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Jöel Dicker: ‘Diversão combina com literatura’

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Por Simone Costa
Atualizado em 31 jul 2020, 03h19 - Publicado em 10 ago 2014, 08h35
O escritor Joël Dicker (Foto: Divulgação)O escritor Joël Dicker (Foto: Divulgação)

 

Após quatro romances rejeitados, o suíço Jöel Dicker, 29 anos, teve seu primeiro livro, Les Derniers Jours de Nos Pères (sem edição no Brasil), publicado em 2012. Em seguida, lançou A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert (Intrínseca), best-seller que já vendeu mais de 2 milhões de cópias no mundo. O segredo do sucesso? Nem o próprio autor sabe explicar. Em sua passagem pela Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), Dicker deu a dica de que se existe um ingrediente secreto, talvez seja a diversão. “A literatura francesa passa essa imagem de que não se pode ter diversão durante a leitura porque a literatura é algo sério”, disse em entrevista ao blog VEJA Meus Livros. Enquanto o autor tentava desvendar o mistério, na Livraria da Travessa em Paraty, loja oficial do evento, seu livro era um dos mais procurados pelos visitantes. Resultado: Harry Quebert ficou em décimo lugar entre os mais vendidos da Flip 2014. Confira a entrevista completa com Dicker e uma lista com os 10 livros mais comercializados na tradicional festa de Paraty.

Este é o seu segundo livro publicado, mas você escreveu outros quatro romances que foram rejeitados pelas editoras. O que acha que havia de errado com as outras histórias e por que o thriller de Harry Quebert funcionou? Quando eu escrevi meu primeiro livro eu tinha 20 anos. O fato de eu ter tentado uma vez, ter sido rejeitado por todas as editoras, ter tentado novamente e ser rejeitado outras vezes foi algo muito bom, uma lição para trabalhar mais duro, lutar pelo que eu queria e um incentivo para pensar fora da caixa. O que estava errado em meu trabalho? Por que não estava conseguindo atingir os objetivos que tinha, que era ter um livro publicado e que atingisse o público? Se meu primeiro livro não tivesse sido rejeitado, eu nunca teria escrito Harry Quebert. O primeiro tinha um estilo muito francês, pequeno, meio autoficcional. Ter esse livro rejeitado me fez pensar em outras saídas. Eu percebi que o que queria era contar uma boa história.

Qual o segredo do sucesso de Harry Quebert? Gostaria de ter uma receita para usá-la no próximo livro. No início de 2012, lancei Les Derniers Jours de Nos Pères. Seis meses depois, publiquei Harry Quebert.  Meu editor leu o original e me disse que queria publicá-lo logo na sequência porque acreditava no sucesso do enredo. Como o mesmo editor, a mesma empresa, no mesmo ano decide publicar um livro de um autor que tinha acabado de lançar outro sem muita repercussão? O primeiro vendeu 1.000 cópias. O segundo vendeu naquele ano 1,5 milhão de exemplares. Então, não tenho resposta para essa pergunta. É muito impressionante para mim. Posso dizer que um escritor não tem de escrever um best-seller. Tem de escrever um livro. São os leitores, os jornalistas, os críticos que fazem o trabalho se tornar conhecido e se transformar em um sucesso.

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Marcus Goldman, protagonista do seu livro, é um autor jovem, que tem a sua idade e fez um sucesso enorme com o primeiro livro. Virou uma celebridade. Foi um tipo de premonição? Na verdade, eu queria fazer algo distinto porque já temos muitas histórias em que os autores são retratados em sua miséria humana, infelizes, divorciados, alcoólatras. Quis criar um escritor de sucesso, um cara feliz. Não estava tentando imaginar minha vida ou quanto de sucesso eu atingiria. Nós vivemos em um mundo em que há problemas econômicos, terrorismo, poluição. Vemos isso nos jornais todas as manhãs. Por que não um livro com um cara que curte seu trabalho e se sai bem nele. Pode parecer estúpido, mas queria uma atmosfera bacana para meu personagem, a despeito do que acontece a sua volta, como a suspeita de assassinato que recai sobre seu amigo.

