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A “lista da China”: banco de dados tem ficha do planeta inteiro

Empresa chamada Zhenhua Data faz o maior “Quem É Quem” do mundo, com perfis de 2,4 milhões de pessoas que ocupam posições importantes

Por Vilma Gryzinski 15 set 2020, 07h29

Quem estiver fora pode até lamentar. Os maiores “influencers” do mundo estão fichados nos arquivos da Zhenhua Data, a empresa chinesa que levantou a ficha de todo mundo que conta.

E é um bocado de gente, não pela quantidade em si, mas pela eficiência da Zhenhua, cujas atividades foram denunciadas por um “um ativista anti-China”. O jornal The Telegraph e uma empresa de ciber-segurança da Austrália puderam ver os arquivos de 250 mil dos “fichados”. Entre eles, 52 mil americanos, 35 mil australianos e 40 mil britânicos. 

O nome do listão é Banco de Dados de Indivíduos-Chave no Exterior. A empresa, baseada em Shenzen, tem centros de processamento em mais de vinte países.

Para se promover, descreve como os dados levantados podem ser usados como “armas na guerra de inteligência” para “moldar as percepções das pessoas e redesenhar sociedades”. É de arrepiar.

Todos os países fazem listas sobre personalidades estrangeiras, geralmente uma tarefa das embaixadas e dos agentes de inteligência lotados nelas como diplomatas. Uma lista de perfis sobre o Brasil, por exemplo, certamente incluiria o presidente Bolsonaro, seus filhos, o vice, os líderes do Legislativo e do Judiciário, congressistas que presidem comissões mais importantes, empresários e outros nomes de destaque em áreas estratégicas como energia, mineração, agricultura e meio-ambiente.

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O impressionante é o alcance da “lista da China” – ninguém duvida que a empresa particular trabalha para o governo e, se alguém duvidar, a missão da Zhenhua é descrita como “contribuir para o grande rejuvenescimento da nação chinesa”. “Rejuvenescimento” é a palavra usada para o projeto hegemônico da segunda maior potência do mundo, com aspiração de ser a primeira.

A lista dos britânicos inclui não só políticos, como, em alguns casos, seus filhos e outros familiares, além de contatos potencialmente complicados como no caso de Boris Johnson (um amigo, Darius Guppy, que em 1990 foi gravado propondo, de brincadeira, quebrar as costelas de um jornalista).

Diz o Telegraph: “Os dados incluem nomes, data de nascimento, histórico escolar, currículos profissionais, condenações na justiça, contas em redes sociais e outras informações levantadas na internet por programas de computador”.

Tom Tugendhat, parlamentar conservador que concentra atividades nas críticas à China e foi um guerreiro da batalha que acabou tirando a Huawei dos 5G no Reino Unido, está num dos primeiros lugares da lista. Sua mulher também.

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A lista da realeza é até ingênua. A rainha, claro, aparece em primeiro lugar; em segundo Diana, a princesa morta há 23 anos. O príncipe Charles aparece bem na fita, como escritor, pintor, jogador de polo, piloto de helicóptero, empreendedor, entre outras atividades que ele cultiva.

Aparece também um neto da rainha, Peter Philip, filho da princesa Anne que não tem título de nobreza e normalmente não figura em listas de membros importantes da família real. Detalhe: ele fez recentemente um comercial para uma empresa chinesa de produção de leite.

Curiosamente, foram levantados também nomes de chefões do crime organizado.

Mas os acadêmicos que estão ocupados atualmente em derrubar os marcos da civilização britânica – e ocidental – não precisam se preocupar.  A lista da Zhenhua não inclui historiadores, sociólogos, professores de literatura ou ocupantes de cátedras que começam com a palavra”estudos”.

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A empresa se concentra em cientistas, especialmente da área de computação e inteligência artificial. Além, claro, de epidemiologistas e pesquisadores.

Na área militar, o foco, tanto na Grã-Bretanha quanto nos Estados Unidos, é em integrantes da Marinha. Sem nenhuma coincidência,  a disputa territorial pela hegemonia chinesa é travada no Mar da China Meridional, o teatro de operações mais complicado e disputado da era contemporânea.

O alcance da lista é “espantoso” e as ferramentas usadas são “tecnicamente complexas e avanças”, segundo Christopher Balding, acadêmico que morou e deu aulas na China usado como ponte entre a fonte que vazou os dados e os serviços de inteligência reunidos na designação Cinco Olhos (Estados Unidos, Canadá, Grã-Bretanha, Austrália e Nova Zelândia).

O “Quem é Quem” da Zhenhua, que pode até deixar alguns vaidosos enciumados por não aparecer na lista, é apenas um exemplo do alcance extraordinário desenvolvido pela China no campo da inteligência. Fica o aviso.

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