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Murillo de Aragão

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O Brasil pode dar a volta por cima no debate sobre a questão ambiental

Por Murillo de Aragão Atualizado em 4 jun 2024, 13h37 - Publicado em 18 jun 2021, 06h00

O Brasil ainda não encontrou o seu lugar no mundo. O que não é de todo mau, já que não estamos preparados para a dinâmica da política internacional. Localizado numa esquina mal iluminada do planeta, o país ainda é um ator periférico, embora com o título de segundo maior produtor de alimentos do planeta. Apesar de potencialmente rico, não está na primeira divisão do desenvolvimento social.

Após a I Guerra Mundial, o Brasil percebeu quão periférico era, mesmo tendo sido importante no fornecimento de matéria-prima durante o conflito. Na II Guerra, voltamos a despertar a atenção do mundo não apenas pelas matérias-­primas, mas também pela posição estratégica das bases militares no Nordeste. Depois disso, retornamos à periferia, até o surgimento da questão ambiental, que nos alavanca de forma incômoda ao palco principal do debate. O que nos leva a pensar que o mundo pode nos dar uma oportunidade única de inserção “premium” nas questões mundiais. A economia sustentável vai provocar divisões claras. E nossa inserção deve se dar a partir de posições afirmativas, como a de que o meio ambiente e a economia sustentável são um excelente negócio para um país pobre, desigual e com imensos problemas.

“Poluímos menos, temos uma matriz energética mais limpa e emitimos um terço do carbono que a China emite para fazer o mesmo produto”

Para tal, o debate em torno do meio ambiente deve ultrapassar o cercadinho dos ambientalistas e passar a ser um tema da vida de todos. Como fazê-lo? O ponto inicial é a educação, no sentido de que o meio ambiente é essencial para a vida e o desenvolvimento econômico e social do país. O segundo ponto central é considerar que o meio ambiente não é só a floresta e os animais. O ator central da questão é o ser humano. Por isso toda a política ambiental deve ter a humanidade como foco. O terceiro ponto é que, a partir de uma determinada consciência ecológica e social, abre-se um mundo de oportunidades econômicas que resultam em trabalho, impostos e divisas.

Em que pese o Brasil estar com uma imagem queimada na questão, nosso ponto de partida é muito melhor do que o da maioria dos países desenvolvidos. Poluímos menos, temos uma matriz energética mais limpa e emitimos um terço do carbono que a China emite para fazer o mesmo produto. Somos, do ponto de vista ambiental, muito mais eficientes. E temos uma cobertura vegetal superior a 50% do território nacional e 18% da área territorial distribuída em mais de 2 500 áreas de conservação ambiental.

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Além disso, temos experiências relevantes em reciclagem de alumínio que podem ser aplicadas a outros produtos, como as embalagens plásticas. Recentemente o Brasil aprovou uma Lei de Saneamento. O tratamento adequado do lixo é um campo com imensa potencialidade econômica. As oportunidades no campo ambiental, consequentemente, são extraordinárias.

Portanto o cenário que se apresenta é estimulante. Uma abordagem pragmática e prioritária sobre a questão ambiental nos trará desenvolvimento econômico e social, desde que a questão, naturalmente, seja tratada com realismo, cautela e dentro dos melhores interesses nacionais. Entre eles, o de usar adequadamente nossos recursos naturais em favor do desenvolvimento humano do país. Não há outro caminho.

Publicado em VEJA de 23 de junho de 2021, edição nº 2743

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