Goldman, depois do primeiro sucesso, passa por um sério bloqueio criativo. Você escreveu seis livros em menos de uma década. Tem medo de sofrer desse mal um dia? Eu tenho bloqueios frequentemente. Mas é algo bom, não é algo que me paralisa completamente como acontece com meu personagem. Eu paro e me questiono sobre a qualidade do meu trabalho ou se eu estou indo na direção correta, se o enredo está se desenrolando bem. Todas essas questões são importantes. São bloqueios que me ajudam a parar para refletir e ver o progresso do que estou fazendo. Todos os obstáculos que você enfrenta, faz você aprender algo.

Por que decidiu ambientar a história em uma cidade dos Estados Unidos. Não é mais difícil criar um enredo em um ambiente que não é o seu? Há duas razões para isso. A primeira é que é um lugar que eu conheço bem porque já passei muito tempo lá. Sei como é a atmosfera daquele lugar. Mas o mais importante é que esse é meu sexto romance, mas é o primeiro em que uso a primeira pessoa. Eu pensei: como posso garantir que os leitores não me confundam com Marcus? Havia certo medo em mim de que as pessoas criassem links entre o personagem e o autor. Não queria que o leitor pensasse que o lugar onde Marcus toma seu café é o mesmo aonde eu vou todas as manhãs, por exemplo.

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Não tem nenhuma relação com um alter-ego então? Somos ambos autores, somos da mesma geração, nascemos nos anos 1980. Para mim, ainda é difícil, talvez ainda tenha de aprimorar minha escrita para conseguir escrever na primeira pessoa sobre um personagem muito distinto de mim, uma mulher idosa, vamos supor, e fazê-lo crível. Sei que ao escrever na primeira pessoa sobre um homem que nasceu nos anos 1980 me faz ser mais real porque é o que sou.

Em uma entrevista à The New Yorker, você afirma que a literatura francesa é chata. Por quê? É engraçado porque tive uma conversa com a repórter da revista fora do contexto do que foi publicado depois. O que eu quis dizer foi outra coisa. Aqui no Brasil, vejo que as editoras de livros estão a todo vapor. Na Europa, o mercado editorial vai mal e isso é preocupante. Minha questão é sobre como podemos fazer as pessoas lerem mais. Temos de mostrar às pessoas que ler pode ser divertido, prazeroso. Como podemos fazer isso se sempre dizemos a elas que diversão não combina com literatura, que é proibido se entreter lendo um livro. A literatura francesa passa essa imagem de que não se pode ter diversão durante a leitura porque a literatura é algo sério. Claro que é algo sério, mas também pode se trazer algum entretenimento. Falta história na literatura francesa e o resultado é que o cinema tirou os leitores dos livros. Com isso, as livrarias estão sendo fechadas, o mercado editorial está morrendo. É um desastre.

Li também que você considera um elogio e não uma crítica quando alguém diz que seu livro é do tipo que se lê rápido. Um page-turner (virador de página, em tradução literal). Quando o livro foi lançado na edição em francês, a primeira crítica que tive foi algo do tipo “ah, esse livro é um page-turner”. Perguntei a mim mesmo para que serviria um livro que não tivesse as páginas viradas pelos leitores? Então é isso: se ninguém ler significa que é um bom livro? E é o que estávamos falando antes: para a literatura francesa, um livro agradável, que o leitor queira ler rapidamente, é algo ruim. Isso é preocupante e é uma péssima mensagem enviada aos jovens, aos estudantes. Como vamos fazer os jovens lerem mais se damos a eles livros que eles não gostam de ler? Se eles perceberem que podem se divertir lendo, lerão mais e vão começar a perceber o que gostam e escolher o tipo de livro que querem.  Eles lerão livros de mistério, suspense, mas também chegarão aos clássicos como Melville e vão gostar de Moby Dick e assim vão ler outros autores.

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