo dos seus delírios.

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A essa altura, a quarta nota do general já não apascentará os espíritos inquietos dos que assistem ao avanço do autoritarismo sobre a democracia duramente reconquistada. Está viva na memória do país as muitas vezes que os militares bancaram aventuras golpistas – a mais recente, em 1964, a pretexto de salvarem a democracia ameaçada.

Por formação, são conservadores e elitistas. Sentem-se mais capazes do que os civis. Consideram-se responsáveis pelos destinos do país. Não engoliram até hoje o fracasso da ditadura de 64 e a humilhação de terem sido obrigados a voltarem à caserna. De volta ao poder com o ex-capitão, querem que ele governe por quatro e mais quatro anos.

São seus avalistas. Ou melhor: seus mantenedores. Sabem muito bem que os civis partidários de Bolsonaro poderão abandoná-lo de uma hora para a outra se o governo não resistir às dificuldades que enfrentará daqui para frente. E, por mais que digam o contrário, o fracasso do capitão será também o fracasso dos generais. Elementar.

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Abominam essa hipótese, portanto. E se no momento reverenciam a Constituição, não é garantido que assim procedam caso se vejam outra vez forçados a bater em retirada. É improvável a ditadura de um capitão. Mas não é o regime forte liderado por um capitão que desperta em parcela do povo seus instintos mais primitivos e obscuros.

O único fato novo que desperta a esperança de que o avanço do autoritarismo ainda possa ser detido é o retorno às ruas dos que se limitavam a protestar nas redes sociais. Foi o que se viu, ontem, em algumas cidades. As ruas eram até então território exclusivo das milícias do capitão anarquista. Tudo indica que deixarão de ser a partir das próximas semanas.

A publicação de manifestos e de abaixo-assinados serve mais para marcar o tempo em que foram concebidos, e lustrar a biografia dos seus autores. Mas em certas ocasiões, é nas ruas, para o bem ou para o mal, que se escreve a história.

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