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Biden e o paradoxo do poder

Eleitos por seus méritos, poderosos perdem inibições ao chegar lá

Por Vilma Gryzinski 12 set 2021, 08h00

“Não existem governos perfeitos. Uma das maiores virtudes da democracia, no entanto, é que seus defeitos são sempre visíveis e, em processos democráticos, podem ser apontados e corrigidos.” A frase é de Harry Truman, um dos sujeitos mais humildes a se tornar presidente dos Estados Unidos. Ao vice apagado que assumiu o lugar do gigantesco Franklin Roosevelt coube uma sequência quase inacreditável de decisões, como mandar jogar duas bombas atômicas no Japão, encerrar o último capítulo da II Guerra Mundial, abraçar a política de contenção do comunismo e, por causa dela, colocar os Estados Unidos na Guerra da Coreia. Diante dessa definição tão honesta e simplória das imperfeições dos governos e do exemplo de jogo limpo deixado por Truman, seria recomendável a Joe Biden que parasse de fazer a imitação de grande líder que tem tentado emplacar e apertasse o comando de reiniciar. A oratória repetitiva, os lugares-comuns e o tom defensivo dos últimos discursos só ressaltam a limitação de seus recursos intelectuais e, contraditoriamente, a fraqueza da posição em que colocou a si mesmo ao decretar que a saída do Afeganistão deveria ser feita da maneira desastrosa como aconteceu.

Nos momentos piores, o presidente deixou entrever reações coléricas, inconsistências morais e até indiferença pelo destino de cidadãos americanos que não foram resgatados a tempo ou mesmo indiferença pelos treze militares mortos por um homem-bomba no aeroporto de Cabul. O modo como ficou olhando o relógio a cada caixão que desembarcava contradisse dolorosamente a figura pública cujo “atributo principal é a empatia”, na definição entusiástica de seu chefe de gabinete, Ron Klain.

“O presidente deixou entrever reações coléricas, inconsistências morais e até indiferença”

Como um político matreiro, com quase meio século de experiência em todos os corredores do poder em Washington, que adora conversar, consolar e — na era anterior à atual — abraçar eleitores (e eleitoras), pode tomar atitudes tão prejudiciais a si mesmo? Uma das explicações é que talvez a persona pública que ele construiu não coincida com a personalidade revelada em particular, de temperamento irritadiço, obsessão por detalhes e inapetência para assumir a responsabilidade pelos erros.

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Outra explicação poderia ser o “paradoxo do poder”, a hipótese formulada por Dacher Keltner, professor de psicologia de Berkeley, sobre o efeito desinibidor do poder. “Incontáveis estudos mostram que escolhemos os indivíduos mais modestos e generosos para nos liderar”, diz um de seus adeptos, o historiador holandês Rutger Bregman. “No entanto, assim que eles chegam ao topo, em geral o poder lhes sobe à cabeça — e boa sorte para se livrar deles depois disso.” Segundo Bregman, os detentores do poder agem como se fossem portadores de um distúrbio chamado sociopatia adquirida e são “mais impulsivos, autocentrados, negligentes, grosseiros e arrogantes que a média”. Também têm menos vergonha, “não manifestando aquele fenômeno de expressão facial que torna os homens únicos entre os primatas”. Não ficam vermelhos. Eleito por causa da imagem de político correto e equilibrado, sem a estridência de Trump, Biden certamente não é o único a perder a imagem que o levou à Casa Branca — e a capacidade de corar de vergonha.

Publicado em VEJA de 15 de setembro de 2021, edição nº 2755

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