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O ‘Olavo de Carvalho argentino’ engolirá o sistema ou será engolido?

O performático economista Javier Milei criou um personagem que fala palavrões, detona a 'classe política de m****' e o levará ao Congresso

Por Vilma Gryzinski 7 set 2021, 08h15

Ele está falando sério? É candidato de verdade? Usa peruca? Quem vê Javier Milei pela primeira vez se faz muitas perguntas dessa natureza.

“Olá a todos, eu sou o leão”, disse no domingo, ao encerrar sua campanha às primárias da eleição legislativa de novembro.  Umas quinze mil pessoas o aplaudiram o inusitado candidato pela frente Avança Liberdade.

Com os cabelos eternamente revoltos e jaqueta de couro, Milei poderia ser confundido, nos seus 50 anos e uma silhueta algo volumosa, com os vários políticos argentinos de passado roqueiro, real ou imaginário – inclusive o presidente Alberto Fernández.

Quando abre a boca, a confusão se esclarece. O rock pesado dele é de outra natureza. “Há pouco mais de um mês, pedi que rugissem forte e vocês conseguiram, porque a classe política está toda borrada”, disse ele no comício. A palavra usada não foi exatamente borrada.

“Classe política de m****, bandida, parasitária, jamais irei contra a propriedade privada, contra a liberdade, aumentar um imposto”.

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Os palavrões, a linguagem sem freios e as ideias libertárias são alguns dos pontos que o aproximam de Olavo Carvalho, no auge. Impressão aumentada depois que Eduardo Bolsonaro tuitou uma manifestação de apoio – “em meio ao escândalo da suspensão da partida então entre Brasil e Argentina”, anotou o La Nación, tentando estabelecer algum nexo misterioso entre os dois fatos.

“Não só adoramos deixar os esquerdistas loucos, mas também nos une a liberdade”, escreveu Bolsonaro filho em espanhol fluente.

Se o deputado brasileiro e o futuro deputado argentino estivessem numa partida imaginária, para manter o tema, Javier Milei teria a vantagem de um repertório muito mais sólido.

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Mas certamente ele tomou algo emprestado dos Bolsonaros, especialmente o pai, no campo do discurso sem freios, um “dom natural” no presidente brasileiro, cultivado em Milei.

Como um professor de economia, ex-goleiro do Chacarita Juniors e cantor numa banda de sucesso zero, se tornou um clone dos populistas de direita que comem mel e cospem abelhas?

Fazendo a lição de casa, com uma carreira em instituições financeiras importantes, universidades, nove livros e nenhuma vontade de virar um “gravatão”, uma das muitas mentes brilhantes que circulam nesse meio ambiente e só aparecem como aspas rápidas em reportagens da seção de economia.

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Ao decidir levar Adam Smith e a Escola Austríaca para o povo, em escaldantes programas de debates de rádio e televisão – “Você poderia ler meus livros, mas se o fizesse não os entenderia”, disse a uma jornalista que dividiu um desses palcos -, Milei também criou o personagem que diz ser instrutor de sexo tântrico.

Quando dispara que o keynesismo é “um lixo” e chama o modelo cepalino de “porcaria” – duas linhas de pensamento econômico que ganharam uma espécie de versão alucinada na Argentina -, a audiência pode não entender exatamente qual é a mensagem, mas dá risada com o estilo do mensageiro.

A mensagem antigoverno reverbera principalmente entre um público bem jovem, inclinado a abrir os braços – e os ouvidos – ao discurso “anarcocapitalista” de Milei. Contra o aborto e o Banco Central, a favor do casamento gay e da liberação das drogas, ele chacoalha qualquer audiência.

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“Antes, ser rebelde era ser de esquerda e agora o status quo é de esquerda. Por isso, os mais jovens, que são rebeldes, abraçam o contrário das ideias de esquerda”, teoriza.

Para a esquerda no poder, através da ala kirchnerista do peronismo, Milei pode até ser útil, levando votos que iriam para a coalizão Juntos Pela Mudança, a principal força de oposição, igualmente chicoteada pelo economista que vestiu o figurino de outsider.

Se for eleito, como muito provavelmente será, Javier Milei será apenas mais uma figura folclórica no Congresso e acabará engolido pelo sistema que abomina, o destino quase inexorável dos rebeldes que entram nele?

Se o leão virar um gatinho, será uma decepção, mas não uma surpresa. Mas a percepção da política como show business, e num país altamente criativo em matéria de crises como a Argentina, ainda vai render boa diversão. 

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