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O melhor – e algo do pior – da propaganda política americana

De Brad Pitt a paródias de filmes, a campanha fervilha com os anúncios de televisão e Donald Trump é o mais negativo, um mau sinal para ele

Por Vilma Gryzinski 28 out 2020, 08h21

A melhor peça de propaganda política de todos os tempos nem é da campanha presidencial: mostra Dan Crenshaw, deputado republicano e ex-comandante SEAL da Marinha, promovendo a candidatura de antigos companheiros de armas.

Numa paródia da série Vingadores, ele sai para uma missão especial, salta de helicóptero, faz piadinhas típicas dos filmes do gênero. O olho que perdeu no Afeganistão ganha superpoderes.

Nada se compara a um personagem como Crenshaw, mas a seis dias da eleição, a propaganda política está pegando fogo.

A campanha de Joe Biden tem muito mais dinheiro e domina os espaços na televisão, que obviamente são pagos, não gratuitos como no Brasil.

Só para dar uma ideia dos estonteantes números envolvidos: os gastos com os mais de cinco milhões anúncios de tevê e internet chegam a oito bilhões de dólares. Na arrancada final, eles praticamente ocupam todo o tempo dos comerciais entre a programação. 

A campanha de Donald Trump não conseguiu os efeitos viralizantes dos anúncios pela internet como em 2016, mas está tentando.

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Uma das peças mais engraçadas mostra Joe Biden como um “cavalo de Tróia do socialismo”.

A montagem deliberadamente tosca coloca a cabeça do candidato democrata no falso presente dos gregos tal como reproduzido num dos piores filmes de todos os tempos, Tróia.

Em resposta, Brad Pitt, o Aquiles do filme, fez a narração de um anúncio com o clássico apelo a todos os americanos, acima dos partidos políticos, mostrando Biden como o presidente que vai  “entender suas esperanças, seus sonhos, seu sofrimento” e governar para todos.

Na voz de Brad Pitt, os lugares-comuns são bem convincentes.

A primeira propaganda política pela televisão foi feita por Dwight Eisenhower em 1952. 

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Em preto e branco, sem nenhuma sofisticação, o ex-comandante supremo das forças aliadas expedicionárias na Europa responde a supostos eleitores comuns – uma tática usada até hoje.

Numa das peças da campanha de Trump, uma mulher não-branca simplesmente vai mostrando cartazes com mensagens bem diretas: “Estou preocupada com Joe Biden, ele é fraco”,  “Biden aderiu a propostas da extrema esquerda”, “Biden vai aumentar os impostos”, “Dar anistia a onze milhões de imigrantes ilegais”, “Tenho medo de falar isso em voz alta”, “Não vou arriscar o futuro dos meus filhos com Biden”.

Os cartazes praticamente são um resumo dos argumentos de Trump contra o adversário, embora estejam entre as peças menos agressivas.

Destacar apenas os defeitos do oponente, sem se apresentar como uma alternativa muito melhor, é considerado um exercício dos candidatos em desvantagem, como é o caso de Trump.

Geralmente, por estarem no poder, disputando, portanto, com adversários que podem se apresentar como mensageiros das boas notícias e promessas melhores ainda, em oposição aos que têm os ônus de governar – com destaque, no caso de Trump,  para a devastação em vidas humanas e empregos por um agente destruidor como o coronavírus.

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Dentro do espírito de mostrar cidadãos comuns, a campanha democrata fez uma peça bem-humorada com um suposto eleitor arrependido de Trump.

Sem camisa, fumando um cigarro não convencional e com fala meio enrolada, ele diz que nunca, jamais votou num democrata, mas se Joe Biden por acaso saísse da eleição e uma lata de tomate entrasse em seu lugar, votaria na lata só para derrotar o presidente.

O alvo é evidente: homens brancos sem educação superior (chamados de WNC, as iniciais em inglês) são os eleitores mais fieis de Trump. Mostrar um estereótipo exagerado deles pode ter algum efeito positivo?

A essa altura, vale tudo.

Inclusive uma paródia de filme de terror, usando uma entrevista real em que Joe Biden se irrita com a pergunta de um apresentador negro – “Faria um teste de capacidade cognitiva?” – e retruca que seria o mesmo se o entrevistador tivesse que fazer um teste sobre uso de cocaína. 

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Na propaganda, a imagem dele some e começa a aparecer, ominosamente, atrás do apresentador, numa cena clássica das narrativas de terror.

Uma das peças mais fortes da campanha republicana continua a ser a intitulada “O que está acontecendo com Joe Biden”. Mostra flagrantes do candidato quando era apenas alguns anos mais moço, e outros com suas falhas de memória e confusões de linguagem.

Os democratas responderam com um filmete em que Trump aparece segurando um copo d’água com as duas mãos e descendo uma rampa com passos hesitantes – isso antes da recuperação a jato da Covid-19.

Na realidade, Trump, aos 74 anos, está fazendo três comícios por dia com uma energia impressionante. Parece se renovar com a adoração do público que grita “Superman”, “SuperTrump” ou “Nós te amamos”.

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Biden, a menos de um mês dos 78 anos, aguentou bem os dois debates com Trump. Já saiu vitorioso só por não demonstrar nenhuma das falhas cognitivas exibidas em outras circunstâncias.

Depois que o resultado sair, e por muitos anos mais, a influência da propaganda de cada um deles será analisada pelos especialistas em busca de lições para o futuro. 

Nos dias finais da campanha, o que conta é o volume. 

“A quantidade de dinheiro dos dois lados é tão grande que a eficiência não importa”, disse ao Los Angeles Times um ex-assessor próximo de Barack Obama, Dan Pfeiffer.

Se eficiência importasse, Dan Crenshaw estaria eleito presidente.

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