Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Noblat Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Coluna
O primeiro blog brasileiro com notícias e comentários diários sobre o que acontece na política. No ar desde 2004. Por Ricardo Noblat. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Ao Deus dará (Por Hubert Alquéres)

Cadê o ministro?

Por Hubert Alquéres
Atualizado em 18 nov 2020, 19h59 - Publicado em 9 set 2020, 11h00

Dois meses depois da posse do ministro Milton Ribeiro, pouca coisa mudou. É verdade que a retirada de Abraham Weintraub da sala tornou o ar mais respirável. Nem por isso a Educação deixou de padecer da ausência de uma liderança capaz de criar um amplo consenso nacional em torno da prioridade que a ela deve ser dada. Em especial, nesses tempos de pandemia.

O pastor Milton está mais preocupado com as 900 ovelhas de sua igreja presbiteriana em Santos, como mostrou reportagem recente do jornal Folha de S.Paulo, do que com o rebanho de milhões de crianças e jovens que podem ter seu futuro comprometido se não houver forte apoio da União aos estados e municípios, na volta às aulas.

Negligência oficializada pelo presidente Jair Bolsonaro ao vetar a previsão de apoio técnico e financeiro aprovada pelo Congresso na Medida Provisória sobre a flexibilização do ano letivo. A MP tinha sido aprimorada pelos parlamentares, o que permitia um aporte estimado em R$ 5 bilhões tanto para o ensino remoto como para o retorno das aulas presenciais.

A omissão do ministro em apoiar de forma decisiva os estados e municípios para mitigar os efeitos perversos da pandemia chega a ser criminosa quando se leva em consideração dados do respeitadíssimo Education At Glance, da OCDE. Este é o levantamento mais sério do planeta sobre a situação da educação no mundo inteiro.

Sua última edição acaba de ser divulgada e o Brasil está muito mal na fita. A OCDE aponta que no nosso país a desigualdade, que já é alarmante, vai aumentar mais ainda porque é na rede pública que o impacto negativo da Covid 19 se faz mais forte. O desafio para a retomada das aulas presenciais em condições seguras é imenso. Segundo o levantamento, no ensino fundamental I ocupamos a vergonhosa posição de ser o 10° país com maior número de alunos por sala de aula, entre os quarenta pesquisados. No caso do fundamental II, o vexame é maior: somos o sexto país com maior número de alunos em sala de aula.

Somos ainda um dos oito países que ainda não retomaram as aulas presenciais. Não é estranho, portanto, que a desigualdade entre os alunos do Brasil e dos países da OCDE tenha aumentado, com a pandemia.

Continua após a publicidade

Esse quadro tão perverso não faz parte das preocupações do ministro. Sua prioridade absoluta deveria ter sido lutar para evitar o veto do veto do presidente, isso porque a suspensão do suporte de cinco bilhões de reais prejudica 39 milhões crianças e jovens que estudam nas creches e no ensino básico das redes estaduais e municipais. Por outro lado, o Ministério da Educação acenou com a possibilidade de abrir mão de R$ 55 milhões para o Ministério da Defesa, dobrando o orçamento das escolas cívicos-militares.

Do ponto de vista educacional, estas escolas já são ilhas de excelência dentro do setor público e não dar prioridade aos setores mais carentes só encontra explicação no desejo incontido do ministro de agradar ao presidente.

No lugar prescindir de recursos, o MEC deveria lutar por mais verbas para a educação. E concentrar a batalha no orçamento de 2021. É na peça orçamentária que se concretizam as prioridades de um governo. A Defesa só não ficou com um orçamento maior do que a Educação – conforme era a intenção de Bolsonaro – porque educadores, parlamentares e a sociedade civil se mobilizaram e levaram o governo a recuar.

Ao ministro Milton Ribeiro caberia a missão de brigar no interior do governo para reverter essa distorção. Mas em vez de ser protagonista do processo, recolhe-se a um silêncio tumular.

Com todo mal que causou a Educação, Weintraub ao menos reclamou quanto a possibilidade de cortes da verba do seu Ministério. Já o pastor Milton não dá um pio. Até agora também não explicitou suas ideias e metas.

Continua após a publicidade

Repete-se na batalha do orçamento o que aconteceu com o Fundeb. O MEC foi o grande ausente, abdicou de seu papel de protagonista. Na linha de frente pelos interesses da Educação estão educadores, parlamentares e organismos da sociedade civil, como o Todos pela Educação e o Contas Abertas.

O ministro pode arguir em seu favor que contraiu a Covid 19, embora isto não o tenha impedido de acompanhar o presidente em visitas a quartéis ou de subir no púlpito virtual de sua igreja.

Mesmo quando tem um ativo a apresentar, como o programa de levar internet para 400 mil alunos carentes do ensino superior, Ribeiro se furta a se comunicar com a sociedade e de mobilizar o setor em torno do grande objetivo de propiciar as condições materiais para a volta às aulas. Sua presença na entrevista coletiva à imprensa no anúncio da medida se deu como no discurso de posse: de forma ligeira e superficial, durante cinco minutos.

Como pastor, tudo bem que zele pelos fiéis de sua igreja, mas como ministro deveria cuidar de nossas crianças, até porque delas é o Reino dos Céus, ou melhor, o futuro do Brasil.

 

Hubert Alquéres é membro da Academia Paulista de Educação, escreve às 4as feiras no Blog do Noblat.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.