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As ondas e a credibilidade

Pode ser forte, agora, a tentação de confundir questões sociais e preocupações fiscais. Se isso ocorrer, os pobres poderão sair perdendo

Por Ricardo Noblat
Atualizado em 30 jul 2020, 18h52 - Publicado em 15 jun 2020, 11h00

Editorial de O Estado de S. Paulo

O mundo se levanta e volta a se mover, mas poderá ser novamente derrubado por uma segunda onda de covid-19. O alerta, válido para todos, está no panorama da economia global recém-lançado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), com sede em Paris. Sem novo tombo, o produto mundial encolherá 6% neste ano e crescerá 5,2% em 2021. Com segunda onda, a contração será de 7,6% em 2020, com recuperação de 2,8% no próximo ano. Em qualquer caso, o desafio é mais complicado no caso do Brasil. Além de enfrentar a pandemia e tentar vencer a recessão, o governo terá de manter a credibilidade, sinalizando claramente o compromisso de retomar a disciplina fiscal – o cuidado das finanças públicas – ao sair da crise. De todos os déficits, o de credibilidade pode ser o mais danoso para o futuro do País.

A situação do Brasil parece menos feia quando se comparam apenas as projeções de retração econômica e de recuperação. Com apenas uma onda de covid-19, o Produto Interno Bruto (PIB) do País deve diminuir 7,4% em 2020 e crescer 4,2% em 2021. No caso de segunda onda, o recuo poderá chegar a 9,1% neste ano, com reativação de 2,4% no próximo.

Na média, a economia dos 37 países-membros da OCDE, avançados e emergentes, deve encolher 7,5% na melhor hipótese e 9,3% na outra. Algumas grandes economias europeias devem ter desempenho bem mais feio que o do Brasil. França, Itália e Reino Unido podem ter recuo pouco superior a 11%, na hipótese mais benigna, e na faixa de 14%, na menos favorável. Mas essa comparação pode ser enganadora.

Ao entrar na crise da covid-19, o Brasil já estava em situação bem pior que a da maior parte das economias emergentes e desenvolvidas. Seu desemprego era o dobro da média da OCDE, de 5,5% em março. Com o impacto da crise, a desocupação média nesse conjunto de países subiu para 8,4% em abril e continuou bem abaixo da taxa brasileira, superior a 11% da força de trabalho. Mesmo com algum ajuste técnico, a situação brasileira continuaria pior.

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Além disso, o Brasil, como se lembra no relatório da OCDE, estava “finalmente recuperando-se de uma longa recessão” e agora, segundo se projeta, está no rumo de outra ainda mais profunda. Mas as fragilidades brasileiras são mais amplas. Pela estimativa da organização, o déficit geral das contas públicas do País, incluídos os juros, deve saltar de 5,9% do PIB em 2019 para 14,5% neste ano e 7,2% em 2021, se a crise sanitária ficar limitada a uma onda.

Investidores e financiadores estarão de olho nesses indicadores e, principalmente, na orientação do governo. Será prudente, portanto, deixar logo clara a disposição de retomar já no próximo ano a política de arrumação das contas públicas, avaliou o economista Jens Arnold, responsável na OCDE pelo acompanhamento de Argentina e Brasil, em entrevista à correspondente Célia Froufe, baseada em Londres.

A confiança na política fiscal, lembrou o entrevistado, facilitou a redução de juros básicos e a gestão da dívida pública. Ninguém perderá a confiança por causa das medidas excepcionais neste ano, acrescentou, mas todos estarão atentos à próxima etapa da política. A redução de juros, poderia ter observado o economista, foi um ganho importante para o Brasil, nos últimos anos. Seria insano desperdiçar esse ativo. No Ministério da Economia e no Banco Central todos sabem disso. Falta ver se esses fatos serão considerados pelo presidente da República, por seus conselheiros políticos e pelo Centrão.

As políticas de enfrentamento da crise, no Brasil, são em geral bem avaliadas. O economista Jens Arnold elogia o apoio a trabalhadores e empresas mais vulneráveis e as medidas estaduais e municipais de isolamento. Esta seria, segundo ele, uma boa ocasião para desenhar uma política mais ampla e permanente de transferência de renda. O ministro da Economia tem falado sobre isso. Mas é melhor ter cuidado. Pode ser forte, agora, a tentação de confundir questões sociais e preocupações fiscais. Se isso ocorrer, os pobres poderão sair perdendo.

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